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Já existiu um outro Pablo que talvez tenha ido longe demais

November 02, 2020 by Jorge Wakabara in TV, música

Qual é a Música, o programa do Silvio Santos, era um marco pop nos anos 1980, de proporções que a geração Netflix de hoje não conseguiria entender. "SBT e era tão famoso assim?” Ôh, se era. Todo mundo assistia. Especialmente antes do Faustão ocupar os domingos da Globo, era no SBT que a gente ligava, sim.

E bem, o nome já diz tudo: Qual é a Música consistia em uma competição entre famosos com vários quadros, mas na grande maioria deles a resposta que precisava ser dada era pra pergunta… "Qual é a música?”, claro. Ou, na língua do Seu Silvio, “qual é a musicammmmm?". Num desses quadros, pra pergunta ser respondida, a música de fato tocava. E quem aparecia?
Ele. Pablo.
Não o Pabllo Vittar, que nem era nascido. Esse Pablo:

Pablo, cujo nome verdadeiro é Augusto José Rodriguez Carrascal, dublava as músicas na resposta. Antes, ele tinha uma parceira, Virgínia, que pintava a cara igual – ele dublava as vozes masculinas e ela as femininas.

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Depois, quando Virgínia saiu e Pablo ficou, a androginia das apresentações dele ficaram ainda mais aceleradas: Pablo dublava e gesticulava as vozes de ambos os sexos e chacoalhava seus cabelos. Tinha quem achasse que era peruca, mas ele jura que sempre foi cabelo dele.

Pablo é da Espanha. Ele já contou em entrevista que, no começo da carreira, trabalhava num banco de dia e fazia shows de dublagem e dança à noite em boates da Boca do Lixo paulistana. Ou seja… Ele era drag queen? Ou o que se chamava na época de transformista? Não sei, mas acho que não. Acho que fazia esses shows sem se vestir de mulher, até onde entendi.

Pablo também diz que a inspiração das pinturas de rosto vieram do Kiss. Não entendo, já que Secos & Molhados por aqui foi um supersucesso – tem essa briga pra saber de quem foi a ideia da pintura do rosto primeiro, né? Enfim.
Mas no lugar do preto e branco, que acharam pesado demais, queriam algo mais festivo. Pablo tacou glitter e disse que Silvio Santos adorou – aliás, comentou que o patrão adora tudo que brilha. Uma lantejoula, uma purpurina… SBT AESTHETICS, eu diria!

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Esse Pablo ia longe demais na época? Para os héteros de masculinidade frágil, me parece que sim: Pablo virou apelido pejorativo para gay. Uma bobagem.

Mas o que pouca gente sabe – o motivo para eu querer fazer esse post, inclusive – é que Pablo… cantava. Ele não dublava, apenas.

Primeiro choque: cadê o rosto pintado na capa do compacto de 1979?!
Segundo choque: as músicas (ambas!) são puro Sidney Magal. Regrava, Magaaaal!

Ufa, nessa versão de capa tem pintura facial

Ufa, nessa versão de capa tem pintura facial

Esse Pablo canta bem? Não. É bem qualquer coisa. O sotaque dá um charminho, mas o timbre é meio fuén. Tanto que é o coro que segura os refrões. Mas as músicas são boas, vai. Dança comigo! Disco music em português IS MY LIFE.
Em ambas as canções desse disquinho, Eu te Amo e Onde Vai, a gente vê Valentino Guzzo entre os compositores. O intérprete da Vovó Mafalda foi quem descobriu Pablo e o levou pro SBT.

Tem mais? Tem mais.

Instrumental bem Gretchen, delícia. Nessa ele até arrisca falar umas frases em espanhol. Acho que a ideia era ficar meio sexy. Hum… OK.
Sinceramente prefiro o primeiro compacto.
De qualquer forma não achei Alegria na Milonga, o lado A do segundo compacto! Alguém tem? Me passa? Fiquei curiosíssimo!

Pra terminar: em 2019 Pablo estava morando em Londres.
Não acho a Europa tão longe. ;)

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November 02, 2020 /Jorge Wakabara
Qual é a Música, Silvio Santos, anos 1980, pop, SBT, Pablo, androginia, Espanha, Boca do Lixo, Kiss, Secos & Molhados, glitter, homofobia, homossexualidade, Sidney Magal, disco music, Valentino Guzzo, Vovó Mafalda
TV, música
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Raised by Wolves é tudo – amém!

October 13, 2020 by Jorge Wakabara in TV

Raised by Wolves não está muito comentada aqui no Brasil principalmente porque não está disponível pros brasileiros – é uma série da HBO Max. Mas sou fã do Ridley Scott e meu marido também, então "corremos atrás” dessa série de ficção científica produzida por ele e com os dois primeiros capítulos dirigidos por ele.

Ao mesmo tempo, é aquela coisa, né: essa história de chegar num novo planeta com perigos, hummm, já vimos Scott fazendo antes. E ele costuma se repetir pra além da conta. Então a gente chegou com um pezinho atrás. Mas existe um segredo em Raised by Wolves: o criador dela não é Scott e sim Aaron Guzikowski.

A Mãe (Amanda Collin), uma androide de aparência andrógina na superfície (me lembra Doris para Maiores!) e suas crianças

A Mãe (Amanda Collin), uma androide de aparência andrógina na superfície (me lembra Doris para Maiores!) e suas crianças

Existem elementos em comum com o trabalho anterior de Scott, claro: andróides, criaturas alienígenas animalescas e violentas, as câmaras de sono, os cenários extraterrestres com uma devastação pós-apocalíptica. Mas tem um elemento principal aí que muda quase tudo e que não esteve presente de forma tão primordial em algo ridley-scottiano antes: a religião organizada e a fé em um mito ancestral.

Fóssil de uma serpente gigante, cena de Raised by Wolves

Fóssil de uma serpente gigante, cena de Raised by Wolves

Na franquia de Alien, uma mitologia mais completa só foi aparecer bem depois, com os mais recentes Prometheus (2012) e Alien: Covenant (2017), que ainda podem (devem?) ser completados com mais um, formando uma trilogia de prólogo. Antes, o alien era uma criatura extraterrestre parasitária e letal e pronto, o inimigo estava ali, o desafio dado era conseguir fugir dessa colônia horrorosa sem que esses bichos conseguissem se espalhar por outros planetas e, principalmente, sem que uma rainha-mãe chegasse na Terra. Outro desafio das tramas eram os militares ou representantes do governo, que viam nos aliens uma oportunidade de uma arma poderosa na guerra e não entendiam que os aliens são incontroláveis. Quem ousava querer um alien pra chamar de seu geralmente acabava tomando do próprio veneno, morto por algum deles.

Achou o neném! Cena de Alien: Covenant (2017)

Achou o neném! Cena de Alien: Covenant (2017)

Já em Raised by Wolves a gente percebe uma clara vontade de criar um universo particular que vai servir para discutir de maneira metafórica as instituições religiosas e o que permeia a fé humana ao mesmo tempo que constrói uma história mítica em si. Tudo começa com dois fatos: uma guerra santa faz uma grande nave, a arca, sair da Terra com colonizadores em direção de um novo mundo, o Kepler-22B. Esses colonizadores são da religião oficial que cultua um deus Sol, os mitraicos (o Mitraísmo curiosamente existiu de verdade na nossa história terrestre, entre os séculos 3 e 4 na Roma antiga). Ao longo da série, também são citados Rômulo e Remo, em referência clara à origem mitológica de Roma com os irmãos fundadores que foram amamentados por uma loba.

Ao mesmo tempo em que essa arca decola, também está saindo uma outra nave, essa com dois andróides, a Mãe e o Pai (Abubakar Salim), e seis embriões humanos. A ideia do homem que coloca esses andróides pra embarcar é que eles colonizem e garantam um futuro pra humanidade sem guerra – esse cara é ateu e programa os andróides para que eles criem essas crianças como ateias, evitando assim conflitos religiosos. O azar: essa nave também está programada para ir pra Kepler-22B.

Outra curiosidade: Kepler-22B também existe na vida real. Ele foi o primeiro descoberto pela Nasa como teoricamente habitável, baseando-se na distância entre ele e a estrela do sistema em que está.

Guerreiros mitraicos na série: Marcus (Travis Fimmel), Sue (Niamh Algar) e Lucius (Matias Varela)

Guerreiros mitraicos na série: Marcus (Travis Fimmel), Sue (Niamh Algar) e Lucius (Matias Varela)

A Mãe vê os mitraicos como inimigos. Um dos grandes plot twists é que ela não é apenas maternal: guarda dentro de si uma outra essência que, aliás, lembra a mulher-robô do clássico Metrópolis. Scott na verdade aponta como referência a estátua que fica no Rockefeller Center de Nova York. E a posição dela, de braços abertos e pernas unidas, obviamente nos lembra da crucificação de Jesus (tem outro momento que ela fica na mesma posição).

Terra prometida, serpentes (aqui elas são gigantes), sacrifícios, fogo como símbolo do divino, milagre, privações e êxodos no deserto, vozes e visões (que podem ser mensagens do divino… ou esquizofrenia?): tudo isso vai pipocando ao longo dessa primeira temporada. Também rola falibilidade de líder religioso, crime em nome do deus deles, intolerância contra qualquer outra crença (ou a falta de crença). Soa bem, hum, contemporâneo. Infelizmente.

Mas um traço que é BEM Ridley Scott na série é o androide e a questão: até que ponto eles não têm sentimentos de empatia e outros traços humanos, como o ciúme, a tristeza perante a rejeição, o instinto materno? Essas características humanas seriam programáveis? E será que não seriam corruptíveis? Não se desenvolveriam e se transformariam em outras coisas, tal qual acontece nos próprios humanos?

Já foi confirmada uma segunda temporada de Raised by Wolves. Mal posso esperar!

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October 13, 2020 /Jorge Wakabara
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TV
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Ratched é boba – então, se você gosta de coisas bobas, OK

September 30, 2020 by Jorge Wakabara in TV, cinema

Ryan Murphy é um criador de séries bem inconstante. Ele pode fazer coisas incríveis, como é o caso, na minha opinião, de Hollywood. Algumas de suas obras conseguem fazer mais que simplesmente contar uma história: elas nos fazem refletir, e quando elas fazem isso é incrível. Também existe outra crítica válida a respeito dele: suas séries costumam perder o ritmo no meio. Ficam fracas, frouxas. Às vezes o fim é bem chinfrim, também.

E Murphy também tem outras fortalezas. O senso estético, por exemplo: suas séries são plasticamente instigantes, envolventes, estimulantes. E tem a representatividade: mulheres trans em Pose, principalmente, mas também gays e mulheres mais velhas – que não costumam ser bem-tratadas pela indústria do entretenimento depois que envelhecem. Muitas já encontraram ótimos espaços com Murphy, de Jessica Lange a Frances Conroy, passando por Kathy Bates, Patti LuPone, Bette Midler.
Na manga, ele tem um trunfo: Sarah Paulson, a sua atriz-fetiche mais longeva, que conseguiu manter esse posto mesmo competindo com Lange por muito tempo.

Ratched, a última série de Murphy para a Netflix, tem tudo isso: mulheres mais velhas (Judy Davis incrível, Sharon Stone suprema, Amanda Plummer deliciosamente excêntrica e até uma ponta da maravilhosa e injustiçada por Harvey Weinstein: Rosanna Arquette). Conta com a atriz-fetiche como protagonista. A estética é inspirada em noir mas com um colorido surpreendente. Mas então qual é o problema?

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Bom, se você gosta de uma novelinha macabra (no sentido pejorativo do diminutivo), tá tudo bem.

A primeira coisa que não saquei foi a inspiração. Se você quer pegar uma personagem clássica do cinema e fazer uma prequel, então, bem, espera-se que você remeta ao filme em si, certo? Ou ao livro, que seja.
Ratched não tem nada de Um Estranho no Ninho (1975), onde Mildred Ratched apareceu pela primeira vez de maneira dramática (o livro é de 1962, e a peça da Broadway que veio antes é de 1963). Estética? Não. Ritmo? Não. Temática? Quase: sim, ela é uma enfermeira. Ela trabalha num hospital psiquiátrico.
Mas se alguém me disser que acha que a personagem Ratched de Louise Fletcher do filme (atuação pela qual ela ganhou um Oscar) e a Ratched de Sarah Paulson na série são a mesma coisa… Ah, me desculpe. No longa, parte da sinistrice dela era o sadismo inexplicável. Ratched era assustadora pelo simples fato de personificar a sede do ser humano pelo pequeno poder, a maldade que existe em todos nós pronta para ser liberada quando nos sentimos superiores em um grupo. A trama da série Ratched a humaniza e portanto a estraga, a justifica. Como se todo sadismo tivesse um trauma por trás. E a responsabilidade nem é de Paulson, que faz bem o que lhe cabe.

E existe o lado do terror visual, que é bem diferente do que a gente vê em Um Estranho no Ninho e por isso mesmo estabelece uma distância ainda maior dele.

Annie Starke em cena como Lily Cartwright, uma mulher lésbica submetida a tratamentos

Annie Starke em cena como Lily Cartwright, uma mulher lésbica submetida a tratamentos

Se a ideia era fazer uma história de terror envolvendo uma personagem traumatizada… Por que raios Ryan Murphy não fez simplesmente mais uma temporada de American Horror Story com essa história e deixou Um Estranho no Ninho em paz?
É uma história americana. É uma história de horror. Não vejo diferença. E acharia a série muito melhor se ela fosse uma AHS. Poderia haver o receio de se repetir em relação à segunda temporada, a Asylum, mas não: é bem diferente! Mesmo!
E é até legalzinha – apesar do final, pra variar, chinfrim.

É isso, pela atenção obrigado.

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September 30, 2020 /Jorge Wakabara
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TV, cinema
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Um elo perdido de estrela pop: Emilinha

September 07, 2020 by Jorge Wakabara in música, TV

Acho que a gente pode começar essa história lá atrás. Mais para trás. Bem mais. Em 1954. O ano da vitória de Martha Rocha como Miss Brasil e da polêmica das duas polegadas a mais de quadril que a teriam desclassificado no concurso de Miss Universo. Essa polêmica, dizem, foi inventada por um jornalista para que os brasileiros não ficassem tão tristes – estavam todos muito confiantes da vitória de Martha. Acabou entrando para a posteridade como verdade, e o concurso de Miss ficou mais famoso do que já era por essas praias.
Pois bem. E quem ganhou o título de Miss Brasil no ano seguinte? Emília Barreto, representando o estado do Ceará.

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Emília Barreto Corrêa Lima

Millôr Fernandes disse, comparando-a com a antecessora: “A mulher, para ser bonita, precisa ter nariz. Martha Rocha não tem, e o de Emília dispensa qualquer elogio".

Emília se casou no ano seguinte do seu "reinado” com o oficial do exército e engenheiro Wilson Santa Cruz Caldas. Com ele, teve três filhos. Nélson. Marília. E… Emilinha.

Agora vou contar uma outra história.
No fim da década de 1970, tinha um cara que era um gênio da guitarra mas que não conseguia ganhar uma grana boa com o seu trabalho. Já tinha tocado com Fagner, já tinha tocado com Gal, já tinha tocado nos EUA. Em 1981, ele decidiu fazer um disco mais comercial. Surgia Satisfação de Robertinho de Recife. E olha quem estava na contracapa…

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Essa mulher sentada é a Emilinha, a filha da Miss Brasil de 1955. Repare na ficha técnica: participação especial de Emilinha no vocal e guitarra.

Só para dar um contexto, em 1979 saía o primeiro disco de Rita Lee depois de uma sequência de lançamentos com a banda Tutti Frutti. Na contracapa, aparecia seu novo comparsa, Roberto de Carvalho, e a barriga de grávida. Surgia um novo conceito no pop brasileiro: a família do rock!

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Emilinha e Robertinho também eram um casal.

Em Satisfação, Feliz com Você é composição de Robertinho com Emilinha. Romântica, bem bonitinha. Tem também a música Emilinha Dançando, referência clara a ela, composição solo de Robertinho instrumental e curta, de menos de um minuto. Será que a última, Mina de Ouro, de Robertinho com Aninha Bird, é para Emilinha? Acho que não porque fala de uma loira (kkkkk guarda essa informação para daqui a pouco). Mas o grande babado é O Elefante, com a voz dela, um dos grandes hits da carreira de Robertinho, composta por ele e Fausto Nilo.

Era isso, nos primórdios do BRock, mas nem cá, nem lá. Robertinho era um estranho entre a juventude carioca que começava a despontar, e também muito moderno para os medalhões da MPB. Porém incrível, com repertório pop nos trinques.

E se Rita Lee assumiu a parceria com Roberto de Carvalho (que rolava fazia um par de anos) na capa do álbum de 1982, chamado Rita Lee e Roberto de Carvalho e também conhecido como Flagra, Robertinho trouxe Emilinha para a capa de Robertinho de Recife e Emilinha também em 1982.

Identificando-se de vez com a turma new wave (As Aventuras da Blitz saiu em 1982 e um monte de estreias de banda em disco rolariam em 1984), o álbum da dupla traz essa Dominó Dominó de Robertinho e Nilo como carro-chefe e ainda tem uma da dupla de cantores, Estou Débil (meio tosquinha, pra falar a verdade, e politicamente bem incorreta). Sem contar muita coisa legal ali pelo meio, tipo A Onda, outra de Robertinho e Nilo, new wave com toques árabes!

Também adoro Vem Cá Neném, mais uma de Robertinho e Nilo, com a voz de Robertinho no destaque. A produção do disco era de Lincoln Olivetti, que também assina duas composições em dupla com Robertinho (Nas Luzes da Noite e Alguém Especial).

O próximo disco de Robertinho, Ah, Robertinho do Mundo de 1983, ainda trazia mais uma composição em parceria com Emilinha, a última do disco Vou-me Embora. Mas o tom de new wave já vai dando lugar a algo bem centrado na guitarra e a dupla com Emilinha cantando evapora da capa e conteúdo. Não deixa de ser um disco muito bom: traz a versão gravada dele para Bachianas Brasileiras nº 5 de Heitor Villa-Lobos e o hit Babydoll de Nylon, composição de Robertinho com Caetano Veloso, encaixada ali em penúltimo, quase com receio do possível sucesso que ela viria a conquistar (Robertinho sempre disse em alto e bom som que achava O Elefante, por exemplo, um lixo comercial).

E em 1984, segundo entrevistas que o próprio Robertinho deu, ele pagaria um pedágio para cair de vez no metal com o disco Metal Mania. Era isso daqui:

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Sim: a versão original de É de Chocolate, de Miguel Plopschi e Michael Sullivan, é pré-Trem da Alegria, apesar de muita gente ligar o sucesso ao grupo infantil. Era com Patrícia Marx e Luciano Nassyn, ainda sem Juninho Bill, e participações especiais de Emilinha e Robertinho de Recife. A primeira voz que a gente ouve, portanto, é dela: Emília.

Enquanto deixavam Robertinho se enveredar pelo heavy metal depois do Chocolate que ele considerava um mico (mas bem que ele cairia no ultracomercial Yahoo com a sensual Mordida de Amor em 1988, então, ué, decida-se), Emilinha teve um filho dele, Eduardo Caldas, nesse mesmo ano de 1984. É esse aqui, ó:

Você lembra, né? Eduardo Caldas era o ator mirim mais querido dos anos 1990. Teve o personagem Pinguim, por exemplo, que ficava falando "é ruim, hein?" toda hora. Acho que essa imagem é de Felicidade, novela de Manoel Carlos de 1991, e ele fazia mui…

Você lembra, né? Eduardo Caldas era o ator mirim mais querido dos anos 1990. Teve o personagem Pinguim, por exemplo, que ficava falando "é ruim, hein?" toda hora. Acho que essa imagem é de Felicidade, novela de Manoel Carlos de 1991, e ele fazia muita coisa com a Tatyane Goulart na TV

(Hoje o Eduardo é roteirista e mudou o nome artístico, assina como Eduardo Albuquerque)

E sim, a própria Emilinha foi em busca do seu lugar ao sol. Surgia o disco "perdido” homônimo Emilinha, cuja capa abriu esse post, em 1986. Nele, seis músicas eram composições solo de Emilinha. Contava também com outras delícias, tipo isso:

Diário de Mentiras é de Leoni, e parece bastante com as músicas dele para o Kid Abelha, sua ex-banda (sinceramente, dá até para imaginar Paula Toller cantando). Leoni saiu do Kid justamente em 1986, brigado, e fundou a sua nova banda, Heróis da Resistência, naquele mesmo ano.
Numa reverência à desbravadora do pop rock nacional, nesse mesmo álbum Emilinha regravou Tratos à Bola, de Rita Lee com os Tutti Fruttis Lee Marcucci e Luis Carlini.

A versão original de Rita saiu em 1974, no álbum Atrás do Porto Tem Uma Cidade.

Mas isso foi apenas o começo. Em 1987, sairiam duas coisas. Primeiro vou mostrar a mais misteriosa, que tem a ver com o lado compositora de Emilinha.

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Não consegui localizar nenhum registro de som dessa belezinha, um girl group chamado Rosa Shok formado por, acho, Andréa, Luciany, Karen, Leila e Adriana. A segunda música do lado A, Todos os Tipos, é de autoria de Emilinha. Entre os compositores, a maioria é bem misteriosa. Mas tem o Papa Kid que já fez coisas com Luiz Melodia, com o próprio Robertinho, com Fausto Nilo. Olha esse compacto do Papa Kid de 1982, que maravilhoso:

E lembra que eu falei do Gastão Lamounier Neto sobre O Dono da Bola, a música do Mário Gomes? Ele também fez uma para a Rosa Shok, Moto Prateada, com Luis Mendes Junior. Gastão tem história com o pop nacional dos anos 1980: fez coisas para Neusinha Brizola (<3 <3), Sempre Livre, Sandra de Sá, Tim Maia, Banda Black Rio.
E Luis Mendes Junior? Bom, esse cara é o responsável por Piuí Abacaxi. Não finja que não sabe do que eu estou falando.

Se alguém achar o álbum da Rosa Shok por aí, me avisa?

O outro capítulo de 1987 na história de Emilinha é esse aqui.

"Não adianta. Por mais que eu tente, não dá pra entender. Como é que você pôde me trocar por essa… essa lôra horrorosa… E eu que dei tudo de mim. Dei o melhor de mim pra você. Mas tudo bem. Um dia você vai ver o que perdeu. Mas aí vai ser tarde demais porque eu é que não vou mais querer nada com você. Você é que vai ficar na pior… Babaca!"

O Que Que Ela Tem Que Eu Não Tenho é uma composição de Emilinha. A primeira formação de Afrodite Se Quiser é com ela, Karla Sabah (que é quem manda esse textão no começo da música) e Patrícia Maranhão. Elas lançaram um disco homônimo em 1987.

Além dessa, tem dedo de composição de Emilinha em Pega Leve (com Casaverde) e Peito e Bum-Bum (com Patrícia Maranhão).
Pega Leve é BEM LEGAL, de verdade, assim como Peito e Bum-bum. São meio… empoderadoras? "Pega leve comigo / que eu vou botar pra quebrar / Tudo que eu quero, eu consigo / Eu posso te arrasar" & "Seu desejo pra mim é só um / Mas eu não sou só peito e bum-bum".
Tudo Por Um Toque de Amor, da Patrícia, é bem delicinha oitentista também, com uma melodia cheia de agudos que elas seguram muito bem.

No lado B desse álbum tem um medley que a gente pode enxergar meio como as coisas que o Harmony Cats, grupo vocal feminino, fazia: juntar um monte de hits do passado dando uma nova roupagem, nesse caso mais para pop oitentista.

Em 1989, saiu outro disco de Afrodite se Quiser e uma outra formação: sem Patrícia Maranhão, agora elas contavam com Gisela Zingoni. Gisela chegou com tudo: grande parte das composições do álbum Fora de Mim tem o dedo dela.
O single, Papai e Mamãe, é de Gisela com Emilinha:

A curiosidade: a direção desse clipe é do Boninho!
De composições da Emilinha, o álbum ainda conta com Eu Não Vou e Já Tá Pegando Mal (ambas com Zingoni) e Fora de Mim (só dela).

Ainda em 1989, o trio gravou Canção Para Inglês Ver do Lamartine Babo para a novela Kananga do Japão, da Manchete.

Ficou uma coisa meio Frenéticas, né?

Karla foi a única do trio que seguiu carreira de cantora. Gisela acabou se especializando em edição de songbook e Emília Caldas passou a trabalhar com figurino.

O Afrodite faz parte de uma linhagem de girl groups do pop brasileiro que a gente chega a negligenciar, na minha modesta opinião. Citei alguns de maneira espalhada por esse post: Sempre Livre, Harmony Cats, Frenéticas. Tem também As Sublimes, Banana Split, SNZ, Pearls Negras, sem esquecer o que talvez tenha sido o mais bem sucedido de todos: Rouge.
Mas, acima de tudo, Emilinha fez história no pop brasileiro. É de Chocolate foi disco de platina (segundo consta, Robertinho chegou da cerimônia da entrega em seu apartamento no 12º andar e o jogou pela janela, imagina o perigo). O Que Que Ela Tem está no mármore eterno da memória de 10 entre 10 crianças, adolescentes e adultos dos anos 1980.

Qualquer coisa dessa discografia em vinil: EU QUERO.

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September 07, 2020 /Jorge Wakabara
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música, TV
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Você lembra de Zillion, o jogo de videogame da arminha?

September 06, 2020 by Jorge Wakabara in TV, videogame

Assistiu à série GDLK na Netflix? É muito legal, ela fala da história do videogame e traz curiosidades sobre essa indústria que é gigantesca, mas que ainda ganha pouca cobertura da parte do noticiário de grandes veículos. Millennials como eu vão ter alguns ataques de nostalgia assistindo – afinal, fomos o público-alvo que possibilitou esse megacrescimento. Super Mario Bros, Doom, Sonic, Street Fighter II, está tudo lá. Para a geração X também tem Pacman, Space Invaders.

Acontece que comigo e com meus primos mais próximos a coisa funcionou um pouco diferente. Depois do Atari das minhas irmãs, o videogame que chegou em casa foi o Master System. Lembra?

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Lembro vagamente do Master System da Sega ser comercializado aqui pela Tec Toy, que era a mesma marca do Pense Bem.

A minha irmã Ana Flavia já me atentou ao fato de que meu pai sempre amava novidades: teve câmera filmadora numa época que era raro alguém ter esse tipo de equipamento. Câmera fotográfica com lente de zoom gigantesca mesmo sem ser profissional. Aparelho de CD assim que a novidade foi lançada. Então eu provavelmente também era (e sou) influenciado por esse gosto por novas tecnologias. Para mim o Pense Bem era o máximo: um computador só meu!

Acho que é por isso que foi natural querer um Master System no lugar de um Nintendo – era da "mesma marca”. Ganhei um e meu primo Hugo tinha outro, então jogávamos com o dele nas férias, no sítio.

E aí lembrei da arminha do Master System.

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Para jogo de tiro era o máximo, a gente se sentia num fliperama!
Aí eu sempre tive uma lembrança meio apagada, meio bizarra, de um desenho animado no qual a pistola Light Phaser aparecia. Como já disse milhares de vezes aqui, minha memória é péssima. Então fiquei achando que estava viajando, "imagina, nem passava anime na TV nessa época…".

Bom, a verdade era que passava. A minha memória, dessa vez, não falhou.
No Brasil, o desenho Zillion passou na Globo e na Gazeta. Ele está intimamente ligado às origens da Light Phaser.

Vamos falar de vaporwave raiz, né?

Zillion foi originalmente transmitido no Japão em 1987. É da Tatsunoko Production em parceria com, adivinha, a Sega. A marca de jogos eletrônicos tinha lançado o sistema lasertag no começo dos anos 1980 – aquele jogo tipo paintball que usa arma de laser infravermelho no lugar da bolinha de tinta. Ela o batizou de Zillion – na tradução é isso mesmo que você está pensando, zilhão, tipo um número tão enorme que é incontável. Com o sucesso e a possibilidade de aumentar ainda mais a popularidade do Zillion, a Sega decidiu investir em um anime como forma de propaganda do jogo. Assim, nascia o anime Zillion.

Champ, JJ e Apple, a força de elite de Zillion

Champ, JJ e Apple, a força de elite de Zillion

Zillion, o desenho, juntava tudo que era moderno e cool no Japão dos anos 1980: pistola laser (e o laser era vermelho, claro), ombreiras, perfecto, motos, aliens que parecem robôs meio orgânicos meio esquisitos (quase um prenúncio de Neon Genesis Evangelion), cortes de cabelo repicado, muita parede de aço, muita poeira levantando, City Pop na trilha. A história se passa no século 24 em um planeta colonizado por humanos e parecido com a Terra, Maris. Ele é invadido por nozas, que é essa raça alienígena esquisitona. Surgem três pistolas que disparam um poderoso feixe de energia vermelho, as Zillion. Então são escalados três jovens para empunhar essas armas e formarem uma equipe de elite, os White Knights. São eles: JJ ("jota jota" na versão brasileira), Champ e Apple, respectivamente com 16, 18 e 17 anos, que contam com a ajuda de outros personagens.

Uma coisa que é muito legal de Zillion (e que não sei se na época parecia forçado) é que a dublagem brasileira realmente trabalhou para soar jovem e moderna. Incluiu gírias, entonações e é bem divertida.

A pistola Zillion do anime é tão parecida com a do jogo que tem até um cabo de carregar!

A pistola Zillion do anime é tão parecida com a do jogo que tem até um cabo de carregar!

A relação entre Zillion e a Sega foi bem explorada. O Master System, videogame de 8-bits da marca, chegou a aparecer em um episódio do anime.

zillion-master-system.jpg

E aí, finalmente, a Sega acabou criando a pistola do Master System, a Light Phaser, baseada na arma Zillion. O design é igualzinho.
Zillion ainda rendeu dois jogos para Master System. É aí que a minha memória falha: na minha cabeça, joguei o game Zillion usando a Light Phaser. Mas na real nenhum dos dois jogos usava a pistola – são jogos de aventura com o controle normal nos quais o JJ aparece na tela e a ação vai rolando geralmente na horizontal, tipo Super Mario. Portanto, não sei nem se eu cheguei a jogar Zillion de verdade!

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September 06, 2020 /Jorge Wakabara
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