Wakabara

  • SI, COPIMILA • COMPRE MEU LIVRO
  • Podcast
  • Portfólio
  • Blog
  • Sobre
  • Links
  • Twitter
  • Instagram
  • Fale comigo
  • Newsletter
peca-satyros.JPG

Ruas vazias na ficção – e uma peça de teatro via Zoom

June 22, 2020 by Jorge Wakabara in TV, livro, teatro

Uma coisa que sempre me fascinou são narrativas sobre cidades fantasma. Ou porque o tempo passou demais e ela foi abandonada. Ou porque a maior parte das pessoas desapareceu ou morreu devido a doença ou arrebatamento. Não importa: acho a imagem da cidade vazia impactante. Ruínas contemporâneas.

Tem um programa no History, acho, que não me lembro o nome mas que mostra o que aconteceria se a humanidade desaparecesse da face da Terra. Toda vez que reprisam eu tô lá, assistindo hipnotizado. Arranhas céus desabando depois de séculos de corrosão. Reatores nucleares explodindo por falta de resfriamento e espalhando radiação.

Acho que esse é um dos motivos pelos quais me atraía a ideia de ir para Chernobil (e consequentemente Pripyat, que é a cidade fantasma perto de Chernobil, abandonada após o acidente).

View this post on Instagram

Em #Pripyat tudo está desmoronando - esses são locais que crianças frequentavam. Crianças e adolescentes que ficaram expostos à radiação por muito mais tempo que o necessário porque o governo socialista demorou pra espalhar a notícia da explosão do reator pra não criar pânico. #chernobyl #chernobil #mckievinho

A post shared by Jorge Wakabara (@wakabara) on Jan 4, 2019 at 12:11pm PST

Para quem ainda não sabe: sim, eu fui para Chernobil. Conto mais nesse post aqui.

Um dos livros da minha infância (já que estamos nessa fase, eu falei aqui sobre O Gênio do Crime, né?) é Blecaute de Marcelo Rubens Paiva.

blecaute-marcelo-rubens-paiva.jpg

Nossa, é muito bom! Como eu queria esquecê-lo para ler de novo!
Aliás, vontade de reler todos os livros do Marcelo Rubens Paiva. São ótimos.

Blecaute fala sobre três jovens amigos que viajam para cavernas do Vale do Ribeira e, por causa de uma tempestade, ficam presos por lá uns dias. Quando saem e voltam para São Paulo, surpresa: eles são os únicos sobreviventes. Algo aconteceu e ninguém mais está vivo.
Esse é um dos livros mais adorados do Marcelo Rubens Paiva. Amo esse post, no qual um cara analisa as capas das edições de Blecaute. A minha preferida, assim como a dele, é a da Brasiliense.
(E por que ainda não existe nenhuma adaptação de Blecaute para o cinema ou para série de TV? Não sei. Tão marcando, para variar. E dessa vez não tem mesmo, pesquisei antes de dizer. Kkkkkkkk!)

Muitas outras ficções trazem ruas desertas. De cara me lembro de Noite Adentro, série recente da Netflix que me marcou demais – tanto que já falei dela algumas vezes. Tem também:

a-danca-da-morte.png

A Dança da Morte

Livro do Stephen King que já foi adaptado para a TV em uma minissérie de quatro capítulos, em 1994 – falei sobre isso na minha última newsletter (por que você ainda não assina a minha newsletter?).

O livro mostra os acontecimentos após uma mutação do vírus influenza desenvolvida como arma biológica, bem letal, vazar de uma instalação militar norte-americana e atingir todo o país (provavelmente o mundo, mas a gente não fica sabendo). Existem poucos sobreviventes, e eles começam a se reunir. A ideia de King era fazer um épico do tipo Senhor dos Anéis com tintas contemporâneas e também refletir sobre os valores da civilização norte-americana. É considerado uma das melhores criações de King.

Stu Redman (Gary Sinise), Frannie Goldsmith (Molly Ringwald) e Harold Lauder (Corin Nemec)

Stu Redman (Gary Sinise), Frannie Goldsmith (Molly Ringwald) e Harold Lauder (Corin Nemec)

Uma coisa que acho muito curiosa dessa adaptação é que ela traz integrantes do Brat Pack pós-anos 1980. Rob Lowe é o surdo-mudo Nick Andros, já pós-escândalo da sex tape com uma garota menor de idade. E Molly Ringwald é Frannie Goldsmith. Adam Storke, galãzinho pós-Brat Pack, é o músico Larry Underwood (ele é o Charlie em Três Mulheres, Três Amores ou, em inglês, Mystic Pizza, o filme de 1988 que marcou o começo da carreira de Julia Roberts). E ainda tem Corin Nemec como Harold Lauder – ele era Parker Lewis na série Parker Lewis Can't Lose, que é basicamente uma adaptação para a TV de Curtindo a Vida Adoidado sem pagar direitos autorais.

A belíssima surpresa é que Dança da Morte (em inglês The Stand) vai ganhar uma nova adaptação em série de TV logo menos. Ela já está gravada mas parece que eles estão segurando a estreia em respeito às vítimas de COVID-19, já que comparações serão inevitáveis. Mas é isso: comparações serão inevitáveis quando estrear. King está bem envolvido – tanto que desenvolveu um novo final para a história. E a produção, da CBS, conta com um grande elenco que inclui James Marsden (Westworld, X-Men) como Stu Redman, Amber Heard (Aquaman, Zombieland) como Nadine Cross, Whoopi Goldberg (ai, me poupe, não precisa de refs) como Mãe Abigail e Alexander Skarsgard (True Blood, A Lenda do Tarzan) como Randall Flagg.

Dança da Morte versão 2.0: Larry Underwood (Jovan Adepo) e Rita Blakemoor (Heather Graham)

Dança da Morte versão 2.0: Larry Underwood (Jovan Adepo) e Rita Blakemoor (Heather Graham)

The Leftovers

Ave, como eu amo. A série de Damon Lindelof (Lost, Watchmen) é ma-ra-vi-lho-sa. Ela é baseada num livro de Tom Perrotta e parte da premissa que 2% de toda a população desapareceu – DO NADA! Foi um arrebatamento bíblico perto do fim do mundo? Foi uma transferência para uma realidade paralela? Existem teorias (it's complicated), porém o foco é na reação de quem ficou, muito mais do que em quem sumiu. Religião e fé, a fronteira entre sanidade e loucura, confiança e traição. Tudo isso permeia as três temporadas e de perto ninguém é normal. E como nada é coincidência (ou melhor, você decide o que é coincidência e o que não é): Lindelof ficou sabendo sobre o livro de Perrotta numa resenha para o New York Times assinada por… Stephen King.

Nora Durst (Carrie Coon) e Kevin Garvey (Justin Theroux) em The Leftovers

Nora Durst (Carrie Coon) e Kevin Garvey (Justin Theroux) em The Leftovers

Agora você já está pensando que o título desse post foi um clickbait, né? Não. Chegou a hora de falar de…

A Arte de Encarar o Medo

Para começo de conversa, já digo logo: trabalhei com teatro mas morro de preconceito. E não é algo sem fundamento: tem muita peça ruim por aí. É caro, é difícil. Outras formas de arte, como o cinema, são mais práticas. Você consegue ver o trailer. Você tem a referência dos atores. Tem horários mais diversos. Você vai até um complexo de salas e escolhe qual te dá vontade de ver na hora. A impressão é a de que a garantia de aproveitamento é maior.

Isso posto, às vezes, bem de vez em quando, consigo contornar o histrionismo de alguns atores, a fragilidade de muitos textos e certas montagens de gosto duvidoso e… até gosto de teatro.

Mas A Arte de Encarar o Medo me interessou por outra coisa: a iniciativa d’Os Satyros é experimental, uma alternativa para o teatro nos "novos tempos”. Existem coisas que não temos nela: a presença corpórea dos atores, por exemplo. A energia de uma sala com plateia e atores ali na sua frente, te mostrando uma história. Só que a montagem ganha outros elementos quando realizada na plataforma Zoom. E mais importante: ela foi concebida para uma plataforma como o Zoom. Usa recursos que não existem em uma sala de teatro, ou pelo menos que precisariam ser bem adaptados para chegarem no mesmo fim.

Logo de cara, você tem a possibilidade de contar com um elenco grande sem muita dificuldade. Basta que o ator tenha conexão com internet e câmera (de celular, de laptop, webcam, o que for), e que se familiarize com a tecnologia. Em A Arte de Encarar o Medo, existe uma atriz sueca (Ulrika Malmgren) que participa direto de Estocolmo. O ator Cesar Siqueira, por sua vez, não chegou a conhecer o resto do elenco pessoalmente!
O fator do “ao vivo” segue como a principal tônica. Você sabe que todas aquelas pessoas estão atuando e trabalhando naquele momento, com hora marcada, só que a noção de espaço é ampliada. Cada um está em um lugar. Existem momentos em que eles sobem escadas, batem em portas, saem de um cômodo para entrar no outro. Numa hora eles também usam o recurso de mudar o fundo da transmissão. Duas pessoas podem contracenar uma com a outra mesmo com uma distância de muitos mil quilômetros. Por aí vai.

Falando nem parece, mas o fato da peça trazer vários atores manipulando tecnologia para te contar uma história respeitando o distanciamento social traz uma emoção que pode ser diferente da do teatro tradicional, mas não deixa de ser crepitante. Também surge uma amplificação da intensidade dessa arte dramática. Fiquei me perguntando se algo da minha impressão mudaria se eu estivesse assistindo a algo previamente gravado e não apresentado ao vivo. E acho que sim. Existe um sabor no fato de eu fazer parte do grupo de pessoas que entrou naquele momento naquela sala virtual e assistiu ao que foi apresentado. Ninguém mais vai ver aquilo (a menos que a produção tenha gravado, para fins de documentação). É diferente das lives que ficam guardadas e podem ser acessadas posteriormente.
Esse "novo teatro” (que tem gente que não gosta de chamar de teatro, pois teatro seria outra coisa) se aproxima do Snapchat e dos stories de Instagram na sua efemeridade, e é efêmero de maneira ainda mais drástica!

carnaval-satyros.png

Com tantas questões a respeito da forma em si, você pode achar que não me ative tanto ao conteúdo. Está errado: a peça foi criada já durante a pandemia e é muito sensível em relação a ela. São 50 minutos de uma história que, sem ser linear com começo, meio e fim (adoro narrativas assim), apresenta um cenário em 2035 onde a humanidade não conseguiu vencer a doença e segue isolada, morando em cidades vazias, cada um trancado em sua casa. Esse futuro distópico que já não conta com emissora de TV e rádio estranhamente continua possuindo energia elétrica e internet, ninguém sabe como. E aí pessoas enlouquecem, criam novos códigos sociais, relembram o passado e, principalmente, sentem medo.

Tem uma entrevista com os próprios dramaturgos, Ivam Cabral e Rodolfo García Vázquez (Rodolfo também é o diretor), no site d’Os Satyros. Recomendo a leitura.

E também recomendo a peça em si! São sessões de sexta, sábado e domingo. Não sei exatamente até quando a montagem vai estar em cartaz, então é bom garantir o ingresso para o próximo fim de semana. Ele custa R$ 20 mas quem quiser pode doar mais e quem não puder (porque está em dificuldades financeiras decorrentes da pandemia) consegue assistir de graça. Para ter um ingresso, acesse o site da Sympla.

Mesmo que você não se interesse pelo tema, acho interessante que as pessoas conheçam essas novas práticas. É um mundo de possibilidades que se abre. Dependendo da ideia e do desenvolvimento, assistiria a outras coisas nesse formato mesmo pós-pandemia.

Quem gostou desse post pode gostar desses outros:
. O baile do Met e o feitiço do novo tempo
. A sandália da Manu Gavassi – e uma questão de proporção
. A irmã do Kevin Arnold virou cantora

June 22, 2020 /Jorge Wakabara
cidade fantasma, History Channel, radiação, Chernobil, Blecaute, Marcelo Rubens Paiva, Noite Adentro, Stephen King, Rob Lowe, Adam Storke, Molly Ringwald, Corin Nemec, A Dança da Morte, CBS, James Marsden, Amber Heard, Whoopi Goldberg, Alexander Skarsgard, Jovan Adepo, Heather Graham, The Leftovers, Damon Lindelof, Tom Perrotta, religião, fé, sanidade, loucura, confiança, traição, Carrie Coon, Justin Theroux, A Arte de Encarar o Medo, Os Satyros, Zoom, Ulrika Malmgren, Cesar Siqueira, medo, Ivam Cabral, Rodolfo García Vázquez
TV, livro, teatro

O diretor da adaptação cinematográfica de O Gênio do Crime conta tudo!

June 21, 2020 by Jorge Wakabara in cinema

O cinema nacional está num momento tenso. Principalmente a sua história: a gente sabe como anda a situação da Cinemateca. Quem nunca foi nos arquivos não faz ideia da riqueza daquilo (eu já fui, só na parte de papelada, e é chapante para gente que nem a gente, que é doida por histórias da cultura do século passado). Então, antes de mais nada, segue um apelo: prestigie o cinema nacional e exijamos uma resposta do ministério do Turismo, que atualmente é onde fica a secretaria federal da Cultura, e de, bem, Mario Frias – até quando ele durar.

Sobretudo, assista a filmes nacionais. Comente-os. Não pare em Bacurau, juro que tem outras coisas boas esperando pela sua descoberta por aí.
Uma delas é a adaptação do livro O Gênio do Crime, de João Carlos Marinho, sobre a qual comentei nesse post na semana passada.
Assisti a O Detetive Bolacha Contra o Gênio do Crime (e você também pode fazê-lo, o longa está disponível no Vimeo, clique aqui e use a senha sanlo46). Fiquei emocionado – vocês não têm noção de como isso mexe com a minha memória afetiva, já que o livro é um dos que me lembro com muito carinho de ter lido na infância.

E aí mandei umas perguntas para o Tito Teijido, o diretor do filme, e ele me respondeu via Whats! Tito nasceu na Argentina mas é cidadão brasileiro faz quase 40 anos. Hoje tem 81 e mesmo assim arrumou um tempo para ficar exercitando sua memória – agradeço muitíssimo!

Recomendo que você assista ao filme antes de ler a entrevista! ;)

Tito Teijido, os assistentes de direção Flávio Porto e Cláudio Portioli e o protagonista Arlindo Paulino, que fez o papel do Bolacha (ou Gordo)

Tito Teijido, os assistentes de direção Flávio Porto e Cláudio Portioli e o protagonista Arlindo Paulino, que fez o papel do Bolacha (ou Gordo)

Como você chegou no livro?
Em 1971 recebi uma proposta de fazer um longa metragem por parte da produtora Lutafilmes. Lutafilmes era dedicada à cinema publicitário e eu também era da área, normalmente dirigia as propagandas como freelancer com eles. Estávamos na ditadura Médici e eu propus, por causa da censura radical e mortal em que não se podia fazer nada, um filme infantil, pois era algo que transitaria com mais facilidade. Assim, saí pelas livrarias à procura de literatura infantil. Encontrei O Gênio do Crime, que é um romance ótimo, perfeito, e é praticamente um roteiro cinematográfico, tanto é que escrevi o roteiro quase sem modificar nada, seguindo o texto original.

O filme, pelo que entendi, teve envolvimento do João Carlos Marinho na produção, certo?
Não participou da produção, mas ficamos amigos. Mostrei-lhe o roteiro e logicamente ele gostou muito porque não tinha pitaco, modificação, e nem havia razão para ter. O que me seduziu nesse romance foi o discurso pela liberdade num momento em que estávamos dominados pela ditadura. A liberdade de viver, de procurar novos caminhos, de sair investigando aquilo que não é justo, que não é certo, como era no caso da falsificação de figurinhas.

Quanto custou a produção?
Não sei. Nós fizemos um acordo: entrei como coprodutor sem cobrar cachê por isso. Não havia financiamento para esse filme e a política cinematográfica da época não era tão coerente como foi até agora pouco com o fundo setorial do audiovisual. Havia a Embrafilme mas era muito difícil conseguir esse financiamento.

Você disse no comentário do Vimeo que o filme foi feito sem dinheiro. É um milagre, porque não parece! A equipe era grande?
A produtora arcou com o custo de produção sendo que ela tinha o equipamento próprio, uma equipe pequena contratada. Desembolsou-se pouco dinheiro, acho que só com os atores e mesmo assim muito pouco. Era um cinema de guerrilha, a gente parava a filmagem para fazer comerciais quando eles entravam e continuava o filme no dia seguinte. Uma coisa romântica. Fico muito orgulhoso pelo resultado justamente pelas condições que tivemos para trabalhar, que foram pobres.

Onde vocês acharam os atores mirins?
Isso foi por indicação das pessoas. Por exemplo: desde que li o livro, visualizei o Cazarré como o protagonista Seu Tomé. E o Cazarré, acredite se quiser, indicou o irmão caçula dele, que é o que faz o Pituca. Eles são irmãos na vida real! O Edmundo foi uma indicação do João Carlos Marinho, filho de um amigo dele. E não me lembro quem indicou o Bolacha! Lembro que o Arlindo era do bairro do Canindé e o pai tinha uma venda, era português. Aliás, nunca mais o vi.

E você sabe onde os outros estão agora?
Faz 46 anos que fizemos esse filme, agora eles são homens de 58 anos, 59! Parece mentira, né? O Cazarrezinho é professor de Direito na Unicamp ou na PUC, em Campinas. O Fernando Uzeda, que fez o Edmundo, é locutor, narrador. Era da rádio Cultura e hoje é freelancer. E a menina que fez a Berenice entrou em contato comigo faz uns 10 anos por Facebook, a gente conversou um pouco, foi muito legal.

Cena do filme: lá atrás, Fernando Uzeda, o Edmundo; na frente, Costa Machado, que na época assinava Antonio Claudio, o Pituca

Cena do filme: lá atrás, Fernando Uzeda, o Edmundo; na frente, Costa Machado, que na época assinava Antonio Claudio, o Pituca

Onde foram filmadas as cenas do acampamento? E a do barco, com a Berenice e o Bolacha?
Foi num barranco do rio Tietê perto da confluência com o rio Pinheiros. Na época não existia o Cebolão e acho que nem a Castelo Branco. Escolhemos ali porque naquele lugar, do outro lado do rio, tinha uma casa que era um barraco de madeira, na beira do Tietê. Era perfeita como a moradia do cambista. Já a cena do barco foi na represa de Guarapiranga em Interlagos. Também usamos o bosque junto da represa.

Como foi o lançamento?
Foi ruim. Tivemos um desacordo eu e a produtora, porque ela estava desesperada para recuperar algum dinheiro e lançou o filme na mesma semana em que estavam começando as aulas. Filme infantil tem que programar no verão ou nas férias de julho, isso foi um tiro no pé. Ficou duas semanas em cartaz e sumiu, condenado ao ostracismo. Depois houve um apoio especial ao cinema infantil, o Cinema Livre, com as salas obrigadas a veicular filmes livres de censura nos horários da tarde. Assisti no CineSesc, não lembro como chamava na época, depois do lançamento e dentro desse programa. Lá o cinema lotou, as famílias chegavam de carro, deixavam as crianças lá e depois pegavam quando a sessão acabava. Foi uma realização maravilhosa para mim. A molecada torcia aos gritos, berros, batendo palma durante o filme todo. Se o lançamento tivesse acontecido durante as férias, a história teria sido completamente outra.

Você já chegou a ser abordado por algum serviço de streaming para colocar o filme neles?
Não e nem faz sentido, o filme não é conhecido. Só que graças ao sucesso do livro, continua sendo visto até hoje nesse link do Vimeo. Como o livro segue indicado nas escolas, por todos esses anos tive contato com muita gente que queria saber do longa e assisti-lo, por isso o coloquei na internet. Já quis fazer do filme uma minissérie, faz uns 15 anos, mas o João Carlos pediu um dinheiro absurdo e então desisti, não me interessei mais. E também teve uma produtora que quis fazer uma outra adaptação e não conseguiu um acordo. João Carlos estava pedindo uma coisa de quase um milhão de reais, um delírio. A minha ideia era fazer a minissérie do Gênio do Crime e depois seguir com o Caneco de Prata, com os outros livros. Acho que ele pediu um valor alto para evitar que fosse feito, não sei.

Você só dirigiu esse longa. Por que não dirigiu mais?
Olha, cheguei aqui em 1968, em 1972 fiz o filme. Estava começando minha carreira no Brasil. Também tive incursões no teatro, mas tudo evoluiu para eu ser dono de uma produtora de filmes publicitários. Ela já existia e eu comprei uma parte. Fui evoluindo e crescendo dentro da publicidade. A produtora chamava 3T, de Tito Teijido e Ticão, que era meu sócio, chegamos a ter 50 funcionários. O cinema evoluiu por outros caminhos, veio a Ancine e etc. Nunca soube me agitar ou me promover, apesar de ter tido sucesso como diretor de filme publicitário, para fazer mais longa metragem. E cada longa é uma empatação de tempo muito grande. Tive intenções, cheguei a escrever três ou quatro filmes que nunca chegaram a ser feitos. Hoje vejo que nunca tive essa vocação para produtor cinematográfico. O diretor que tem sucesso nessa área tem que ser produtor e tem que se virar em todas as áreas para levar seus projetos à frente. Cheguei a lançar um documentário de 25 minutos que se chama O Mito de Iemanjá, acho que em 1977, e só! Minha carreira ficou na publicidade e depois, nos últimos anos, de teatro popular pelas estradas, com um projeto que se chamou Caravana Siga Bem.

Quem gostou desse post pode gostar desses outros:
. As coisas que pensei quando vi Bacurau (e o curta Recife Frio, do diretor Kleber Mendonça Filho, que você precisa assistir!)
. Inferninho, um dos filmes mais legais que assisti em 2019
. Você conhece a Trilogia da Rapariga?

June 21, 2020 /Jorge Wakabara
João Carlos Marinho, O Gênio do Crime, O Detetive Bolacha Contra o Gênio do Crime, memória afetiva, Tito Teijido, Lutafilmes, infantil, liberdade de expressão, Older Cazarré, Fernando Uzeda
cinema
grafite-2.jpg

Por que de repente a banda Grafite não sai da minha cabeça?

June 21, 2020 by Jorge Wakabara in música

Não sei. Nem você.
Por que esse capítulo do pop brasileiro ficou apagado?

Grafite é a banda que cometeu isso aqui:

Tá vendo como você sabe do que eu tô falando?

A banda foi formada em 1982 pelos irmãos Donghia (Chico, Paulo de Tarso e Tuca). A formação original também contava com Cláudia Diniz, Sônia Mattos e Celso Escobar. Eles se apresentavam toda hora na TV nos anos 1980, e é por isso que tem algum lugar da sua memória onde Mamma Maria ainda ecoa.

Meu Deus, eu quase consigo lembrar da qualidade do ar naquela época assistindo a isso.

Contemporânea da Blitz, a Grafite me parece uma versão menos nonsense, mais comportadinha, mas não por isso menos pop. Mamma Maria é a versão de um sucesso italiano de mesmo nome do Ricchi e Poveri. O Ricchi e Poveri existe até hoje, embora já tenha mudado de formação, tudo e tal. Olha esse vídeo, com imagens editadas de uma apresentação dos anos 1980 e outra mais contemporânea:

Amo o Ricchi e Poveri porque entre outras coisas, adivinha… Eles participaram do Eurovision em 1978! A música era Questo Amore!

Eu curto, mas a música ficou em 12º no concurso. Tudo bem, até aí Dio Come ti Amo, um dos maiores sucessos da música italiana, ficou em 17º em 1966!

Voltando ao Grafite: Mamma Maria não foi a primeira música que eles lançaram como single. Teve Seu Lugar antes, menos new wave, bem popzona.

O próximo single depois de Mamma Maria foi Fantasia, que também é uma versão de uma música italiana:

A original era Canterò per Te da banda Pooh, de 1980. Ela é meio épica, bem dramaticona. Eu gosto! Kkkkkkkkk!

Mas chique mesmo é Siga-me, a versão da Grafite para a música de Vinícius Cantuária! Merecia ter feito mais sucesso.

Aliás, alguém pode me dizer quando que o Vinícius Cantuária vai ser redescoberto e regravado por todo mundo? Só Você é tudo, na voz de Fabio Jr é melhor ainda, mas demorou para regravarem as outras. Alô, Marisa Monte: é contigo que estou falando.
(Aliás, você viu que a Marisa Monte lançou umas coisas que só existiam em DVD no Spotify e outros serviços de streaming? Adorei Hotel Tapes!)

A Grafite já passou por vários estilos musicais. Nos anos 1990, por exemplo, virou gospel: lançou Nínive, com músicas religiosas.

ninive-grafite.jpg

E nos anos 2000 eles começaram a fazer shows só com repertório dos Beatles.
Em 2010, Mamma Maria foi parar em uma novela. Era uma regravação da própria Grafite com vocais de Marília Dutra para a Malhação.

A catarinense Marília saiu do CountryStar, programa da Bandeirantes, em 2007 e também participou do Garagem do Faustão em 2009.

A Grafite segue em frente até hoje, mas dos integrantes originais só manteve Chico Donghia.

Quem gostou desse post pode gostar desses outros:
. O Genghis Khan alemão que cantava sobre uma cidade russa e inspirou uma banda brasileira.
. Susana Estrada: a Gretchen espanhola
. Vida eterna para a música descartável infantil! Xuxa, Sandy & Junior, Parchís, Simony e por aí vai

June 21, 2020 /Jorge Wakabara
Grafite, Ricchi e Poveri, Eurovision, new wave, pop, Pooh, Vinícius Cantuária, anos 1980, Marília Dutra, Chico Donghia, Paulo de Tarso Donghia, Tuca Donghia, Cláudia Diniz, Sônia Mattos, Celso Escobar
música
o-genio-do-crime.jpg

Você lembra de "O Gênio do Crime"?

June 18, 2020 by Jorge Wakabara in livro, cinema

Uma das minhas maiores referências da infância, o livro O Gênio do Crime foi lançado em 1969. Não fazia parte da série Vagalume, que a gente amava, mas tinha mais ou menos a mesma pegada: era uma história com ação e mistério e trazia protagonistas crianças. Depois dessa edição acima, que eu acho que era da Brasiliense e é a que li, ele foi para a Global (acredito que entre as décadas de 1980 e 1990). Hoje a editora Global é a responsável pela série da Turma do Gordo – pois sim, existem 13 livros da Turma do Gordo e O Gênio do Crime é apenas o primeiro!

“Escute aqui, seu bonequinho lustroso! Você que é um burro com ‘b’ minúsculo!”
— Gordo no filme O Detetive Bolacha Contra o Gênio do Crime

A história tem um apelo delicioso: trata-se de uma investigação feita por crianças sobre um falsificador de figurinhas do campeonato de futebol. A editora, que promete prêmios em troca do álbum completo, está em maus bocados porque não consegue atender a demanda de álbuns completos decorrentes da venda ilegal de figurinhas falsificadas. Então a turma, formada por Edmundo, Pituca, Berenice e Gordo, decidem ajudá-lo. Eles ainda têm como rival um detetive gringo, apelidado “O Invicto", que quer desvendar o caso primeiro.

É nesse livro que aparece o conceito de "perseguição do avesso”, inventado pelo Gordo, que estimulou muito a minha imaginação. Quando entendi o que queria dizer na época, me achei um gênio (não do crime, claro)! E cheguei a ler algumas outras obras da série, como Cascata de Cuspe (que eu lembro que chegava a ser meio experimental, se não estou enganado), Sangue Fresco e O Caneco de Prata.
Ai, ai, deu até saudade.

O autor, João Carlos Marinho, é apontado como referência na área só pela Turma do Gordo (ele chegou a lançar livros fora da série sem chegar ao sucesso de O Gênio do Crime e as sequências). Uma vez eu estava em férias e passeando por São Paulo. Decidi dar uma fuçada na FNAC de Pinheiros (por aí você já vê que faz um tempo, mas a FNAC já estava meio decadente). E, surpresa, ia rolar uma sessão de autógrafos com João Carlos Marinho! Provavelmente foi em 2015, no lançamento do O Fantasma da Alameda Santos, o último da série da Turma do Gordo. Fiquei NERVOSO, mas ao mesmo tempo estava sem dinheiro, a fila já estava grande e ele nem tinha começado a autografar. Então decidi desencanar depois de um tempo e fui embora me contentando em tê-lo visto.

Nunca mais tive essa oportunidade. João Carlos Marinho morreu em 2019, 50 anos depois do lançamento de O Gênio do Crime.

Mas em 1973, algo aconteceu. Chegava nos cinemas o longa O Detetive Bolacha Contra o Gênio do Crime!

o-detetive-bolacha-contra-o-genio-do-crime.jpeg

Descobri isso porque fui conferir uma informação que dei no programa Sessão da Tarde do meu podcast sobre Os Goonies. Eu comparei o estereótipo do personagem Chunk, ou Gordo na tradução, com o Gordo da Turma do Gordo de Marinho – que é o mais legal, o que fica com a mocinha e tem as melhores ideias!

Fiquei chocado porque nunca soube do filme baseado no livro antes! Pelo que entendi, João Carlos Marinho participou ativamente da produção.
Há 6 anos, o diretor Tito Teijido (que nunca mais dirigiu um longa) disponibilizou o filme no Vimeo. Junto, ele publicou o seguinte texto:
Este filme foi realizado em 1972, faz 40 anos! Era plena ditadura militar e quem pretendesse dizer sua verdade corria risco de vida. Liberdade não havia e a vida se apresentava medíocre, triste e chata. Por isso fiz este filme, para proclamar o direito e a liberdade de cada um a inventar sua própria vida. Encontrei isso no romance "O Gênio do Crime" de João Carlos Marinho, que até hoje traz essa mensagem para a garotada do Brasil todo.
Hoje este é um filme primitivo, feito sem dinheiro e por amor ao cinema e à vida. Era um Cinema de Guerrilha.


RT se você chorou (eu chorei).

Vou te dar alguns motivos para assisti-lo abaixo:
. O filme é muito bom, principalmente se considerarmos que a produção foi pobre. É bem feito, um roteiro redondo, o som é audível (tem filme nacional antigo que você não entende nada, né?). Tem bastante cena externa, mostrando uma São Paulo de outra época e uma infância que era mais solta, que tinha a liberdade de brincar pela rua sem medo.
. Todos os atores são bons mas a menina que interpreta Berenice, em especial, ganhou meu coração demais. E o Gordo também é muito foda, inclusive como Afonsinho! O ator se chama Arlindo Paulino, mas acho que nunca fez mais nada no cinema.
. Outros atores: acho que Fernando Uzeda é o Edmundo e, pela lógica, Pituca seria Antonio Claudio. Cristiane Heuer é a Berenice? Não tenho certeza. Cazarré deve ser o dono da editora (ele era um ator incrível e morreu atingido por bala perdida em 1992). Osvaldo Tesser, argentino, faz o detetive John Smith Peter Tony. Ele também morreu em 2019. Sidnei Paiva Lopes é o assistente dele – um cara bem envolvido com cinema, chegou a codirigir a comédia Sabendo Usar Não Vai Faltar em 1976.
. Quando o Gordo tem uma ideia genial, ele fica fazendo toda uma cena. Isso já existia no livro e é muito divertido ver como eles concretizaram essa "geração da ideia” no longa! <3
. O xingamento “cara de jaca” é tudo para mim.
. O pôster do Snoopy: quero.
. A calça listrada com blusa vermelha do Edmundo na cena da perseguição: também quero esse look.
. E as cenas do jornal na TV? Todas maravilhosas!
. Corintianos vão ter um apreço bem especial por esse filme. E quem gosta de futebol no geral também!

Quem quiser assistir pode ir nesse link – a senha é sanlo46
E quem quiser ler uma entrevista exclusiva que fiz com o diretor do filme, vem nesse link!

Arlindo Paulino, que fez o Gordo no cinema, no centro; ao redor, pessoas da equipe do filme. Acho que o Teijido é o de preto com o braço apoiado na cadeira do Paulino

Arlindo Paulino, que fez o Gordo no cinema, no centro; ao redor, pessoas da equipe do filme. Acho que o Teijido é o de preto com o braço apoiado na cadeira do Paulino

Quem gostou desse post talvez também goste desses outros:
. O filme Verão de 84 é melhor que It - Capítulo 2
. A relação entre os filhos do Frank Zappa e os filmes adolescentes dos anos 1980
. A trilha sonora que embalou o Brat Pack, o grupo de atores jovens dos anos 1980
. A banda que era meio carbono do Depeche Mode mas teve um fim trágico

June 18, 2020 /Jorge Wakabara
O Gênio do Crime, Série Vagalume, Turma do Gordo, futebol, figurinha, João Carlos Marinho, O Detetive Bolacha Contra o Gênio do Crime, Tito Teijido, Arlindo Paulino, Fernando Uzeda, Antonio Claudio, Cristiane Heuer, Older Cazarré, Osvaldo Tesser, Sidnei Paiva Lopes, Corinthians
livro, cinema
eu-acredito-em-duendes.jpg

Gnomos & duendes em 1991

June 17, 2020 by Jorge Wakabara in livro

(Este post é dedicado a Luciana Fontanillas)

Acho que já tive esse livro aí de cima. Não tenho certeza.
Este debaixo eu tive e posso afirmar que foi um dos meus livros preferidos da vida, uma referência para mim:

gnomos.jpg

Estou falando muito sério. Levava esse livro para cima e para baixo. Reli mil vezes. Para mim era como participar de uma realidade paralela, um outro universo. O livro era enorme (nem tanto, mas para as minhas mãozinhas de criança era) e tinha um monte de informação numa pegada pseudocientífica, observando anatomia, alimentação, moradia – tal qual um livro sobre uma espécie de animal, por exemplo.
O Wil Huygen, que escreveu a obra, era holandês e esse foi o primeiro livro que ele lançou, na década de 1970. Era ilustrado por Rien Poortvliet. Fizeram sucesso mundial, e Gnomos gerou toda uma série de outros livros da dupla. Huygen ficou meio focado nos gnomos mas Poortvliet também lançou outras obras sem ele e sem gnomos.

rien-poortvliet.jpg

Junto do advento desse best seller (quem viveu lembra, Gabi), abriu uma loja chamada Alemdalenda, acho que em 1990, na rua Oscar Freire para o lado de Pinheiros. A mania dos gnomos e duendes era uma realidade, e o sucesso da Alemdalenda era a prova disso. Foi assim que, entre a 3ª e 4ª série, eu comecei a COLECIONAR DUENDES DA ALEMDALENDA.
Sério.

Captura de Tela 2020-06-17 às 13.28.30.png

Eu tinha esse

Glum, o gnomo do amor

Captura de Tela 2020-06-17 às 13.30.38.png

E esse

Kundo, o gnomo da sabedoria (com o toque da bolinha de gude nas mãos)

Captura de Tela 2020-06-17 às 13.32.55.png

E mais esse

Helgo, o duende da sorte (ainda mais horroroso que os outros e mesmo assim um dos meus preferidos)

Resumindo: eu tinha uma coleção de gnomos e duendes quando estava no ginásio, e não contente fazia questão de levá-los para a escola e organizá-los todos em cima da minha carteira!!!
SIM!
Eu era mesmo um menino muito esquisitinho.

Em algum momento entre 1990 e 1991, fui com uma das minhas irmãs e o então namorado dela para Maresias. Levei um gnomo (ou dois?). E tinha essa coisa de sempre deixar uma maçã do lado dele, que ficava lá, apodrecendo. Numa conversa de Whats, quando falei para a Bia Bonduki sobre a Alemdalenda, ela colocou o nosso passado em palavras de forma muito perspicaz: éramos esotéricos de 12 anos que deixávamos maçãs apodrecendo no quarto, do lado de um quartzo rosa.

Minha irmã Ana Beatriz e esse cara aí quiseram me sacanear e deram uma mordidinha na maçã depois que eu já tinha ido dormir.
Se eles não tivessem me contado, estaria acreditando até hoje que os gnomos existem e um deles tinha comido um pedaço da maçã.

Essa minha fase duendeira de alguma forma foi se desenvolvendo porque no colegial eu continuava carregando incenso na minha bolsa carteiro, por mais que já tivesse guardado os gnomos no armário. #almahippieforever

Bom, qual não foi o meu espanto quando soube que a Alemdalenda AINDA EXISTE E AINDA VENDE OS MESMOS BONEQUINHOS.
A loja online tem um design antigo mas tá de pé (com o mesmo logo e tudo), e pelo que entendi não existe mais loja física. Aí lembrei, olhando para as possibilidades de compra, que consumia tudo dessa loja quando era mais jovem: livro sobre aura, bruxa, vela aromática, tarô. Não lembro de ter comprado filtro dos sonhos mas se pá comprei.

Vocês também passaram por essa fase?
ISSO É NORMAL?

Não, não cheguei a tanto. E não, não comprei nada agora.

Não, não cheguei a tanto. E não, não comprei nada agora.

Quem gostou desse post talvez goste de:
. Cheiro de maçã verde
. Na dúvida, aposte na memória afetiva
. O lugar onde a gente queria estar lá por volta de 1967

June 17, 2020 /Jorge Wakabara
Alemdalenda, gnomo, duende, Will Huygen, Rien Poortvliet, anos 1970, anos 1990, hippie
livro
  • Newer
  • Older

Powered by Squarespace