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Akihiro Miwa icônica demais

February 25, 2021 by Jorge Wakabara in cinema, livro, música

Nossa senhora, isso que é MUSA.

Assisti ao filme Kurotokage com Akihiro Miwa, a versão de 1968 (existe uma de 1962), e depois Kuro Bara no Yakata, de 1969. É surreal como, no fim dos anos 1960, o Japão cheio de regras em relação a gênero apresentaria uma transformista como musa.
Ah, sim: Akihiro Miwa não é exatamente uma mulher trans. No lugar de determinar seu gênero, ele parece achar mais interessante a via do não-binário, do constante passeio entre gêneros. E isso parece que atrai ainda mais a atenção (e o deslumbramento) dos japoneses!

Mas vamos voltar para começo, quando Miwa ainda era artista de cabaré e, em 1957, gravou Me Que Me Que, um clássico da música francesa originalmente lançado por Gilbert Bécaud naquela mesma década.

A versão em japonês, malandrinha, fez sucesso. Miwa bombou. E parece que foi nessa época que o escritor Yukio Mishima, um machão de direita que surpreendentemente tinha muita sensibilidade nas suas obras, elogiou Miwa, dizendo que era como um “uma beleza dos céus", ou seja, um anjo. A comparação faz sentido no que eu já pesquisei e ouvi dizer sobre a homossexualidade japonesa. Acho que vale abrir um parênteses aqui para falar sobre isso – e um pouco mais sobre Mishima também.

Os rapazes prostitutos do Japão antigo

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O livro O Belo Caminho: História da Homossexualidade do Japão, de Gary P Leupp, explica bem que a homossexualidade não é algo "novo” ou "que os brancos trouxeram” para o Japão. Longe disso. O shudo, que se refere a uma estruturação específica de prática homossexual um pouco parecida com a da Grécia antiga, em que existe a figura do homem mais velho mentor e deflorador e o rapaz jovem, passivo, inocente e aprendiz, foi uma realidade em monastérios budistas com presença exclusiva masculina, e também nas relações entre samurais. Para mim também tem a ver com uma relação de dominação e submissão que, pelo pouco que sei e posso estar falando bobagem, é recorrente na sexualidade nipônica.

Com o tempo, meninos começaram a virar michês para sobreviver, muitos deles relacionados ao teatro kabuki, uma tradição dramatúrgica que não permite atrizes. Esses atores especializados em papéis femininos atraíram fãs e cobravam por sexo, alguns viravam amantes de homens ricos. Depois, existiram bordéis que já nem disfarçavam sob a fachada do teatro, só com rapazes. Eles se vestiam e se enfeitavam como moças.

A imagem do rapaz afeminado e submisso não ficou no passado. O filme Morte em Veneza (1971) foi uma grande referência no Japão – a figura de Tadzio (Björn Andrésen, que para quem não sabe é o ancião do sacrifício no recente Midsommar de 2019) era tudo que os japoneses achavam lindo. Androginia e mistério. Isso corre até os idols do j-pop, apresentados como sensíveis e com traços mais delicados, e respinga também no k-pop.

O próprio Andrésen virou uma celebridade no Japão. Quando ele visitava o país, as mulheres iam à loucura! A ponto de, bem… ele mesmo gravar músicas em japonês, tal qual um idol. Olha que loucura?

Yukio Mishima: um homossexual de direita?

Em 1951, Mishima lançou o livro Kinjiki, uma expressão que é um eufemismo para homossexualidade. Um trocadilho entre “cores proibidas” e “amores proibidos". A história, considerada autobiográfica por muitos, traz a relação entre um escritor mais velho e um rapaz jovem que confessa que vai casar com uma mulher por motivos financeiros, mas que não se sente atraído por ela nem por ninguém do sexo feminino. Críticos apontam uma misoginia forte enraizada no texto – um discurso de ódio contra as mulheres. Mas virou um clássico.
Acontece que Mishima foi casado com uma mulher, Yoko Sugiyama. E ela, por sua vez, odiava e negava os rumores sobre a homossexualidade do marido, mesmo que fosse público que ele, por exemplo, frequentava bares gays. Eles tiveram um par de filhos, inclusive.
Existe um livro não-autorizado, de 1998, de Jiro Fukushima. Ele alega que teve uma relação com Mishima em 1951. Foi um escândalo que acabou com Fukushima e a editora processados pela família de Mishima.

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Mishima tentou fazer um golpe de estado no Japão em 1970. Sério. Isso porque, antes de casar com Yoko, ele quase casou com Michiko Shoda, que depois virou imperatriz porque se casou com o príncipe Akihito! A tentativa de golpe não deu certo e ele cometeu seppuku, o suicídio ritualístico japonês, aos 45 anos de idade.

Voltemos para Akihiro Miwa.

Uma baita história

Miwa nasceu em Nagasaki e, sim, estava na cidade quando a bomba atômica explodiu em 1945, quando tinha 10 anos. Como outros sobreviventes, ele sofre com os efeitos da radiação.
Ainda na época de Me Que Me Que (ou Meke Meke), saiu do armário publicamente, declarando-se homossexual. Para quem não está familiarizado com a cultura japonesa: ser homossexual afeminado no Japão contemporâneo é um pouco diferente. Existe preconceito, mas também existe uma maior aceitação – a rejeição maior acontece justamente quando você não é afeminado e, na cabeça do povo, “confunde". Celebridades homossexuais que se travestem são famosas na TV e amadas, por exemplo (é o caso de Miwa, que nos anos 2000 virou uma celebridade televisiva de muita fama).

O boom desse primeiro hit arrefeceu e Miwa ficou mais apagadinho. Seu segundo hit só viria em 1965: Yoitomake no Uta. Composta por ele mesmo, tem uma pegada bem enka na sua temática, falando do esforço do trabalhador rural e como ele é digno (pelo menos acho que é isso, me desculpem se entendi errado!).

De volta ao sucesso, Miwa lançou sua autobiografia em 1968 e começou a atuar em peças de teatro. Uma delas, Kurotokage, foi baseada em um livro policial de Ranpo Edogawa e adaptada para o teatro por Yukio Mishima. A peça já havia sido montada com outras atrizes no papel principal da bandida Lagarto Negro (ou, em japonês, Kurotokage), mas foi com Miwa que ela chegou naquele ponto sublime de petardo pop. Tanto que… virou filme!

Miwa como Kurotokage no filme de 1968

Miwa como Kurotokage no filme de 1968

A história é um embate entre Kurotokage, essa bandida que gosta de roubar "coisas bonitas”, e o detetive Kogoro Akechi (Isao Kimura). Miwa está simplesmente magnética, arrebatadora, com figurinos babadeiros.

Incautos podem colocar o filme naquela caixa de “o queer sempre é o vilão, o errado". Mas acredito que Kurotokage é mais que isso. Kurotokage, a personagem, é bela, hipnotizante, e se deixa levar pela obsessão por tudo que é bonito. Também não vê o mundo como binário: enxerga a beleza nos homens e mulheres. Sua própria beleza está ligada à androginia. Mais do que camp, o filme é cheio de nuances, esteticamente instigante, transbordando pulsão de morte e sexo. Para mim, um dos filmes mais legais que já vi nos últimos tempos, sem exagero.

Vou dar um spoiler para explicar uma coisa muito importante, quem não quiser saber pode pular para / SPOILER TERMINA /.

/ SPOILER COMEÇA /

A criminosa Kurotokage tem uma coleção muito, er, peculiar. São corpos humanos bonitos, empalhados. Eles aparecem no filme, em seu covil, quando ela os exibe para a sequestrada Sanae (Kikko Matsuoka), que depois se revela ser uma sósia de Sanae contratada para se passar por ela.
A curiosidade: o homem empalhado que Kurotokage beija na boca é ninguém menos que… Yukio Mishima.
É um selinho apenas, OK. Mas é babado.
Isso alimentou os rumores de que Mishima e Miwa teriam tido um caso em algum momento da vida. Miwa já chegou a declarar que "Mishima não era um homossexual de verdade". Bicurioso, então? Enfim. O artista também se colocou contra o livro de Fukushima de 1998.
Como já contei lá em cima, Mishima morreu dois anos depois do filme lançado.

/ SPOILER TERMINA /

O trabalho na imagem de Miwa como uma mulher misteriosa e sedutora é típica do filme noir, mesmo que Kurotokage não seja um noir – a relação vem da inspiração, pois o argumento vem de um romance policial com direito a um superdetetive, mas a cinematografia também ajuda, cheia de sombras, ambientes noturnos.
Também acho interessante o jeito que o detetive é construído. Akechi tem prazer em desvendar os casos. A relação dele com Kurotokage é de interdependência, com ambos precisando dessa nêmesis para existirem em sua melhor performance. Ninguém é inocente. Akechi não é um herói. Ele depende do crime para fazer o que faz da vida: desvendá-lo.

Às vezes, Kurotokage fala com Akechi usando o espelho de seu bar. Eles são o espelho um do outro? Dois lados de uma mesma moeda?

Às vezes, Kurotokage fala com Akechi usando o espelho de seu bar. Eles são o espelho um do outro? Dois lados de uma mesma moeda?

Mas Miwa assumiria um papel ainda mais misterioso em Kuro Bara no Yakata, ou Mansão da Rosa Negra: o lagarto negro agora vira uma rosa negra no filme de 1969.

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A história de Kuro Bara no Yakata é de uma mulher misteriosa, Ryuko (Akihiro Miwa), que sempre carrega uma rosa inteira preta. Ela diz que, quando encontrar o verdadeiro amor, a rosa ficará vermelha. Uma coisa meio Bela e a Fera, né? Ninguém sabe do passado de Ryuko e ela atrai a atenção de Kyohei (Eitarô Ozawa), o dono da Mansão da Rosa Negra. O local é uma espécie de clube da alta sociedade, no qual Ryuko passa a se apresentar cantando e encantando (kkkkk desculpa, não resisti a essa frase feita). Os homens caem de amores, um pouco pelo mistério, um pouco pela beleza.

Homens do passado de Ryuko começam a aparecer. Eles alegam que se casaram ou que namoraram a musa, que ela os enlouqueceu ou que era má, mas seguem apaixonados. Ainda assim, Kyohei, que é casado e já tem dois filhos criados, torna Ryuko sua amante.

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Tudo parece ir bem até que o filho mais novo de Kyohei, Wataru (Masakazu Tamura), reaparece. Desde o começo, fica claro pela fala dos outros personagens que ele é um rapaz problemático, ovelha negra. E adivinha? Ele se apaixona por Ryuko…

Aqui, a figura de Ryuko, apesar de ainda mais misteriosa que a Kurotokage, é menos dúbia. Ela é a vamp, a que leva os homens à ruína. O toque subversivo fica por conta dessa figura tão desejada ser interpretada por um homem: a audiência sabia, o elenco sabia, todo mundo sabia. Não é um filme tão bom quanto Kurotokage, mas gostei.

Curiosidade: o diretor de ambos os filmes é Kinji Fukasaku. Em 2000, ele fez o filme que muita gente diz que influenciou Jogos Vorazes: a fábula sinistra Battle Royale.

Miwa acabou dando um tempo nas telonas após essa dobradinha e se dedicou à carreira de cantor. Isso deu em clássicos, como isso aqui:

Em 2012, já como uma personalidade consagrada no meio artístico, Miwa se apresenta pela primeira vez no tradicional Kôhaku Uta Gassen, o festival de fim de ano transmitido pelo canal NHK. Na época com 77 anos, ele foi a pessoa mais velha a se apresentar pela primeira vez no Kôhaku. E pelo que entendo também foi o artista que apresentou a música mais longa na história do festival, que costuma ser bem rígido com o tempo de apresentação dos artistas participantes, geralmente em torno de três minutos. Olha aí:

Antes disso, Miwa dublou um personagem de anime muito querido de quem curte Studio Ghibli. É a bruxa com papeira, como diria meu marido, de O Castelo Animado!

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Miwa segue vivíssimo. Vai fazer 86 anos.

Bônus: OLHA. ESSE. CLOSE.

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February 25, 2021 /Jorge Wakabara
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Quem é que NÃO estava no elenco de Mal Posso Esperar (1998)?

February 15, 2021 by Jorge Wakabara in cinema, música

Às vezes, tudo que você quer é um filme que vai te passar aquela sensação de derretimento de cérebro (isso também acontece com algumas séries e com Keeping Up With the Kardashians). Se o entretenimento contar com Jennifer Love Hewitt no papel principal, bem… por que não? Parece irresistível.
Mal Posso Esperar às vezes passa na TV a cabo (meu marido adora TV a cabo, então sim, somos os únicos millennials que seguem assinando TV a cabo apesar do advento do streaming). Ele foi escrito e dirigido por uma dupla: Harry Elfont e Deborah Kaplan, que além disso nos deram outro filme derretedor de cérebro fantástico, a inebriante live action de Josie and the Pussycats de 2001. Muito que bem.

A história de Mal Posso Esperar é bem idiota, não vou nem tentar disfarçar. Tudo se passa na noite da formatura do Ensino Médio de uma turma e eles encontram uma festa numa casa que se transforma em, bem, um campo de guerra bem festivo. Aí você começa a acompanhar paralelamente tramas de personagens específicos: o menino esquisito que quer perder a virgindade, os nerds que querem vingança, o menino que é apaixonado por uma garota popular que nunca deu bola para ele… Os clichês vão se amontoando. Portanto, um filme perfeito para o cérebro derreter: não requer esforço. Mas existe um charme aqui:
1. Os looks, que GRITAM anos 1990. Blazer de veludo? Gargantilha? Birotinho no cabelo? Babylook? Tie-dye? Tudo isso está lá. Como os anos 1990 foram os anos da minha adolescência e eu provavelmente era o público-alvo desse filme (me formei no Ensino Médio exatamente em 1998 e entrei para a primeira faculdade em 1999), o gosto familiar fica ainda mais forte para mim.
2. O elenco. Gente. O filme vai avançando e você vai dizendo a todo momento: "Nossa. Olha esse cara… Lembra?!” Ajuda o fato de que o elenco é enorme, cheio de participações.

Então decidi enumerar esse povo aqui. Vamos lá?

A musa: Jennifer Love Hewitt

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Qual é a graça de Jennifer Love Hewitt? Não me pergunte, eu não saberia explicar. Ela é a sem sal mais salgada que existe. Quando Mal Posso Esperar saiu, ela tinha acabado de estourar como a protagonista de Eu Sei O Que Vocês Fizeram no Verão Passado um ano antes e já tinha um papel recorrente na série O Quinteto.
As quase camp Ghost Whisperer e The Client List viriam só em meados dos anos 2000 (e na minha cabeça são tão ruinzinhas que uma é sequência da outra, apesar das histórias não terem nada a ver – em comum, possuem protagonistas tão pouco expressivas que são engraçadas, encarnadas por Hewitt kkkkkkk).
Para quem não sabe, além de Mal Posso Esperar, Eu Sei o que Vocês Fizeram e O Quinteto, Hewitt conquistou seu lugar como namoradinha da América com uma carreira… na música. TRÊS discos gravados! Ficou chocada, more? Eu fico toda vez que lembro.

KKKK WTF
Hewitt ficou tão marcada e encantada por seu papel como Amanda Beckett em Mal Posso Esperar que anunciou, em 2019, que queria fazer um filme que funcionaria como sequência com o mesmo elenco, que ela mesma dirigiria (!!!). Saiu até no Page Six. Mas a história nunca mais voltou a ser citada, então é provável que tenha sido abortada.

O boy: Ethan Embry

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Aquele rostinho que você pensa CARACA, EU CONHEÇO, DE ONDE MESMO? Pois é, você conhece! Embry diz que não lembra de nada das filmagens de Mal Posso Esperar nem do filme em si, porque na época que encarnou Preston Meyers ele era um baita maconheiro. Antes desse longa, ele apareceu em Empire Records (1995) e The Wonders: O Sonho Não Acabou (1996). Mas provavelmente você está se lembrando desse rostinho da TV: de Once Upon a Time ou Grace and Frankie. Ele é o Coyote, filho da Frankie (Lily Tomlin).

Também existe a história de que, para a cena do beijo, Hewitt teria discretamente dado umas balinhas de menta para Embry, porque o hálito dele era meio, hum, comprometido pelo alto uso de marijuana.

O nerd: Charlie Korsmo

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Esse é um dos casos mais instigantes do elenco do filme. Korsmo foi um ator mirim que prometia: participou, por exemplo, de Dick Tracy (1990) e Hook – A Volta do Capitão Gancho (1991). Aí sumiu. Aí apareceu de novo em Mal Posso Esperar no papel do nerd que fica bêbado. Aí sumiu de novo!

Ele é um megaprofessor de direito. Tem quem diga que grande parte dos seus papéis que rejeitou quando parou de atuar em 1991 foram para Elijah Wood, então é provável que, se ele continuasse, a carreira de Wood fosse um pouco menos estrelada!

Charlie, que hoje prefere ser chamado de Charles, voltou uma vez apenas para o set de filmagens até hoje. Foi para participar de Chained for Life (2018), um filme que eu sou super a fim de ver e não vi até agora. Parece bem bom! Olha o trailer:

A moderna: Lauren Ambrose

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A verdadeira “garota do lado” não era Hewitt e sim Ambrose: cativante, acessível, divertida. Quem não tinha uma amiga que nem ela, a melhor amiga que, surpresa, tem uma história ainda mais interessante que o tal “casal principal"?

Esse foi o primeiro grande papel da atriz, que depois chegou a ter um personagem fixo em O Quinteto. E você deve se lembrar dela de Six Feet Under, né? Ela é boa, devia ser melhor aproveitada por Hollywood.

Mas se as telonas não querem… ela arrasa nos palcos. Ambrose já foi indicada a um Tony por sua performance em My Fair Lady na Broadway em 2018.

O babaca: Peter Facinelli

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GIFs que dizem tudo: exala energia cretina, né?
Que personagem ODIOSO!

Rapidamente Facinelli foi perdendo o brilho de protagonista e escorregando para o coadjuvante. Também esteve em Six Feet Under, num papel menor que o de Ambrose. É o Dr. Carlisle Cullen, pai adotivo de Edward Cullen (Robert Pattinson) em Crepúsculo (2008) e as sequências da franquia. É Rupert Campion, o diretor da nova versão de Funny Girl de Glee. É o Dr. Fitch Cooper em Nurse Jackie. É o vilão Maxwell Lord na série Supergirl (sim, o mesmo personagem depois encarnado por Pedro Pascal no Mulher-Maravilha 1984, mas numa pegada bem diferente).

Curiosidade: ele fez o papel do odioso Keith Raniere numa adaptação para a TV da história da seita NXIVM.

Ah, e ele também é diretor. Já fez dois longas.

O esquisitão: Seth Green

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Poucas pessoas podem dizer que estiveram em filmes clássicos adolescentes dos anos 1980 e dos anos 1990: Green pode. Ele era o irmão do protagonista Ronald Miller (Patrick Dempsey) em Namorada de Aluguel (1987) e, claro, é o Kenny Fisher de Mal Posso Esperar. O currículo, hum, invejável ainda incluiu um personagem fixo na trilogia Austin Powers (ele é o filho do Dr. Evil), o personagem Oz da série Buffy, a Caça-Vampiros (aliás, ele é BFF da Sarah Michelle Gellar, a protagonista), o personagem recorrente Mitch Miller em That 70's Show… Isso sem contar os mil jobs dele como dublador, principalmente em Family Guy como Chris Griffin, o filho do meio, de bonezinho.

Uma das namoradas: Jaime Pressly

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Você olha e pensa: "Será que eu tô confundindo com a Margot Robbie ou eu realmente a conheço?"
Resposta: ambas as alternativas.

Pressly participou de outras coisas grandes. Ela é a Jill na série Mom. Ela é Joy Turner, a ex-mulher de Earl em Meu Nome é Earl. E, bem, ela participa de Não é Mais um Besteirol Americano (2001)… assim como Chris Evans, antes que você fale qualquer coisa.

O cara da melancia: Jason Segel

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Uma das melhores coisas de Mal Posso Esperar é pescar as participações especiais. Entre elas, aqui está Jason Segel num papel que é literalmente esse: ele é o cara da melancia.

Caso você tenha virado um eremita durante os anos 1990, te falo tudo: ele faz parte daquela turminha hype de Hollywood que fez Freaks and Geeks em 1999 e daí para frente, sempre esteve mais ou menos envolvido com eles. As pessoas costumam lembrar bastante dele por How I Met Your Mother. Ou por Sex Tape – Perdido na Nuvem (2014)? Risos. Tem quem ame Ressaca de Amor (2008). O novo Adam Sandler? Acho que não é para tanto, e confesso que o papel que mais me marcou dele é o de… Gary, em The Muppets (2011).

Desculpa por ser assim.

A que dá um fora: Clea DuVall

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No mesmo ano de Mal Posso Esperar, DuVall nos encantaria para sempre como Stokes em Prova Final. ou pelo menos encantou a mim. Em 1999, participou de outro clássico, Ela é Demais, e de uma dobradinha que eu amo: But I'm a Cheerleader e Garota, Interrompida. Acho que foi nessa dobradinha que ela conquistou o coração da nação sapatã e nem precisou sair do armário, né?
Os mais novinhos talvez se recordem mais do papel de DuVall em The Handmaid's Tale - ela é Sylvia. E DuVall é a roteirista e diretora de Alguém Avisa?, a comédia romântica de 2020 protagonizada por um casal lésbico interpretado por Kristen Stweart e Mackenzie Davis.

O babaca do passado: Jerry O’Connell

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É engraçado pensar que O’Connell é o cara que chega para avisar o personagem de Facinelli que a faculdade não vai ser tão legal quanto ele imagina. Um ano antes, ele estava em Pânico 2, lembra? Justamente na faculdade.
E bem, antes disso O’Connell é simplesmente um dos garotos do quarteto de Conta Comigo (1986), uma das maiores adaptações de Stephen King para o cinema. Só de lembrar eu dou uma lacrimejadinha.

Ah, e ele faz parte do elenco de Missão: Marte (2000), de Brian de Palma – ter feito parte de um filme do De Palma, para mim, é babado…

Curiosidade: O’Connell interpreta o namorado no clipe de Heartbreaker de Mariah Carey.
Curiosidade 2: O’Connell é casado com Rebecca Romijn, a primeira Mística daquela primeira trilogia X-Men.

A outra menina: Selma Blair

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Amo a Selma Blair demais, mas principalmente pelo que ela faz agora. Quem interpretou Kris Jenner além dela? E a stripper madrasta de uma das Heathers na série Heathers, uma das melhores coisas ali? OK, não é tão difícil, a série é ruinzinha, mas o que importa é que ela realmente está incrível no papel.

Um pouco depois dessa ponta em Mal Posso Esperar, Segundas Intenções (1999) e aquele beijo (você lembra, não adianta disfarçar) chegariam ao cinema. E depois ainda ia ter Legalmente Loira (2001) – Blair é uma das únicas pessoas que consegue usar uma boina e me fazer rir. Em geral, tenho vontade de chorar (odeio boinas, então imagina como está sendo para mim assistir as bichas tentando fazer essas coisas horrorosas voltarem em RuPaul's Drag Race e RuPaul's Drag Race UK).

Ah, e teve o Hellboy do Guillermo del Toro, né? Hehehehe

(E eu adoro que ela é a irmã da Dra. Smith Parker Posey no novo Perdidos no Espaço, é muito perfeito as duas serem irmãs <3)

A garota do livro do ano: Melissa Joan Hart

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A Sabrina Spellman mais legal (a Sabrina da Netflix é muito chata) arrumou um tempinho entre as gravações da série para fazer essa ponta.

Não tenho muito o que falar dela, e não é shade: ela realmente não fez nada tão bem sucedido quanto a série da Sabrina. Mas o papel dela em Mal Posso Esperar é concretamente memorável, apesar de aparecer relativamente pouco: a menina que fica atrás do povo para eles assinarem o livro do ano dela é engraçada demais. O filme acaba e ela é uma das coisas que permanecem na sua cabeça.

O cleptomaníaco: Chris Owen

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O briefing do seu papel é: você vai aparecer roubando coisas.
Simples assim.
Chris Owen já tinha uma cara de menino endemoniado. Depois, seria o Sherman em American Pie (1999). Então, se você é o Guga Chacra, você o reconheceu.

Estou vendo pela milésima vez a cena do Finch c/ a mãe do Stifler no American Pie. Sério que acho uma das mais cômicas da história do cinema. Mas talvez a melhor do filme seja a do Jim fazendo striptease para a Nadia. Enfim, filme anos 1990. Quem foi adolescente na época entende

— Guga Chacra (@gugachacra) July 11, 2020

O vocalista da banda: Breckin Meyer

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Você não lembrava do nome dele, mas da cara… É que Meyer domina os castings de filme adolescente da época, desde A Hora do Pesadelo 6 (1991) até As Patricinhas de Beverly Hills (1995). Esse agente trabalhou, viu? Mas talvez, no fundo, eu lembre dele das propagandas da série Franklin & Bash, na qual ele era um dos protagonistas. Passavam toda hora.
Nunca vi a série.

O baterista de chapéu de caubói: Donald Faison

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Outro que veio do elenco de Patricinhas de Beverly Hills, Faison também fez fama no elenco fixo da série Scrubs. Simpatizo com ele.

Bom, eu poderia falar de TODO O ELENCO de Mal Posso Esperar, mas ainda falta muita gente. Chega, né?

Deixei alguém que você ama de fora? Reclame no SAC.

E reassista Mal Posso Esperar. Não vai ser tão ruim assim, garanto.

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February 15, 2021 /Jorge Wakabara
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cinema, música
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A voz delas – na música: Veneno, Close, Rogéria, Valéria

January 17, 2021 by Jorge Wakabara in TV, música, cinema

Você já viu a série que todo mundo comenta mas que a HBO está bobeando em não trazer logo para o Brasil? Estou falando de Veneno, que conta a história real de Cristina Ortiz Rodríguez, mulher trans que virou uma celebridade pop na Espanha ao ganhar destaque na TV no programa Esta Noche Cruzamos el Mississipi.

Não é à toa que quem viu não para de falar dela. Mesmo quem não conhecia La Veneno fica vidrado – meu caso. A série acerta ao misturar a linha do tempo entre infância, adolescência e os picos da carreira dela com os anos 2000 e seu encontro com Valeria Vegas, uma jovem jornalista que começa a transicionar depois de conhecê-la ao vivo e que acabou escrevendo a biografia dela, ¡Digo! Ni puta ni santa. Las memorias de La Veneno, o livro que se transformou na série.

Outro acerto: todas as personagens trans são interpretadas por mulheres trans. Inclusive Cristina em si, que fora sua fase criança e adolescente, é encarnada por Jedet, Daniela Santiago e Isabel Torres. E uma curiosidade: a grande amiga de Veneno, Paca La Piraña, é interpretada pela própria!

Cristina infelizmente morreu em 2016, pouco tempo depois do livro de Valeria ser lançado.

Valeria Vegas e Cristina Ortiz Rodríguez no lançamento do livro

Valeria Vegas e Cristina Ortiz Rodríguez no lançamento do livro

Para quem gostou da série, a boa notícia que li por aí é que vai existir uma segunda temporada da série – isso se o meu espanhol funcionou e leu direito… Risos. E para quem gosta de música: assim como muitas pessoas que ficavam famosas na época, La Veneno acabou se aventurando como cantora. Gravou umas coisinhas.

Veneno pa tu Piel é o grande hit – um poperô malandro. Eu gosto. Também tem El Rap de la Veneno, com uma base bem chupada de Robin S., no Spotify:

É um pouco inevitável para o brasileiro fazer um paralelo entre Veneno e Roberta Close, apesar das mil diferenças: um pouco de época, muito de país e de discurso. Close era maliciosa mas não tão desbocada, que eu me lembre nunca falou de prostituição como a espanhola. Em torno de Roberta, a curiosidade girava no fato dela ser uma mulher belíssima – a fetichizaram, tornaram-na exótica. Saiu em fotos eróticas, virou mito sexual.

E virou música.

Aiai. Por onde começo?

Bom, era 1984. Foi boa a intenção, Erasmo Carlos, mas a música insiste em afirmar que tem algo “errado” com Roberta, que “não fosse o gogó e os pés, a minha lente tava na dela". Apesar de exaltar a beleza, bem… tudo errado.
Uns anos mais tarde, na mesma década, a própria Roberta Close gravou uma música de A. Lemos, Gabriel O’Meara (que já tinha feito coisas gravadas pelo próprio Erasmo e por Sandra de Sá, na época só Sandra Sá) e o Sergio Motta (que, apesar de estar nos créditos, imagino que só tenha produzido, pois era mais especialista nisso). Sou Assim é bem menos cancelável que a homenagem de Erasmo, além de ser charmosa, didática e muito pop:

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Adoro esse monólogo no meio de Sou Assim: “É isso aí, esse é o meu recado. Eu sou assim, é, gatinho, vamos nessa, tá? Vem, vem chorar na rampa [raba? ramba? sei lá], eu e você! E eu amei, é, eu sou a gatinha, eu sou a gata, miau, miau, tá? Miau pra todos! Kisses, kisses, bye bye!"

Perfeita. Miau pra todos!

Mas que tal voltar ainda mais pra trás? Ou, se preferirem, vamos pra frente, para 2016, quando foi lançado o Divinas Divas.

Esse documentário dirigido pela Leandra Leal é estonteante e necessário. Ao contrário de outras diretoras que se inserem no contexto do seu doc de uma maneira um tantinho forçada (ops, falei), Leandra herdou o Teatro Rival e parte desse fio de narrativa. O Rival foi palco de teatro de revista com as artistas trans daquela época, em que ninguém chamava de trans e todo mundo chamava de travesti ou transformista. Esse local de alguma maneira se atreveu a ser um oásis de liberdade mesmo durante a ditadura militar. O filme então une esse grupo formado por essas artistas que fizeram parte daquele momento: Rogéria, Divina Valéria, Jane di Castro, Eloína dos Leopardos, Fujika de Halliday, Brigitte de Búzios, Marquesa e Kamille K.

Rogéria, a gente sabe, tem esse disco aqui:

Mas é tipo podcast kkkk Uma peça gravada. Não era música. Saiu em 1980.

De qualquer forma, Rogéria foi a mais pop de todas. Participou de novela da Globo, de filmes, se apresentou no Rival. Ela mesma dizia que era a travesti da família brasileira.

Mas hoje eu queria terminar falando de Divina Valéria.

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Divina Valéria segue firme e forte, amém, e sempre gostou de cantar, não tinha isso de dublar. Ela começou sua carreira em 1964 em boates do Rio. Em 1966 (ou 1964? ou talvez 1967? as datas variam), seria criado o espetáculo Les Girls, dirigido por Mário Meira Guimarães e com músicas e letras de João Roberto Kelly. Encenado na boate Sótão na Galeria Alaska (a Galeria do Amor da música do Agnaldo Timóteo, e sim, significa…), Les Girls trazia não só Divina Valéria como Rogéria, Marquesa… Foi um estouro. Todo mundo queria ver as travestis do espetáculo.
O que pouca gente sabe é que Les Girls também rendeu um compacto para Divina Valéria com as músicas que ela cantava no show. Já encontrei o compacto inteiro no YouTube mas ele sumiu – sobrou essa faixa com um medley de sambas, e só por ela, meu bem… Você vai entender porque eu quis falar disso:

Bom, pula o fato do artigo estar errado no título – é sempre A travesti, tá, amizades?
Mas veja bem. A sequência é de:
Ataulfo Alves com Paulo Gesta, Zé Keti, Newton Chaves, Vinícius de Moraes com Tom Jobim, Zé Keti de novo, Cartola, Monsueto, Luiz Reis com Heraldo Barbosa.
Chora no bom gosto, chora no talento.

Falando nele: Newton Chaves morreu de covid-19 faz algumas semanas. Uma tristeza.

Queria tanto esse disco.
Viva a Divina Valéria!

divina-valeria.jpg

E claro, viva Veneno, Roberta, Rogéria!

Bônus: Amanda Lepore também tem toda uma discografia, viu?

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TV, música, cinema
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Pierre Cardin & Jeanne Moreau

December 24, 2020 by Jorge Wakabara in cinema, moda, música

A dupla mais conhecida de atriz e estilista que se tem notícia é Audrey Hepburn e Hubert de Givenchy – juntos, eles criaram um estilo, dentro e fora das telonas. Menos famoso mas com imagens icônicas, temos o duo Catherine Deneuve e Yves Saint Laurent: quem já assistiu A Bela da Tarde e Fome de Viver sabe. Só que Deneuve era bem menos fiel a YSL, apesar de adorá-lo, tanto que virou o rosto da campanha do perfume Chanel No. 5 e, assim, também ajudou a fragrância a virar um ícone eterno.

Mas existem outras duplas formidáveis por aí. Talvez a menos, digamos, heterodoxa e burguesa seja a formada por Pierre Cardin e Jeanne Moreau. Não digo isso na questão de imagens de moda criadas por eles (Moreau, assim como Deneuve, usava outros estilistas). Mas sim na relação entre eles: Cardin, homossexual que nunca esteve no armário, teve um relacionamento amoroso com Moreau. De fato. Ele já disse publicamente que eles transaram – um desses momentos, aliás, hilário, está no documentário O Império de Pierre Cardin, que abriu a edição desse ano da mostra de documentários fashion Feed Dog. A mostra já acabou, e de qualquer forma o filme só passou na abertura.

Já uma estrela de considerável fama, pós-Jules e Jim, Moreau encontrou Cardin enquanto experimentava uma de suas criações. Eles passaram cerca de cinco anos juntos e permaneceram amigos após o término. Dizem que Moreau, uma mulher que gostava de sexo e não escondia de ninguém (imagina isso nos anos 1960), devia ter ficado atraída pelo desafio de conquistar um homem gay. Acho que, na verdade, nenhum dos dois restringia suas possibilidades tampouco ligava para regras sociais, e assim se permitiram viver uma história juntos. Tem coisa mais chique que ser livre de amarras? Moreau, acima disso, já era (ao meu ver) uma atriz completa que não se contentava com o posto de musa que tantas outras se encaixaram na nouvelle vague. Nada contra musas, pelo contrário, amo todas. Mas Moreau tinha mais dimensões e imprimia profundidade.
Enquanto isso, Cardin não era um neófito no cinema. No começo de sua carreira, ele fez o figurino de nada menos que… A Bela e a Fera de Jean Cocteau, de 1946!

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Era natural que Cardin se envolvesse com figurino de cinema, porém sua verdadeira adoração é o teatro. Ele chegou a ser dono de um. E fez inúmeros figurinos para o palco.

A duplinha Moreau-Cardin aparece nas telonas pela primeira vez em A Baía dos Anjos (1963), de Jacques Demy, então um diretor ainda desconhecido, no qual a atriz interpreta Jackie, uma jogadora compulsiva.

O figurino não é estonteante mas é bonito. O look total loira é mara!

Captura de Tela 2020-12-20 às 13.11.54.png

Depois, viria Peau de Banane no mesmo ano de 1963, direção de Marcel Ophüls. Ela contracena com Jean Paul Belmondo.

A comédia traz Moreau como Cathy, que quer vingança dos sócios de seu pai que o roubaram. Ela se associa com três malandros, sendo um deles seu ex-marido, Michel, interpretado por Belmondo.

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Em 1964, Moreau encarnaria um mito histórico que já havia sido interpretado por outras – inclusive por outro mito, Greta Garbo. Era Mata Hari, agora vestida em looks Pierre Cardin. A direção era de Jean-Louis Richard.

Os looks de festa e de show (afinal, Mata Hari era uma espiã dançarina) são bem mais arrojados do que ele inventou anteriormente para Moreau. Gosto particularmente da transparência, o peitinho pra jogo e tals!

Captura de Tela 2020-12-20 às 13.31.17.png

Em 1965, saía Viva Maria!, a comédia de Louis Malle que juntava Moreau com Brigitte Bardot nos papéis principais.

A história é bem doida: em 1907, no México (?!), uma Maria (Moreau) é filha de um terrorista irlandês que morre. Aí ela encontra outra Maria (Bardot), uma cantora de um circo. Elas acabam formando uma dupla, inventam o strip-tease (?!?) e de repente se vêem no centro de uma revolução socialista (????) contra um ditador e a igreja.
Mais ou menos nessa época, o México realmente passou por uma revolução que o tirou de um regime ditatorial. E mais ou menos na época do lançamento do filme, países da América Latina viraram ditaduras militares (o México não). Ou seja, o filme era tanto uma paródia solta com certa referência leve à história quanto um comentário a respeito do que estava acontecendo no mundo naquele momento.

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O figurino de Cardin, claro, é de época. E uma curiosidade: Moreau ganhou o BAFTA de Melhor Atriz Internacional com Viva Maria!

O próximo filme com a dupla Moreau-Cardin é Le Plus Vieux Métier du Monde (1967), que na verdade é um conjunto de curtas que trazem histórias de prostitutas (na tradução, o título é “a profissão mais antiga do mundo”). A com Moreau (que é a única a usar looks Cardin no longa) é Mademoiselle Mimi, dirigida por Philippe de Broca. Conta com outras atrizes nos outros segmentos como Elsa Martinelli e Rachel Welsh.

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A colaboração derradeira para o cinema entre Cardin e Moreau é um filme brasileiro. Joanna Francesa, de 1973, é de Cacá Diegues, se passa nos anos 1930 e traz Moreau como a Joanna do título. Dona de uma casa de prostituição em SP, ela aceita ir com Coronel Aureliano (Carlos Kroeber) para o engenho dele no interior de Alagoas e lá conhece outra realidade.

Duas curiosidades:
. Cardin também participou do filme como ator. Ele é Pierre, o cônsul francês de São Paulo e ex-amante de Joana, de terninho branco.
. Moreau foi dublada para Joanna Francesa. A responsável por sua voz é ninguém menos que… Fernanda Montenegro!

Acho interessante o figurino de Joanna e do universo ao seu redor, bem setentista no começo, cheio de cores no bordel, e depois mais areia, mais terroso, tanto nela quanto nos alagoanos.

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Jeanne Moreau fez muitos outros filmes depois de Joanna Francesa, mas, ao que consta, nunca mais usou um look Cardin na telona. Eles seguiram amigos até o fim da vida dela, de qualquer forma. Moreau morreu em 2017.

Chico Buarque que fez a música tema do longa, como se sabe. Aqui, um vídeo dele falando sobre a composição:

Será que a voz do Cardin mesmo, nesse trecho??

Cardin segue vivo. Ele está com 98 anos.
Por que a dupla Cardin+Moreau não é tão reconhecida quanto Hepburn+Givenchy ou mesmo Deneuve+Saint-Laurent? Eu respondo: porque não é tão impactante visualmente falando. A história é melhor que as imagens. Eis, então, a história!

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December 24, 2020 /Jorge Wakabara
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Gillian Anderson interpreta Margaret Thatcher em The Crown

Gillian Anderson interpreta Margaret Thatcher em The Crown

The Crown temporada 4: o imitador vs o ator

November 19, 2020 by Jorge Wakabara in cinema, TV

A essa altura você já sabe que a quarta temporada de The Crown estreou na Netflix. A série acumula fãs e deve ser uma das mais comentadas do serviço de streaming hoje ao lado de Stranger Things. E essa nova fase traz dois elementos que aumentam mais o interesse do pessoal: aparecem na trama a primeira-ministra Margaret Thatcher e Diana Spencer, a princesa do povo.

Não é novo mas é certo: a interpretação dramática de personalidades que existiram nos fascina. O último Oscar de Melhor Atriz foi para Renée Zellweger no papel de Judy Garland – um filme que nem todo mundo viu mas mesmo assim levou essa estatueta. São tantos outros exemplos: Meryl Streep como a mesma Margaret Thatcher, Natalie Portman como Jackie O, Babu Santana como Tim Maia.

Babu Santana no filme Tim Maia

Babu Santana no filme Tim Maia

Porém, algo parece separar essa turma. Portman, ao meu ver, não teve um desempenho tão bom quanto o Babu, por exemplo. O que houve? É que essa personificação precisa ultrapassar a mera imitação e injetar alguma humanidade naquela celebridade que só conhecemos em entrevistas, no palco, sob escrutínio público. Portman não conseguiu. Babu nadou de braçada. Muita gente odeia o desempenho do Rami Malek como Freddie Mercury, mas sinceramente também acho merecedor de Oscar. Meio caricatural em certos frames, OK, mas em outras cenas Malek traz uma dimensão humana para a estrela do rock.

E ainda existe outro tipo de caso, no qual acredito que Andrea Beltrão seja um ótimo exemplo no seu desempenho como Hebe Camargo. Ela não era parecida fisicamente com a apresentadora e nem usou de maquiagem para ficar igual. Mas existe algo de verdadeiro no personagem dela, sem precisar dessa ilusão física, que traz uma essência de Hebe. E você acredita na leitura dela. Já é o bastante.

Andrea Beltrão em Hebe

Andrea Beltrão em Hebe

Voltando para The Crown: a interpretação de personagens da família real do Reino Unido e outros que transitaram ao seu redor é um dos maiores apelos da série.

Gillian Anderson encarna Margaret Thatcher e o faz de maneira muito instigante. Quem conhece Anderson (ela é a eterna Agente Scully de Arquivo X) sabe que o seu tom de voz ali não é forçado ou inventado – claro que ela está falando de um jeito característico, mas a voz de Anderson normalmente é um pouco mais grave e rouca. Thatcher é um personagem desafiador porque sua versão da vida real já era meio caricatural, daquele jeito que só os políticos conseguem. Ou seja, o desafio é fazer algo próximo do caricatural (pois, afinal, ela era assim) e ao mesmo tempo crível, principalmente ao redor de interpretações mais naturalistas. Anderson consegue passar certas sutilezas no olhar e no gestual no meio dessa pegada histriônica. Acho que ela arrasou, desempenho digno de Globo de Ouro e Emmy. E vocês, concordam?

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Sua provável concorrente é a colega de elenco Emma Corrin. Nas fotos nem dá para ver tanto, mas é no vídeo que a mágica acontece: Corrin praticamente incorpora Lady Di no gestual, o jeito de olhar (aqueles grandes olhos de bicho assustado e curioso), a cabeça inclinada misturando timidez e carisma, o jeito de falar. Quem é meio viciado em Diana Spencer que nem eu, que viu um monte de vídeos, consegue reconhecê-la ali.

Josh O’Connor como Príncipe Charles e Emma Corrin no papel de Lady Di em The Crown

Josh O’Connor como Príncipe Charles e Emma Corrin no papel de Lady Di em The Crown

Pouco a pouco, como na vida real, Lady Di vai roubando a cena da família real na minissérie. É como reviver a história, agora em capítulos que você pode maratonar.

Mas a minha visão a respeito da nova temporada é a mesma da terceira. Pobre Elizabeth 2ª. Fica para escanteio. A série definitivamente não é mais sobre ela.

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November 19, 2020 /Jorge Wakabara
The Crown, Netflix, streaming, Margareth Thatcher, Lady Di, família real, Gillian Anderson, Arquivo X, Emma Corrin, Josh O'Connor, Príncipe Charles, Rainha Elizabeth 2ª
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