Sócrates é tristíssimo e necessário

Estreia dia 26/09 um filme que tem uma história de produção bem interessante. É o primeiro longa de Alexandre Moratto e foi produzido pelos jovens do Instituto Querô, que trabalha com capacitação de adolescentes em situação de risco em Santos, litoral de SP, no audiovisual. O mais interessante: Sócrates, o filme em questão, tem muito da realidade desses jovens. Ou seja: é um filme sobre a realidade de uma juventude periférica com lugar de fala. E, adendo: o jovem protagonista é gay.

Sócrates (Christian Malheiros), o protagonista

Sócrates (Christian Malheiros), o protagonista

Detalhes que fazem a diferença: Sócrates também é o nome de um mito do futebol. O jogador e militante político irmão do Raí, que morreu precocemente aos 57 anos, era torcedor do Santos FC na infância, apesar de ter nascido no Ceará e mudado para Ribeirão Preto, interior de SP. E jogou pelo Santos entre 1988 e 1989. O nome do personagem, apesar disso nunca ser dito no roteiro, pode vir disso.

Maicon (Tales Ordakji) e Sócrates (Christian Malheiros)

Maicon (Tales Ordakji) e Sócrates (Christian Malheiros)

O longa, feito com orçamento mínimo e em apenas um mês de filmagem, nas férias desses participantes do Querô (eles ainda são estudantes), não faz concessões. Já começa tenso e não espere refresco. Só que é necessário. Não é um filme para desanuviar, não é um filme para animar. É um filme sobre amadurecimento mas não cai na armadilha de um final feliz hollywoodiano. Realista, cumpre a função de abrir a nossa cabeça de privilegiado a respeito de outras realidades distantes da nossa. A comunidade LGBTQ brasileira é muito maior que o nosso umbigo, e pelo que vemos por aí, em Twitter, em textão de Facebook, ainda nos falta muito para articular como um todo, incluindo essa grande parte marginalizada.

E não dá para esquecer de falar do trabalho do ator Christian Malheiros. Ele também é um dos protagonistas da série do Kondzilla da Netflix, Sintonia. E só por esses dois trabalhos, dá para ver que o cara é fera: versátil, de olhar intenso e expressivo, com uma qualidade de interpretação muito profunda.

Prestigie o cinema brasileiro, principalmente o cinema brasileiro de temática LGBTQ. Assista.

O que significa o fim da era Demna Gvasalia na Vetements?

Spoiler: a princípio, na minha opinião, nada.
Mas você, caro leitor, sabe o que é Vetements para começo de conversa?

Há 5 anos a moda tomava um susto: era a Vetements de dois irmãos da Geórgia (o país do leste europeu, não o estado dos EUA) que virava o hype da vez. Demna Gvasalia era o estilista e Guram Gvasalia segue atendendo como CEO da marca que usa a ironia e o streetwear jovem como principal apelo no seu caldeirão, pelo menos até agora. E é importante citar também a Lotta Volkova, stylist importante no desenvolvimento da estética deles durante esse tempo.

Nesse meio tempo Demna foi chamado para substituir Alexander Wang na Balenciaga para espanto de todos - e, espantosamente, se deu bem, injetando essa sua verve irônica na marca que já tinha história e técnica de modelagem na sua origem, virou o maior hype em seu renascimento pelas mãos de Nicolas Ghesquière na virada dos anos 1990 para 2000 adentro (ai, Gabi, só quem viveu sabe…) e na versão de Wang ficou muito autorreverente (a melhor coleção de Wang foi a última, um boudoir chic que deixou a gente com um gosto de quero mais na boca - por que só ficou bom no fim?). Demna fez coisas como a bota-meia com estampa de notas de dinheiro, a sacola da Ikea (lembra??), o crocs plataforma, o brinco-alfinete de segurança…

Agora Demna deve seguir na Balenciaga mas anunciou sua saída da Vetements. A marca atualmente tem sua base em Zurique (?! que imposto menor é esse, minha gente? Será que Zurique é o futuro?) e Guram anunciou em comunicado oficial reproduzido pelo WWD que eles sempre foram “um coletivo de mentes criativas. Vamos continuar a ampliar os limites para ainda mais longe, respeitando os códigos e os valores autênticos da marca, e seguir apoiando criatividade honesta e talento genuíno".

Mas quais são os códigos & valores da Vetements?
Ela sempre assumiu um papel provocativo nesses cinco anos, quase sádico: fez o pessoal da moda ir em apresentações em lugares como McDonald's ou no darkroom de um clube de sexo gay; fez o pessoal da moda ter que comentar (e usar!) looks com logos da transportadora DHL ou do videogame Playstation. Exagerou o oversize, a ombreira; adiantou a volta da estética anos 1990. Não é que a Vetements (e consequentemente Demna) vê a poesia do cotidiano e a romantiza, nem que ele transforma o que seria de "mal gosto” em desejável como é o caso de Miuccia Prada. Ele simplesmente recontextualiza o comum; dá status fashion ao que não tinha esse status. É um jogo de copy-paste e ganha quem fizer o copy-paste mais absurdo e impensável.
É a cara da ironia hipster dos anos 2000.
Mas será que em apenas 5 anos essa ironia vetemânica que abalou Paris… cansou Paris?
Meu palpite é que ainda não.

Primeiro que Demna deve seguir com esse caminho na Balenciaga, onde ele possui o back up de um ateliê minucioso que dá as suas loucurinhas o acabamento exato para elas se transformarem em loucurinhas de luxo, carérrimas.
Segundo que a Gucci também faz quase isso com mais poesia e romantismo (e sucesso); e a Moschino também faz quase isso com menos finesse (e mais referências pop e espetacularização, portanto com resultado mais popular).
Porém, e a Vetements, vai continuar nessa sem Gvasalia?
É uma situação complicada: se não tiver um sucessor para dar cara a tapa (e à marca), assinando como coletivo, a Vetements pode parecer mais diluída, uma versão menor da era Demna. Se tiver um sucessor e ele seguir na mesma ironia, pode parecer reducionismo. E existe uma forma diferente de ironia? Ou a pessoa que assumir esse cargo pode ter um trabalho que ironiza a ironia anterior - coisa que seria bem hipster.
Ou a Vetements vai deixar de ser irônica. O que seria bem irônico.

It's like raaaaaaaaaainnnnn

It's like raaaaaaaaaainnnnn

Fui para Belém e esqueci de vocês

Sim, não teve post durante esse tempinho porque estava passeando em Belém!
Não tenho dicas turísticas muito diferentes do comum, do que você vai encontrar por aí nos guias e pela interwebsss, mas decidi falar um pouco da minha experiência em forma de dicas porque o povo adora uma dica, né? Mesmo que seja repetida! kkkk Então vamos a elas:

#1: Não vá no restaurante do Mangal das Garças

O Mangal das Garças é bem lindo, você deve ir se puder. Porém o restaurante Manjar das Garças é bem mais ou menos e caríssimo. O lado bom é que tem vários pratos no buffet e você pode experimentar tudo numa tacada só. Porém mais bacana comer em lugares mais, digamos, típicos, sem guardanapo de pano, não?
Tem um outro restaurante no Mangal, mais para o fundo dele, perto do borboletário. Não sei se é bom pois não comi lá, mas sem dúvida é mais barato, se bater a fome.
Ah, tem atrações pagas lá, tipo o próprio borboletário, a torre… Na minha opinião vale pagar, é só R$ 5 cada. É tudo bonito.

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Paulistano é foda

Não pode ver um calanguinho que já sai batendo foto

#2: Deixe o regime de lado

Preciso evitar comer muito por recomendações médicas - reprovei no exame de check-up kkkk MAS uma das coisas mais evidentes na cultura paraense é que a culinária é muito rica. Então pula o regime enquanto estiver lá. Amei tacacá (foto 2, meus colegas de viagem odiaram), gostei de açaí com peixe (foto 1, meus colegas de viagem odiaram parte 2), curti a dormência que fica na boca com o jambu. Pato no tucupi foi mais complicado porque não gosto de pato. Só que acho que você devia experimentar de qualquer jeito. Ah, e também adorei arroz com maniçoba, só não comi mais porque… regime! Afff!
E peixe: coma peixe. O filhote de lá é tudo.

#3: OK, mas então onde comer?

Olha, eu comi duas vezes no mercado Ver-o-Peso, que é mais ou menos como comer num boteco no sentido de ambiente, conforto e animação - se você não tiver frescura recomendo fortemente. E existe outra dica, dada por um uberista, que foi show.

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Esperando a bóia das lindas

Filhote, um peixe que adotaríamos

#4: Converse com o uberista, com o taxista, com a vendedora da barraquinha de tapioca, com a mesa do lado - converse

Foi conversando com o pessoal e superando a antissocialidade que a gente descobriu, por exemplo, o Apoena, que recebe a alcunha de centro cultural mas para a gente funcionou como um bar com música ao vivo. Tem comida (típica) e quando a gente foi tava tocando um caribó mara. Dá para ver que ele é frequentado por locais, então melhor ainda. Só que não sei quando você vai ver esse post e as coisas mudam de tempos em tempos. Sorte a nossa que o povo do Pará, pelo que percebi, gosta muito de falar sobre a própria cidade e cultura, gosta de indicar lugares. O taxista também tinha indicado, por exemplo, o Mormaço, que fica do lado do Mangal das Garças - parece que ia rolar uma aparelhagem ou algo assim lá, mas acabamos perdendo a hora porque o fervo ia acontecer meio que cedo. Pelo nome já dá vontade de ir, né? Mormaço!!!

Caribó no Apoena

Caribó no Apoena

#5: As coisas levam tempo

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Prédio que a gente achou

entrando numa porta que a gente nem sabia se podia entrar no Museu de Arte Sacra

A gente foi com um casal de amigos e a nossa amiga Camila Barros falou uma coisa que ficou na minha cabeça: Belém é uma cidade de texturas. Não é aquela coisa bonitinha restaurada. Para observar e ver a beleza disso você precisa ver as coisas com calma, não adianta passar por tudo correndo. Mesmo a gente, que foi em somente um fim de semana, curtiu os tempos um pouco mais estendidos. Observe. E para observar direito, se acalme, adapte-se a outro ritmo. Não adianta ver tudo rápido e ir ticando na listinha - no fim, você vai ter uma lista toda ticada e poucas experiências de fato.

#6: Como é o Ver-o-Peso na real?

É um mercado de verdade. E com isso quero dizer que não é um espaço gourmetizado e limpo, tipo o Mercado Municipal de SP depois da reforma. Tem cheiros, tem vida, tem frequência, em uma parte dele parece um camelódromo. E também existe a parte do artesanato local, a parte das mesinhas para comer ou beber uma cerveja, a parte das águas de cheiro, dos banhos de ervas… Ah, todo mundo diz para puxar papo com a dona Coló. A gente não puxou - acho que ela estava meio aérea, nem estava na barraca dela direito. Acontece.
E não esquece de atravessar a rua e ir no Mercado de Ferro, uma estrutura muito linda. É lá que vendem carne. A gente viu um restaurante lá dentro, também, mas não comemos. Deve ser bom!

Mercado de Ferro

Mercado de Ferro

#7: E os museus?

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São Miguel Arcanjo

No Museu de Arte Sacra

Quando fui no Museu de Arte Sacra já estava curtindo muito a cidade, então dificilmente ia achar ruim. É bem bacana, principalmente por causa da alta carga católica da cidade - você percebe isso inclusive pela quantidade de padre e freira que circula por lá, mesmo fora da época do Círio. Então acho que faz parte para entender essa questão da religiosidade de Belém, principalmente se você não foi para lá por causa do Círio.
Também fui no do Forte, é pequeno mas também acho que vale - reúne achados arqueológicos encontrados em escavações na própria área do Forte, que pelo que entendi antes foi um assentamento indígena.
Dica: nessa região do centro antigo, vá bem cedo. Às 13h estava tudo fechando!

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Muiraquitãs

no museu do Forte

#8: E a Estação das Docas?

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Cada Cairu que passa

é um copinho novo

Se você quiser muito curtir um ar condicionado, tomar uma Amazon Beer e um sorvete da Cairu, OK. Se não for esse o caso…
Aliás, Cairu: é verdade esse bilete, tem que tomar sorvete toda vez que passar na frente da sorveteria Cairu, experimentar todos os sabores, é mesmo uma delícia, arrase. Existem várias espalhadas pela cidade.
E quanto à cerveja: tome a Tijuca, é uma delícia, e é a que os locais também gostam pelo que notei. Amazon Beer não experimentei, fiquei tão doido na Tijuca que nem liguei para as outras.

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Isso não é um publi

mas poderia: fica a dica para a Tijuca

#9: Você gostou?

Amei e voltaria. Que bom que o Brasil tem Belém do Pará. Recomendo fortemente. Em um momento em que está tão difícil ser patriota e ter orgulho do país, Belém é uma joia. Obrigado por existir!

Um disco incrível está ganhando uma reedição em vinil

Já falei aqui o quanto adoro a Tracey Thorn e também já enumerei Amplified Heart, um dos álbum do Everything But The Girl (dupla de Tracey com o marido Ben Watts), como um dos discos que marcaram minha vida.
Mas o álbum que veio na sequência de Amplified Heart, o Walking Wounded de 1996, também foi muito importante para mim.

Para quem não sabe, a foto da capa e essa são do brasileiro Marcelo Krasilcic. Marcelo fez fama no exterior como fotógrafo e trabalhou para diversas publicações internacionais. Confira outros trabalhos no site dele

Para quem não sabe, a foto da capa e essa são do brasileiro Marcelo Krasilcic. Marcelo fez fama no exterior como fotógrafo e trabalhou para diversas publicações internacionais. Confira outros trabalhos no site dele

Para mais contexto sobre a minha relação com o disco: Amplified Heart saiu em 1994, e era ele que trazia o super hit Missing. Mas Missing só ganhou remix de Todd Terry, que ganhou as pistas, em 1995. Naquela época sem as facilidades da internet, Missing chegou ainda mais tarde por aqui. Em 1996, do alto de meus quinze aninhos, fui para Atlanta visitar minha irmã Ana Flávia Wakabara, que estava morando lá por um ano para aprimorar o inglês. Eram as Olimpíadas, a minha primeira viagem para o exterior, a primeira viagem sozinho (só encontrei minha irmã lá).

A minha irmã já tinha o CD do Amplified Heart. Foi uma das trilhas sonoras dessa viagem, ao lado do The Stonewall Celebration Concert do Renato Russo. Não lembro exatamente quando que achei e comprei Walking Wounded, mas na minha fantasia foi um pouco antes das férias do meio do ano seguinte, 1997, quando fui fazer intercâmbio de um mês em Londres.
Foi meio que nessa hora que a música eletrônica virou outra coisa para mim. O poperô das 7 Melhores da Jovem Pan e a drag music que eu ouvia com RG falsificado nas boates GLS (na época a sigla era essa) agora iriam conviver com drum 'n’ bass, Prodigy, Chemical Brothers - o cool britannia não era só britpop mas também todo esse som da pista. Ainda em Londres, entrei no mítico clube Ministry of Sound sem poder (tinha 16 anos!!) com uma carteirinha de albergue de uma carioca chamada Daniela.
A minha vida agora ia ter roupas de nylon da Slam, colarzinho de bolinhas de metal e a coleção da Triton que era bem streetwear, com blusas que eu adorava (uma tipo jaco da Adidas azul clarinha com detalhes em preto e laranja e um suéter cinza mescla com faixas também em laranja). Eu ia pintar a franja do meu cabelo comprido de azul. E ia ler Noite Ilustrada da Erika Palomino toda sexta - só não ia no Hell's porque era meio cagão.

Era uma época de descobertas.

Nesse meio tempo, o Everything but the Girl, também conhecido como EBTG, já tinha sido muita coisa. Começou jazzy com namoricos com bossa nova, virou meio new romantic em seu segundo álbum, no terceiro gravou com uma orquestra no estúdio famoso da Abbey Road com resultado meio primo de Burt Bacharach e Phil Spector, nos seguintes assumiu uma versão meio Alpha FM de si mesmo, tipo o que as pessoas chamavam de “pop adulto contemporâneo” porque não conseguiam achar outro termo para aquilo! Depois de Walking Wounded virei fã de vez do EBTG de vez e busquei as coisas mais antigas, gosto muito de algumas.

Enquanto gravava Amplified Heart, Tracey e Ben "cometeram” duas músicas para os reis do trip hop Massive Attack: Protection e Better Things. Isso, ao lado do remix de Missing, virariam pontos de transição para Walking Wounded. Protection é uma das músicas mais lindas que tem para você ouvir na sua vida, e apesar de ter sido composta na época do medo da Aids e poder ser lida dessa forma, dizem que Tracey a escreveu pensando em Ben, que em 1992 foi diagnosticado com uma rara doença autoimune chamada síndrome de Churg-Strauss e passou por uma cirurgia que removeu cerca de 80% do seu intestino, fazendo-o passar por um longo período de convalescença. Confira:

E aí chegamos em Walking Wounded em si, com sua capa icônica e músicas não tão icônicas mas que formam um conjunto poderoso, um retrato e uma estética de uma época; e que agora está sendo relançado em formato vinil em novembro.

Logo na primeira música, Before Today, tudo fica claro: com batidas e melodia nitidamente eletrônicas, Tracey canta que não quer isso, não quer aquilo, não quer aquilo outro. O que ela quer? O amor do interlocutor. O resultado não é necessariamente dançante, também não é música de lounge para ouvir ao fundo sem prestar atenção. No fim, ela diz que achava que seu coração era mais duro… até hoje. Ou seja, uma das coisas que correm por todo o disco é o tema romântico - desmistificação da ideia de música eletrônica como desprovida de sentimento, incapaz de passar emoções.
Em seguida vem o primeiro single, Wrong.

Um jogo de estica e puxa; quem tudo quer nada tem. A letra conta de um casal que precisa alinhar expectativas, a voz de Tracey diz que vai seguir o interlocutor para onde ele quiser porque ela estava errada. É a música desse álbum que tentou ser a nova Missing, mais uma vez com remix de Todd Terry, e até fez sucesso mas nada comparado ao hit mundial anterior.

Watts, depois do diagnóstico e da cirurgia que citei, ficou mergulhado em computadores e sintetizadores no seu período mais recolhido. E no processo de composição do Walking Wounded, já recuperado, mergulhou na cena dos clubes de eletrônica levando Tracey junto. Para essas músicas, especificamente, usou um sampler Akai, um sintetizador, um computador, um violão, um microfone e uma mesa de oito canais.
Esse post do Pitchfork fala bastante sobre todo esse processo do Walking Wounded. É interessante como a autora Ruth Saxelby o lê como um disco bem pessoal, com todas as questões do casal naquele momento vindo à tona.

Uma outra das minhas preferidas desse disco é Mirrorball, o que na verdade é um pouco incongruente porque é uma das que mais se aproxima da fase mais acústica do EBTG apesar da produção bem eletrônica:

Não sei porque gosto tanto, acho que é mais a melodia. A música parece bem autobiográfica sobre Tracey, com ela relembrando seus tempos de adolescente e tentando ser mais condescendente consigo mesma, tipo "águas passadas não movem moinhos". É fofa.

Outra que gosto muito é Single - é sobre, pelo que entendo, aqueles períodos em que o casal precisa ficar separado. Viagem de trabalho, coisas assim.

And how am I without you?
Am I more myself or less myself?
I feel younger, louder
Like I don’t always connect
Like I don’t ever connect
— Tracey Thorn em Single

Ouça o disco inteiro:

Um lugar utópico pelos garotos do pet shop e anos e anos

Saiu o primeiro single do novo álbum do Pet Shop Boys. A dupla também prepara para 2020 uma turnê de greatest hits (que tudo!) no Reino Unido (affff). Nesse single, chama a atenção o feat, com Years & Years (a banda, não a série, mas de certa forma existe ligação, daqui a pouco digo) e o tema.

No dueto de Dreamland com a voz inconfundível de Neil Tenant e o vocalista do Years & Years Olly Alexander, eles falam sobre uma utopia: um lugar onde todo mundo é bem vindo, onde se pode ir e vir. Uma clara referência a como as minorias e, principalmente, refugiados vem sendo tratados. Portanto é daí que existe ligação à série de TV Years and Years, na temática que reflete sobre a situação política atual.

They say it’s a free land / and they welcome everyone to stay
— Olly Alexander em Dreamland

Mas o legal é que não deixa de ser uma música pop dançante, que você pode curtir de forma hedonista sem pensar tanto na letra.
Fora que a junção de Pet Shop Boys e Years & Years é um bálsamo para as gay, né? Danço sem nem ouvir a música, só de pensar! Para quem não sabe, tanto Tenant quanto Alexander são abertamente gays, e fazem músicas para todos - mas como gays têm bom gosto, a gente ama mais. Risos.
(é uma brincadeira, tá? hoje em dia é bom avisar)