Olivia d'Abo: TV não!

Você lembra desse rostinho?

olivia-dabo.jpg

Ligeiramente familiar, né?
Ela era a irmã hippie de Kevin Arnold em Anos Incríveis.
Sobe o som.

O que talvez você não saiba sobre Olivia d’Abo é que, além de ser a Karen Arnold, essa inglesa também já foi cantora. E já namorou (e ficou noiva de) nada menos que Julian Lennon no começo dos anos 1990, paralelamente ao seu trabalho em Anos Incríveis!

olivia-dabo-julian-lennon.jpg

Olha esse casal!

Olivia & Julian

A música Help Yourself de Lennon lançada em 1991 conta com backing vocal de d’Abo:

E olha que coincidência interessante: a mãe da Olivia, a atriz e modelo Maggie London, aparece no filme Os Reis do Ie-Ie-Iê (1964) dos Beatles, banda do pai de Julian!

Olivia deve grande parte da sua carreira à TV: além de Anos Incríveis, outro papel importante dela foi na série Lei e Ordem: Crimes Premeditados. Só que o seu álbum, o único lançado até hoje, se chama… Not TV.

Essa música lançada em 2008 tem um gosto estranho de rock alternativo do fim dos anos 1990, não tem? Tipo Meredith Brooks. E para mim não tem nada de britpop. O que vocês acham?

Bom, o que fica, pelo menos na minha memória afetiva, é essa personagem maravilhosa.

A invasão holandesa de 1970

Existem dois momentos da invasão britânica.
Ah, não, não estou falando de guerra e invasão de território. Estou falando das paradas musicais americanas!

A primeira invasão britânica rolou a partir de 1963 e foi como uma onda. De Beatles a Rolling Stones até Animals, Zombies e Kinks passando por Dusty Springfield e outras mídias como o cinema (com Julie Andrews e 007) e a TV (The Avengers e The Man from U.N.C.L.E.), a moda de Swinging London (Mary Quant, as modelos Twiggy e Jean Shrimpton). O que vinha de lá era cool.
No fim dos anos 1960, a coisa foi se arrefecendo e veio a Guerra do Vietnã.

Aí teve a segunda invasão britânica. Preparada no fim dos anos 1970 por The Police e Dire Straits, ela começaria mesmo a partir de 1982. Human League, Soft Cell, Duran Duran, Billy Idol, Bonnie Tyler, Eurythmics, Culture Club, Wham! e George Michael em carreira solo… Até os filmes bem americanos da década voltados para adolescentes (chamados filmes dos Brat Pack, do qual faziam parte Emilio Estevez, Anthony Michael Hall, Molly Ringwald, Ally Sheedy, Rob Lowe, Andrew McCarty, Judd Nelson e Demi Moore) tiveram músicas inglesas: Don't You (Forget About Me) do Simple Minds para O Clube dos Cinco (1985); St. Elmo's Fire de John Parr para O Primeiro Ano do Resto de Nossas Vidas (1985); e Pretty in Pink de Psychedelic Furs para A Garota de Rosa-Shocking (1986).
(Amo os 3!)

Tem quem defenda que ainda houve uma terceira invasão britânica (meio dos anos 1990, com Spice Girls, Oasis, britpop em geral, Robbie Williams, cultura clubber e raver; era o Cool Britannia, que eu vivi alegremente rsrsrsrs). E tem quem defenda, veja só, uma quarta (a invasão do soul britânico a partir do meio dos anos 2000, com Amy Winehouse, Estelle, Joss Stone, Duffy, Adele, Florence Welch, Leona Lewis, Jessie J). Mas essas não chegaram a ser tão impactantes e influentes quanto as primeiras, e não são importantes para o que na verdade eu vim contar.
É que houve uma invasão holandesa que foi eclipsada pelas invasões britânicas porque aconteceu entre elas. E na verdade foi praticamente uma marola.

tulipa.jpg

A primeira música da invasão holandesa, e a melhor, é Venus do Shocking Blue. E sim, você vai reconhecê-la.

Quem canta é a gloriosa Mariska Veres, vocalista do grupo. Aí você diz: "Ué, mas essa música é do Bananarama!” Pois é, Venus foi regravada pelo Bananarama e também fez parte da… segunda invasão britânica. Mas antes virou febre no começo dos anos 1970, alcançou primeira posição nas paradas de diversos países (Estados Unidos, África do Sul, Austrália, Espanha, Canadá, Bélgica, Suíça). A curiosidade é que na Holanda ela só chegou a 3º lugar (e 2º na parada de singles).
Shocking Blue era uma banda boa de verdade. Um dos fãs era Kurt Cobain - o Nirvana regravou Love Buzz, que é da banda, como primeiro single lançado (em 1988) e a música ainda entrou no primeiro álbum deles (Bleach, em 1989).

Chique, né? E Mariska Veres é musa!

mariska-veres.jpg

Isso é o que chamo de

olho maior que a boca

Antes de continuar, é bom salientar que existe um nome por trás da tal invasão holandesa. Jerry Ross, o produtor do megahit Sunny do Bobby Hebb (que muitos anos depois ganharia uma versão cômica de Léo Jaime, Sônia, aquela do “não fica me excitando que eu tô de sunga"), estava fazendo um rolê na Suíça. Um jovem que tinha se mudado da Holanda para Genebra tava lá numa boate e pediu para o DJ tocar um disquinho que ele tinha levado. Ross estava na mesma boate, e na época queria hits europeus para lançar nos EUA pela sua gravadora recém-lançada Colossus Records. O disco era Ma Belle Amie, do Tee-Set.

Ross assinou com Tee-Set e ainda pescou Venus e Little Green Bag do George Baker Selection.
O Tee-Set também era uma boa banda. Seu próximo single, que fez sucesso na Holanda, era She Likes Weeds. Foi censurada nos EUA - I wonder why

Bom, perto de Shocking Blue e Tee-Set, o George Baker Selection é uma bobagem. Mas como tem gente que gosta de bobagem, fica aí o play por sua própria conta e risco:

Todas as 3 músicas alcançaram o top 40 da Billboard. Só que Ross fechou a Colossus em 1971!
E aí, acabou? Mais ou menos. Teve outras!
Em 1972, apareceu How Do You Do? da dupla Mouth & MacNeal. Talvez se tivesse um player no dicionário ao lado do termo hippie, seria isso que você ouviria:

No ano seguinte, 1974, as paradas receberam Hocus Pocus da banda Focus (sim, parece um trava-língua, eu sei). É engraçada, parece uma zoeira com rock progressivo mas na verdade era uma banda muito séria - até demais! kkkkk Mas ouve para você não ver se é engraçada:

Quem fecha a invasão holandesa é a banda Golden Earring com Radar Love em 1974. É engraçado porque se me dissessem que Venus e Radar Love foram compostas pela mesma pessoa (não foram), eu acreditaria. E no visual, Golden Earring está mais para Led Zeppelin do que para Beatles, sem dúvida:

Você conhecia alguma das bandas que apareceram aqui? Pois é! Babado!

E se você chegou até aqui, pode ser que se interesse pela música pop perfeita!

A primeira letra da sigla LGBTQ+ pelas mãos de João Pimenta

Na lógica do capitalismo, onde há oportunidade de mercado, é certo que uma hora ou outra alguém vai ocupar esse espaço.
Na lógica da arte e da criação, não é exatamente oportunidade que chama. Mas se você se propõe a um desafio, ele pode ser muito estimulante, revigorante, e funcionar como um norte. Você sabe mais ou menos onde quer chegar, pode ser que chegue em uma coisa bem diferente do que imaginava no começo mas, além do caminho proposto facilitar sua vida, ele pode te eletrizar.

Como continuidade da coleção anterior, aquela do manifesto contra a linha ideológica vigente no governo, João Pimenta decidiu dar visibilidade fashion nesse desfile do SPFWN48 para uma das letras LGBTQ+ que anda meio esquecida dos holofotes da passarela já faz um bom tempo. Mais exatamente o L de lésbica. Tipo um resgate do lesbian chic versão 2019!
(Mas só da passarela, o que é ainda mais estranho: entre mulheres importantes da moda, pelo contrário, pintaram vários casais lésbicos. Alguns já se desfizeram. Não sou revista de fofoca para ficar dando nome, mas é estranho que não tenha existido um movimento criador em busca de novas imagens correspondentes a esse despertar. Até existem opções, só que veladas, nenhuma declarada e com tanto destaque e atenção como João faz agora.)

Então primeiro João identificou uma fatia de mercado, e também uma brecha de criação, porque quando ele discutia gênero em passarela sempre puxava para a feminilidade no masculino, e não o contrário. Só que ele fez um processo que na verdade é bem parecido com o processo de figurino, uma área na qual ele está se esbaldando. Juntou um grupo de mulheres lésbicas e ouviu suas necessidades, suas vontades. Criou para elas. O resultado é uma das coleções mais sofisticadas que o estilista já cometeu, e que obviamente pode ser usada por quem quer que goste das roupas independente do sexo.

A primeira coisa que João descobriu é que do mesmo jeito que gay hoje em dia se autoproclama e chama seus iguais de bicha e viado, se apropriando do termo que antes era pejorativo, as lésbicas se autoproclamam sapatonas. Então ele já explica logo de cara “Foquei a coleção na sapatona."
Ajudou o trabalho da GA31, spoken word com humor, tem um ar de NoPorn e, especificamente na faixa Felizmente Sigo Sapatona, pega uma base parecida com o remix do hino It's Not Right But It's OK da Whitney Houston. Estava na trilha! Ouça:

Quais eram as necessidades e vontades das sapatonas? Algumas coisas são práticas: a alfaiataria vem com o ombro mais curto e uma modelagem que acomoda bem o peito mas também cai bem em quem não tem seio (inclusive meninos). Outras são bem fashionistas: a pochete, que João nunca tinha desenvolvido mesmo com a febre há algum tempo rolando. E os anos 1980, inclusive em mangas presunto! Foi uma ideia delas? "Sim, elas que pediram! Disseram: se tivesse uma manga presunto eu superusaria!", o estilista explica no backstage.
Existe essa ideia simbólica que a masculinidade está nos ombros largos e a feminilidade está nas ancas largas. Será que tem a ver? Não sei, foi algo que passou pela minha cabeça.

joao-pimenta-01.jpg

Procurando um look para casar, amiga?

Se joga!!! Todas as fotos são de Zé Takahashi, da Agência Fotosite

Além dos papos com esse grupo, João trouxe a simbologia de Lilith, a primeira mulher, feita do barro assim como Adão, expulsa do Paraíso, a cobra, a lua. É uma combinação feliz: traz os elementos figurativos característicos da moda dele e conversa com a desafiadora que transgride num mundo que espera uma mulher que veio da costela do homem, submissa, menor.

joao-pimenta-2.jpg

Prateado lunar

com cobras sinuosas, perigosas, maravilhosas

joao-pimenta-3.jpg

Fendas, vãos

Um jogo de abre e fecha

joao-pimenta-4.jpg

Calça oversize de festa

Dark finíssima

joao-pimenta-5.jpg

Pochete com renda

Por que não? Pochete é a nova clutch!

joao-pimenta-6.jpg

E essa camisa com essa harness?

Bem virginal… hihihihihi ;)

E ouça mais de GA31 que é bem legal!

Veja também:
O Cariri da Amapô
E Lilly Sarti + Modem!

O mundo não vai para a frente porque as pessoas não valorizam o fato de viverem na mesma época de BABYMETAL

Eu tenho duas palavras para você:
BABY
&
METAL.
O que você imagina o que isso significa?

make-kiss-bebes.jpg

Er, não exatamente. Mas também é mais ou menos isso. kkkkk
Antes de explicar, queria dividir esses links com vocês para vocês entenderem melhor essa mistura do Brasil com Egito; ou melhor, essa mistura do kawaii com o metaleiro. Seguem:

O que é kawaii?
O lado dark do kawaii
Pink ou Punk: a banda que quer democratizar o kawaii
Notícias estranhas do mundo Hello Kitty

Acho que para começar já está bom. Também gostaria de dedicar esse post para Fernandaxannn, a maravilhosa do Hollywood Forever TV,, que deve ser a minha única amiga que admira tanto o Babymetal quanto eu.
Então lá vamos nós.

babymetal.gif

Essa aí de cima é a formação original do Babymetal, de 2010. Yuimetal saiu em 2018, e agora a banda acaba de lançar um novo álbum chamado Metal Galaxy como dupla.

E sim, se você está se perguntando, elas fazem a linha Ramones: todas assinam com Metal no fim do nome. Sumetal e Moametal mais Yui surgiram numa mistura da cultura de idols japonesas e heavy metal na instrumentação.
Não sabe o que é idol? Então vamos voltar ainda mais a fita…

Na década de 1970, estreou no Japão o filme francês com Sylvie Vartan Cherchez l’Idole (1964).

cherchez-lidole.jpg

A premissa da história é até um pouco parecida com Help! dos Beatles, que sairia só em 1965: um personagem esconde um diamante em um violão que está na loja de instrumentos musicais, mas quando volta para pegá-lo, descobre que o violão foi vendido. Também parece com o longa Roberto Carlos e o Diamante Cor-de-Rosa. Ou seja, essa coisa de tesouro, música e perseguição talvez renda uma tese de mestrado!
Mas o filme nem importa tanto. O que interessa é a própria Vartan, que lançou a música La Plus Belle Pour Aller Danser com o longa. No Japão, o filme foi lançado sob o nome Aidoru o Sagase. A música vendeu pencas. E em seguida a indústria do entretenimento japonesa notou uma oportunidade que poderia ser preenchida com garotas jovens de look romântico cantando música pop. Adivinha como eles batizaram essas meninas? Aidorus - ou idols, em inglês.

O single que vendeu pencas

O single que vendeu pencas

Você já ouviu essa música? Talvez tenha ouvido e nem se lembra! Vem:

A partir daí, surgiram várias aidorus que para mim são a estética da era Showa! Fofitas, de cabelo todo no lugar, um mix de inocência e sensualidade. Da década de 1970 para frente, o Japão teria não só uma namoradinha, como a gente com Regina Duarte, e sim várias. Olha algumas que eu gosto:

momoe-yamaguchi.jpg

Momoe Yamaguchi

Que gracinha! Yamaguchi foi famosa por quase toda a década de 1970

miho-nakayama.jpg

Miho Nakayama

Fez mais sucesso entre os anos 1980 e 1990, acho os looks babadeiros

seiko-matsuda.jpg

Seiko Matsuda

Minha preferida por motivos de OLHA ESSE CABELOOO

yukiko-okada.jpg

Yukiko Okada

Outra que gosto por motivos de cabelo. Ela tem uma história muito trágica: se suicidou em 1986, em circunstâncias misteriosas

junko-sakurada.jpg

Junko Sakurada

A amiga & rival de Momoe Yamaguchi tem controvérsia forte em sua história: acabou casando na Igreja da Unificação do coreano Sun Myung Moon em 1992 e a partir daí sua carreira minguou

Para quem não conhece a Igreja da Unificação, essas cerimônias de casamento em massa organizadas pelo reverendo Moon juntam casais de jovens… que simplesmente não se conheciam antes.
É isso mesmo.
E diz Sakurada que está muito feliz. Segue casada até hoje.

Oh, well…

Confesso que analiso mais a comunicação visual das aidorus do que a música. Acho tudo um j-pop bem rasteiro, não consigo diferenciar uma da outra no quesito estilo - e provavelmente meu amigo Eduardo Maekawa vai xingar a mim e todas as gerações posteriores ao ler isso, mas FAZER O QUÊ, MENTIR EU NÃO VOU, PESSOAL.

Achar que a história das idols é um mar de rosas seria bem ingênuo, como já deu para perceber. Suas vidas são bem controladas, mais ou menos como acontece de maneira bem mais leve com as estrelas de k-pop hoje. Tudo o que você imaginar acontece: assédio, escândalos, drogas, a artista não pode namorar para alimentar o sonho dos fãs, a artista precisa namorar com a pessoa certa (que obviamente não é a que ela escolheu), colapso nervoso de tanto trabalho e estresse… Se hoje a coisa está um pouquinho mais liberal, reforço que existe uma conversa sobre pedofilia em torno dessa realidade das idols que as pessoas ficam fingindo que não perceberam.

Fui ao restaurante temático de um dos maiores grupos de idols atuais, o AKB48 (o nome é uma homenagem ao bairro de Akihabara em Tóquio e o número se refere à quantidade de integrantes da banda, 48 meninas que se revezam nas apresentações pelo país). A gente se assustou com o público: no lugar de garotas que imitam famosas, nos deparamos com uns salary men! Para quem não sabe, salary men é tipo “a galera do escritório”, mas são só homens. Engravatados. De meia idade. Num restaurante temático de uma banda de meninas!
Para quem quiser se aprofundar no assunto, recomendo o documentário Tokyo Idols - tem na Netflix.

tokyo-idols.jpg

Assistam!

É bem bom!

A cena do heavy metal japonês, em contrapartida, não é de hoje. O visual kei, uma coisa meio glam rock andrógina montadérrima em versão nipônica, existe desde os anos 1980. Parece-me que o visual kei foi essencial para o desenvolvimento do Babymetal, exemplificado por grupos como X Japan.

TUDO, né??? Eu axu!

TUDO, né??? Eu axu!

Tanto o visual kei quanto o BabyMetal caminham nessa linha de um heavy metal bem comercial - não é à toa que eu trouxe o Kiss para a conversa no começo do post. É pesado sim, mas envelopado da maneira mais marketeira possível. Bom, não tem como ser mais marketeiro ao inventar uma banda de heavy metal com garotas fofas cantando sobre chocolate, certo? Pop demais!

Nada de gírias tipo Tim Maia, que chamava maconha de chocolate (por isso a música dele, regravada por Marisa Monte). O hit do Babymetal Gimme Chocolate!! pede por chocolate, o doce mesmo, simples assim.

E é delicioso.

Existem variações pós-Babymetal. Uma das mais interessantes é a LadyBaby, de 2015, que contava com Richard Magarey, australiano mais conhecido como Ladybeard. Dá uma olhada…

Vou te dar um tempo para você se recuperar.

Nippon Manju é praticamente um jingle que estimula o turismo japonês, fala de doce (como o hit do Babymetal) mas um doce tipicamente nipônico (o nippon manju em si), tem um fortão cabeludo de voz infernal cross-dresser, tem coreografia…
É um babado.
Hoje o LadyBaby segue com outra formação (sem homens vocalistas) e Ladybeard tem uma dupla com Reika Saiki, que é uma menina com tudo de aidoru mas é fortona (!?). Eles são o Deadlift Lolita, que já veio para o Brasil na feira Anime Friends duas vezes (2018 e 2019).

Que tal?

Que tal?

Bom, depois disso, a personagem da Sanrio Aggretsuko, uma pandinha vermelha que trabalha num escritório e descarrega as mágoas do proletariado cantando heavy metal no karaokê, parece até algo bem comum. Falei mais de Aggretsuko, que conta com série na Netflix, nesse post aqui.

É isso. Prestigie o kawaii-metal, que é como as pessoas andam chamando tudo isso. <3 <3 <3

Se você chegou até aqui, talvez também se interesse pelo post de bubblegum pop!

Existe a música pop perfeita?

Há mais de um ano, em maio de 2018, matemáticos da Universidade da Califórnia declararam a descoberta de uma fórmula da música pop perfeita estudando 500.000 top 100 singles do Reino Unido entre janeiro de 1985 e julho de 2015 para determinar quais características eram as mais frequentes.

Muita coisa esquisita, né? Um single que entra nas paradas em 80º e não sai disso é material de estudo para descobrir os segredos de um pop perfeito? Se a universidade fica na Califórnia, por que caralhos eles foram olhar para as paradas do Reino Unido?

Segundo a Dra. Natalia Komarova, alguns segredos são:
. Cantora mulher
. Músicas mais felizes - aquela famosa canção para dar um up no domingo ensolarado
. Músicas dançantes, menos "acústicas”
Ela ainda fala, sobre as letras, que por mais que a quantidade de palavras negativas como kill e hate tenha crescido nas últimas 3 décadas, o público segue preferindo músicas alegres. Chora, Lana del Rey.

Eles ainda afirmam que esse algoritmo descoberto pode prever hits com uma eficácia de 86%.
Bom… De lá para cá, quem chegou ao topo da Billboard na parada de streaming?
Er…

this-is-america.gif

Entre maio e junho, o número 1 na parada de streaming da Billboard foi ocupado por Childish Gambino e sua inteligente e franca This is America. Quando XXXTentacion morreu, sua música Sad! substituiu This is America por duas semanas. Ela foi seguida por músicas do Drake. Ainda tivemos Eminem, Kanye West, Lil Wayne… O fim do ano foi dominado finalmente por uma mulher: Ariana Grande com Thank U Next.

thank-u-next.gif

Não diria que Thank U Next é necessariamente feliz, e vocês? Mas sim, é uma letra que reconhece a importância do passado, do aprendizado com cada relacionamento… Afff não acredito que estou analisando a letra de Thank U Next a esse ponto! kkkkkkk

Em 2019, tivemos Halsey com Without Me, a mesma Ariana com 7 Rings inspirada no standart My Favourite Things, Lady Gaga e Bradley Cooper com Shallow, Lizzo com Truth Hurts, Billie Eilish com Bad Guy, Jonas Brothers com Sucker mas quem dominou mesmo foi Lil Nas X com Old Town Road.
A música de Lil Nas X é feliz? Não sei dizer, mas é de festa, é meio revoltinha adolescente, quebrou o recorde anterior de semanas no topo do Hot 100 da Billboard que já foi de Mariah Carey com Boyz II Men (a One Sweet Day, que não é exatamente dançante) e de Luis Fonsi + Daddy Yankee + Justin Bieber (o onipresente spaninglish Despacito, que aprimorou o nosso vocabulário de espanhol ao lado das letras da Shakira, do RBD e de Alejandro Sanz).

Considero Old Town Road, One Sweet Day e Despacito bem diferentes entre si, todas com seus diferenciais maravilhosos. A Old Town Road original dura menos de dois minutos e agora a gente sabe que seu autor é gay, puxa um estilo que vem sendo chamado de country trap (!?), é carismático (basta ver suas redes sociais) e surgiu de redes sociais de Gen Z. Não subestimem o novo candidato a rei do pop, viu?
One Sweet Day é da ultimate diva Mariah Carey com Boyz II Men, portanto mistura certa latinidade possível para a época (1995) com o R&B que estava bombando. Mariah já era veterana. O eterno hit de todo fim de ano All I Want for Christmas is You havia sido lançado um pouco antes, no fim de 1994. E One Sweet Day é uma música de luto, quase um gospel sem sê-lo. Babado.
Despacito, bem… São dois latinos de verdade que falam espanhol de verdade com o principezinho que surgiu do YouTube. Sem Despacito talvez Anitta não teria conquistado esse espaço internacional que vem conquistando. Virou uma gíria que uniu o mundo: se você falasse despacito no fim de 2017 para um canadense, ele ia saber do que você estava falando. Claro que existiram diversos outros artistas latinos para que todo esse sucesso de Despacito fosse possível.
E é tudo música pop. Perfeitas, sim.

lil-nas-x.gif

Existe entre os gays o mito do pop perfection.
Eles dizem: Born This Way por Lady Gaga? Pop perfection!
Emotion da Carly Rae Jepsen? Pop perfection!
Blackout da Britney Spears? Pop perfection!
(acontece que eles costumam dizer que coisas são pop perfection sem muito critério; brigam entre si por causa disso; "tudo é histórico e nada mais importa além da minha opinião")

Essa é a propaganda do jogo Pop Up Perfection

Essa é a propaganda do jogo Pop Up Perfection

Mas essa história de perfeição pop sempre nos leva aos Beatles. Ou não. Sei lá, para mim leva!

São várias as músicas deles que para mim se encaixam no que a gente imagina que é pop perfection. Além dessa acima, tem Something, She Loves You, Help, Hey Jude (que eu acho um saco mas enfim)… Lista interminável.
Mas o que Lennon e McCartney consideram pop perfection?
John Lennon e também Pete Townshend (do The Who) já declararam que essa era a música pop perfeita:

Dançante?
Feliz?
Bom, tem vozes femininas.

No caso de Paul, ele já disse que sua música dos Beatles favorita é Here, There and Everywhere.

Mas a sua música favorita de todos os tempos é de outra banda contemporânea dos Beatles. Essa aqui:

E para mim Paul está certo: God Only Knows é total pop perfection.

Mas essas coisas variam. Para a gente, para a ocasião. Tem músicas que eu acho perfeitérrimas e não fazem tanto sucesso - então talvez precisemos rever essa ligação que a gente faz entre paradas e sucesso com a perfeição do pop. É relativo, provavelmente. Depende da sociedade, do momento histórico, das referências culturais em alta.
E falando em God Only Knows, reouvi uma música recentemente que cita essa e que eu acho uma delícia apesar de pouca gente conhecer.

Sabe o Ludov? Antes eles eram os Maybees e a Vanessa Krongold cantava em inglês. Se escreve Maybees mesmo, mas no Spotify estão como The May Bees.

Hum, acho que isso é assunto para outro post.