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Pra você é Dr. Dalto

November 07, 2020 by Jorge Wakabara in música

Minha cara, pra que tantos planos?
Dalto, pra quem não sabe, é médico anestesista mas deixou de praticar a profissão quando resolver seguir a carreira de cantor e músico. Ele é filho de compositor – seu pai, o poeta Dalton Medeiros, fez Canção do Nosso Amor com Silveira, que foi gravada por bastante gente.

Mas Dalto foi por outro lugar. Nos primórdios, ele fazia parte da banda Os Lobos. Por si só, já acho a banda em si muito legal. Fanny, uma das primeiras músicas lançadas por eles (do primeiro compacto, de 1968), já é de Dalto e Cláudio Rabello, a dupla que seguiria trabalhando junta, um clássico apagado da história do pop brasileiro.

Mas o que quero mesmo é saber do lado hit maker de Dalto (quase sempre com Rabello). Então vou mostrar aqui algumas músicas que ele fez: uma na inconfundível versão dele e outras com outros intérpretes. Vem!

dalto-muito-estranho.jpg dalto-pessoa.jpg

Flash-back, de 1971, com Cláudio Rabello e Ralph Guedes

A primeira versão saiu num compacto simples com o próprio, a primeira investida numa carreira solo de Dalto. Até vendeu bem, 50 mil cópias, mas ele não quis largar a faculdade de medicina que ainda cursava. Essa versão do Neguinho da Beija-Flor é irresistível, um pop quase pagode de 1995. Mas também tem a do Ira! do disco de covers da banda de 1999, Isso É Amor.

Morena, de 1973, com Cláudio Rabello

A primeira música desse disco de estreia da Simone, veja só, era de Dalto com Rabello! Mas ainda acho que ela tem um resquício muito forte de bossa nova e MPB, longíssimo do pop deles que consagraria hits. Sei que Carmen Costa regravou em 1980 mas não consegui achar a regravação pra linkar aqui. Nesse mesmo disco da Simone ainda tem Charada, uma das raras músicas de composição solo de Dalto, e Caminho do Sol, de Dalto e Mário Jorge.

Correção: Essas músicas não são do Dalto e sim de Daltony Nóbrega. Ele assinava, na época, domo Daltom ou Daltô. Por erro de digitação, saiu Dalto.
De qualquer forma, Simone já gravou Dalto: Muito Estranho nos anos 2000 e Leão Ferido em 1995.

Bem-Te-Vi, de 1981, com Cláudio Rabello

Quem lançou primeiro foi Renato Terra, no segundo álbum dele, o homônimo Renato Terra. Terra também é compositor e Bem-Te-Vi era a única do disco que não tinha dedo dele. Virou um sucesso: Chitãozinho & Xororó regravaram em 2014 em versão banquinho e violão numa dessas coletâneas; Leandro & Leonardo regravaram antes, em 1987; e também teve a versão de Yahoo em 1996. Acho um clima tão… Beto Guedes. Não?

Leão Ferido, de 1981, com Biafra

Queria que a Bethânia tivesse regravado, mas ainda não rolou – alô, Bethânia, grave essa música!
Foi lançada no terceiro álbum do Biafra, Despertar, de 1981. Essa música é TUDO, tanto que já foi regravada por Simone em 1995, versão chiquezona do álbum Simone Bittencourt de Oliveira – tá vendo, Bethânia, tô falando que é pra gravar, cara!
Biafra já tinha colocado a voz dele numa música de Dalto: Cigana, composição com Mentor, e Coração Vadio, parceria com o próprio Biafra. Ambas foram lançadas em 1980 no álbum homônimo Biafra. “Ciganaaa, me enganaaa"!

Vinho Antigo, de 1981, com Biafra

Outra da parceria entre Dalto e Biafra que saiu no disco Despertar de 1981, depois foi regravada por Célia nesse álbum de 2010 dela, O Lado Oculto das Canções. Já falei da Célia aqui no blog, eu adoro.
E sabe quem também já gravou, em 1982? Altemar Dutra, no disco Estranho Amor. <3
É bem abolerada, bem seresta de puteiro, ou seja: MARAVILHOSA.

Relax, de 1982, com Cláudio Rabello

É uma graça, e que eu saiba ninguém regravou, só existe a versão original de Dalto lançada no disco de 1982, Muito Estranho. Tem um coro bem popzinho, bem a cara do Dalto. Deixa a canção nascer bem antes do sol!

Muito Estranho (Cuida Bem de Mim), de 1982, com Cláudio Rabello

São tantas as versões que fiquei muito na dúvida sobre qual incluir aqui. Lançado originalmente em 1982 por Dalto, o superhit talvez seja a sua música mais famosa. Essa gravação da Martinha saiu em 1986. Também teve KLB em 2000; Roberta Miranda em 1994; Ângela Maria em 2011; Fábio Jr também em 2011; Simone em 2001; Nando Reis no disco Bailão do Ruivão (Ao Vivo) de 2001. Eita! Puro creme pop. Zuza Homem de Mello já disse que ela foi a música brasileira que passou mais tempo nas paradas. Não duvido – óbvio, não duvidaria do Zuza, né?! Um dos maiores jornalistas de música que o nosso país já teve, tá doido?
A minha versão preferida é a do próprio Dalto, com a da Simone logo depois e a do Fábio Jr (pois é!) em terceiro!

Brilho Novo, de 1982, com Cláudio Rabello, Robson Jorge, Lincoln Olivetti e Ronaldo

Escondida num álbum do grande Dudu França e com uma cara de Alpha FM maravilhosa (o arranjo é de um dos compositores, o mestre Lincoln Olivetti), essa música tem um refrão chicletão. É engraçado que nem Dalto regravou, só existe essa versão do França em registro fonográfico. Esse disco tem outras músicas de Dalto e Rabello, como Pernas pro Ar. Infelizmente não encontrei link pra mostrar!

Pessoa, de 1983, com Cláudio Rabello

Talvez seja a segunda música mais conhecida do Dalto hoje, justamente por causa dessa regravação de Marina Lima para o disco O Chamado de 1993. Marina encarnou a intérprete, pegou a canção e a fez eternamente sua – tanto que muita gente acha que é composição dela, mesmo! Dalto a lançou no seu segundo álbum, Pessoa, de 1983. E depois de Marina, nunca ninguém ousou regravar!

Espelhos d’Água, de 1983, com Cláudio Rabello

Essa versão da Patrícia Marx de 1994, do álbum Ficar Com Você, é POP NA VEIA, MERMÃO. Não tem como. É perfeita. Lançada primeiro pelo Dalto no disco Pessoa de 1983, é hit irresistível de karaokê e… de outros cantores, como Preta Gil em 2003, Beto Guedes em 1998 e… Frank Aguiar em 2007. Por que não, né?
Marx gravaria outra de Dalto em 1996, no álbum Quero Mais. É a música que dá título ao disco, composição dele com Nelson Motta.

Anjo, de 1983, com Cláudio Rabello e Renato Correa

Chega perto e diz…
Eu sei, se você tem uns 45 anos pra mais, você completou a frase automaticamente com ANJOOOO.
Sucesso da trilha sonora da novela Guerra dos Sexos na interpretação do Roupa Nova, teve versão da Deborah Blando no remake de Guerra dos Sexos de 2012 e também… a de Robinson Monteiro, que tinha o apelido de Anjo no programa Raul Gil. Sim, te lembrei disso. A dele é de 2001. De nada!

Veneno, de 1983, com Cláudio Rabello… versão em espanhol & inglês de Gretchen!

Sim. Tá passada?
Eu tô!
E o pior: agora que você sabe que é do Dalto e do Rabello, você vai ouvir e vai pensar… Não é que é, mesmo?

Onde é que a Gente Vai?, de 1984, com Cláudio Rabello

Música de novela e gravada apenas por Dalto no disco homônimo Dalto, de 1984 – fica a dica pros intérpretes kkkkk É meio safadinha, bonitinha, juro que acho que tem potencial de regravação.

Calor Humano, de 1986, com Ronaldo Bastos e Beto Guedes

Participação especial de Dalto no disco de Beto Guedes de 1986, Alma de Borracha, a música foi composta por Guedes, Dalto e Ronaldo Bastos. Dalto, que é de Niterói mas que eu sempre achei muito mineiro em sua musicalidade, faz aqui a ponte concreta pra Minas. Podia ter mais!

Maçãs de Vitrine, de 1986, com Cláudio Rabello

Você quer versatilidade? Toma. Cida Moreira cantando essa composição de Dalto e Cláudio Rabello com uma interpretação toda própria, tanto que nem parece algo da dupla! Pop oitentista, but make it cabaré bretchiano.

Extravios, de 1989, com Antonio Cícero

Sim, existe essa coisa chiquíssima: uma parceria de Dalto com o poeta Antonio Cícero, interpretada pela irmã de Cícero, Marina Lima.
Coro, sax e tudo. Saiu no Próxima Parada de 1989 e depois ainda teve versão de Léo Jaime no disco bem legal dele de 1995, Todo Amor. A versão do Léo Jaime é com violãozinho, ainda mais bonita que a da Marina, menos oitentista.
Marina ainda viraria parceira de Dalto e Rabello com Notícias, lançada por ela em 2001.

Não me Deixe Mal, de 1989, com Cláudio Rabello

É bem linda essa música, não sei porque não é mais conhecida. E eu amo o título desse álbum da Zizi Possi: Estrebucha Baby! É o título da primeira faixa do lado A, dos irmãos Garfunkel. Tudo, tipo prima da Não Vale a Pena gravada por Maria Rita.

De Volta pro Interior, de 2000, com Cláudio Rabello

Sim, José Augusto.
Sim, a música dá nome para o álbum que ele lançou em 2000, com músicas sertanejas tipo Beijinho Doce e No Rancho Fundo.
Sim, é a única gravação dessa música. E juro que acho boa!

Fecha a Porta, 2001, com Cláudio Rabello

Adoro – do mesmo disco que tem Mais Um Na Multidão, o hit de Erasmo Carlos com Marisa Monte. Essa do Erasmo é a primeira versão da música, romântica como quase tudo de Dalto. Depois teve uma versão da Gil Melândia (lembra??) de 2005, boa também, uma levada… samba-canção-reggae? No mesmo disco de 2005, Gil também gravaria Notícias, aquela que a gente já comentou, de Dalto, Rabello e Marina! Bem linda.

Um Tempo de Paixão, de 2001, com Cláudio Rabello

A musicalidade, a letra: tudo que marca a dupla Dalto e Rabello taí. Por que não fez sucesso? Não faço a menor ideia. Em 2001 isso já estava meio datado? Sei que é bom demais, ainda mais cantada por Daniela Mercury. Tudo!

Lição de Amor, de 2016, com Fernando Brant

Essa é toda especial: é a última composição com letra de Fernando Brant antes dele morrer, em 2015, segundo o próprio Dalto. E ganhou registro lindo na voz de Evinha, que digo e repito: é uma das maiores vozes vivas da nossa música. Melhor: só com o piano do marido dela, Gérard Gambus. Ficou ainda mais delicada sem os eventuais sintetizadores e saxofones que estamos acostumados a ouvir nas composições de Dalto. Linda, linda.

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November 07, 2020 /Jorge Wakabara
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música
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Um elo perdido de estrela pop: Emilinha

September 07, 2020 by Jorge Wakabara in música, TV

Acho que a gente pode começar essa história lá atrás. Mais para trás. Bem mais. Em 1954. O ano da vitória de Martha Rocha como Miss Brasil e da polêmica das duas polegadas a mais de quadril que a teriam desclassificado no concurso de Miss Universo. Essa polêmica, dizem, foi inventada por um jornalista para que os brasileiros não ficassem tão tristes – estavam todos muito confiantes da vitória de Martha. Acabou entrando para a posteridade como verdade, e o concurso de Miss ficou mais famoso do que já era por essas praias.
Pois bem. E quem ganhou o título de Miss Brasil no ano seguinte? Emília Barreto, representando o estado do Ceará.

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Emília Barreto Corrêa Lima

Millôr Fernandes disse, comparando-a com a antecessora: “A mulher, para ser bonita, precisa ter nariz. Martha Rocha não tem, e o de Emília dispensa qualquer elogio".

Emília se casou no ano seguinte do seu "reinado” com o oficial do exército e engenheiro Wilson Santa Cruz Caldas. Com ele, teve três filhos. Nélson. Marília. E… Emilinha.

Agora vou contar uma outra história.
No fim da década de 1970, tinha um cara que era um gênio da guitarra mas que não conseguia ganhar uma grana boa com o seu trabalho. Já tinha tocado com Fagner, já tinha tocado com Gal, já tinha tocado nos EUA. Em 1981, ele decidiu fazer um disco mais comercial. Surgia Satisfação de Robertinho de Recife. E olha quem estava na contracapa…

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Essa mulher sentada é a Emilinha, a filha da Miss Brasil de 1955. Repare na ficha técnica: participação especial de Emilinha no vocal e guitarra.

Só para dar um contexto, em 1979 saía o primeiro disco de Rita Lee depois de uma sequência de lançamentos com a banda Tutti Frutti. Na contracapa, aparecia seu novo comparsa, Roberto de Carvalho, e a barriga de grávida. Surgia um novo conceito no pop brasileiro: a família do rock!

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Emilinha e Robertinho também eram um casal.

Em Satisfação, Feliz com Você é composição de Robertinho com Emilinha. Romântica, bem bonitinha. Tem também a música Emilinha Dançando, referência clara a ela, composição solo de Robertinho instrumental e curta, de menos de um minuto. Será que a última, Mina de Ouro, de Robertinho com Aninha Bird, é para Emilinha? Acho que não porque fala de uma loira (kkkkk guarda essa informação para daqui a pouco). Mas o grande babado é O Elefante, com a voz dela, um dos grandes hits da carreira de Robertinho, composta por ele e Fausto Nilo.

Era isso, nos primórdios do BRock, mas nem cá, nem lá. Robertinho era um estranho entre a juventude carioca que começava a despontar, e também muito moderno para os medalhões da MPB. Porém incrível, com repertório pop nos trinques.

E se Rita Lee assumiu a parceria com Roberto de Carvalho (que rolava fazia um par de anos) na capa do álbum de 1982, chamado Rita Lee e Roberto de Carvalho e também conhecido como Flagra, Robertinho trouxe Emilinha para a capa de Robertinho de Recife e Emilinha também em 1982.

Identificando-se de vez com a turma new wave (As Aventuras da Blitz saiu em 1982 e um monte de estreias de banda em disco rolariam em 1984), o álbum da dupla traz essa Dominó Dominó de Robertinho e Nilo como carro-chefe e ainda tem uma da dupla de cantores, Estou Débil (meio tosquinha, pra falar a verdade, e politicamente bem incorreta). Sem contar muita coisa legal ali pelo meio, tipo A Onda, outra de Robertinho e Nilo, new wave com toques árabes!

Também adoro Vem Cá Neném, mais uma de Robertinho e Nilo, com a voz de Robertinho no destaque. A produção do disco era de Lincoln Olivetti, que também assina duas composições em dupla com Robertinho (Nas Luzes da Noite e Alguém Especial).

O próximo disco de Robertinho, Ah, Robertinho do Mundo de 1983, ainda trazia mais uma composição em parceria com Emilinha, a última do disco Vou-me Embora. Mas o tom de new wave já vai dando lugar a algo bem centrado na guitarra e a dupla com Emilinha cantando evapora da capa e conteúdo. Não deixa de ser um disco muito bom: traz a versão gravada dele para Bachianas Brasileiras nº 5 de Heitor Villa-Lobos e o hit Babydoll de Nylon, composição de Robertinho com Caetano Veloso, encaixada ali em penúltimo, quase com receio do possível sucesso que ela viria a conquistar (Robertinho sempre disse em alto e bom som que achava O Elefante, por exemplo, um lixo comercial).

E em 1984, segundo entrevistas que o próprio Robertinho deu, ele pagaria um pedágio para cair de vez no metal com o disco Metal Mania. Era isso daqui:

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Sim: a versão original de É de Chocolate, de Miguel Plopschi e Michael Sullivan, é pré-Trem da Alegria, apesar de muita gente ligar o sucesso ao grupo infantil. Era com Patrícia Marx e Luciano Nassyn, ainda sem Juninho Bill, e participações especiais de Emilinha e Robertinho de Recife. A primeira voz que a gente ouve, portanto, é dela: Emília.

Enquanto deixavam Robertinho se enveredar pelo heavy metal depois do Chocolate que ele considerava um mico (mas bem que ele cairia no ultracomercial Yahoo com a sensual Mordida de Amor em 1988, então, ué, decida-se), Emilinha teve um filho dele, Eduardo Caldas, nesse mesmo ano de 1984. É esse aqui, ó:

Você lembra, né? Eduardo Caldas era o ator mirim mais querido dos anos 1990. Teve o personagem Pinguim, por exemplo, que ficava falando "é ruim, hein?" toda hora. Acho que essa imagem é de Felicidade, novela de Manoel Carlos de 1991, e ele fazia mui…

Você lembra, né? Eduardo Caldas era o ator mirim mais querido dos anos 1990. Teve o personagem Pinguim, por exemplo, que ficava falando "é ruim, hein?" toda hora. Acho que essa imagem é de Felicidade, novela de Manoel Carlos de 1991, e ele fazia muita coisa com a Tatyane Goulart na TV

(Hoje o Eduardo é roteirista e mudou o nome artístico, assina como Eduardo Albuquerque)

E sim, a própria Emilinha foi em busca do seu lugar ao sol. Surgia o disco "perdido” homônimo Emilinha, cuja capa abriu esse post, em 1986. Nele, seis músicas eram composições solo de Emilinha. Contava também com outras delícias, tipo isso:

Diário de Mentiras é de Leoni, e parece bastante com as músicas dele para o Kid Abelha, sua ex-banda (sinceramente, dá até para imaginar Paula Toller cantando). Leoni saiu do Kid justamente em 1986, brigado, e fundou a sua nova banda, Heróis da Resistência, naquele mesmo ano.
Numa reverência à desbravadora do pop rock nacional, nesse mesmo álbum Emilinha regravou Tratos à Bola, de Rita Lee com os Tutti Fruttis Lee Marcucci e Luis Carlini.

A versão original de Rita saiu em 1974, no álbum Atrás do Porto Tem Uma Cidade.

Mas isso foi apenas o começo. Em 1987, sairiam duas coisas. Primeiro vou mostrar a mais misteriosa, que tem a ver com o lado compositora de Emilinha.

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Não consegui localizar nenhum registro de som dessa belezinha, um girl group chamado Rosa Shok formado por, acho, Andréa, Luciany, Karen, Leila e Adriana. A segunda música do lado A, Todos os Tipos, é de autoria de Emilinha. Entre os compositores, a maioria é bem misteriosa. Mas tem o Papa Kid que já fez coisas com Luiz Melodia, com o próprio Robertinho, com Fausto Nilo. Olha esse compacto do Papa Kid de 1982, que maravilhoso:

E lembra que eu falei do Gastão Lamounier Neto sobre O Dono da Bola, a música do Mário Gomes? Ele também fez uma para a Rosa Shok, Moto Prateada, com Luis Mendes Junior. Gastão tem história com o pop nacional dos anos 1980: fez coisas para Neusinha Brizola (<3 <3), Sempre Livre, Sandra de Sá, Tim Maia, Banda Black Rio.
E Luis Mendes Junior? Bom, esse cara é o responsável por Piuí Abacaxi. Não finja que não sabe do que eu estou falando.

Se alguém achar o álbum da Rosa Shok por aí, me avisa?

O outro capítulo de 1987 na história de Emilinha é esse aqui.

"Não adianta. Por mais que eu tente, não dá pra entender. Como é que você pôde me trocar por essa… essa lôra horrorosa… E eu que dei tudo de mim. Dei o melhor de mim pra você. Mas tudo bem. Um dia você vai ver o que perdeu. Mas aí vai ser tarde demais porque eu é que não vou mais querer nada com você. Você é que vai ficar na pior… Babaca!"

O Que Que Ela Tem Que Eu Não Tenho é uma composição de Emilinha. A primeira formação de Afrodite Se Quiser é com ela, Karla Sabah (que é quem manda esse textão no começo da música) e Patrícia Maranhão. Elas lançaram um disco homônimo em 1987.

Além dessa, tem dedo de composição de Emilinha em Pega Leve (com Casaverde) e Peito e Bum-Bum (com Patrícia Maranhão).
Pega Leve é BEM LEGAL, de verdade, assim como Peito e Bum-bum. São meio… empoderadoras? "Pega leve comigo / que eu vou botar pra quebrar / Tudo que eu quero, eu consigo / Eu posso te arrasar" & "Seu desejo pra mim é só um / Mas eu não sou só peito e bum-bum".
Tudo Por Um Toque de Amor, da Patrícia, é bem delicinha oitentista também, com uma melodia cheia de agudos que elas seguram muito bem.

No lado B desse álbum tem um medley que a gente pode enxergar meio como as coisas que o Harmony Cats, grupo vocal feminino, fazia: juntar um monte de hits do passado dando uma nova roupagem, nesse caso mais para pop oitentista.

Em 1989, saiu outro disco de Afrodite se Quiser e uma outra formação: sem Patrícia Maranhão, agora elas contavam com Gisela Zingoni. Gisela chegou com tudo: grande parte das composições do álbum Fora de Mim tem o dedo dela.
O single, Papai e Mamãe, é de Gisela com Emilinha:

A curiosidade: a direção desse clipe é do Boninho!
De composições da Emilinha, o álbum ainda conta com Eu Não Vou e Já Tá Pegando Mal (ambas com Zingoni) e Fora de Mim (só dela).

Ainda em 1989, o trio gravou Canção Para Inglês Ver do Lamartine Babo para a novela Kananga do Japão, da Manchete.

Ficou uma coisa meio Frenéticas, né?

Karla foi a única do trio que seguiu carreira de cantora. Gisela acabou se especializando em edição de songbook e Emília Caldas passou a trabalhar com figurino.

O Afrodite faz parte de uma linhagem de girl groups do pop brasileiro que a gente chega a negligenciar, na minha modesta opinião. Citei alguns de maneira espalhada por esse post: Sempre Livre, Harmony Cats, Frenéticas. Tem também As Sublimes, Banana Split, SNZ, Pearls Negras, sem esquecer o que talvez tenha sido o mais bem sucedido de todos: Rouge.
Mas, acima de tudo, Emilinha fez história no pop brasileiro. É de Chocolate foi disco de platina (segundo consta, Robertinho chegou da cerimônia da entrega em seu apartamento no 12º andar e o jogou pela janela, imagina o perigo). O Que Que Ela Tem está no mármore eterno da memória de 10 entre 10 crianças, adolescentes e adultos dos anos 1980.

Qualquer coisa dessa discografia em vinil: EU QUERO.

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September 07, 2020 /Jorge Wakabara
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