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Já existiu um outro Pablo que talvez tenha ido longe demais

November 02, 2020 by Jorge Wakabara in TV, música

Qual é a Música, o programa do Silvio Santos, era um marco pop nos anos 1980, de proporções que a geração Netflix de hoje não conseguiria entender. "SBT e era tão famoso assim?” Ôh, se era. Todo mundo assistia. Especialmente antes do Faustão ocupar os domingos da Globo, era no SBT que a gente ligava, sim.

E bem, o nome já diz tudo: Qual é a Música consistia em uma competição entre famosos com vários quadros, mas na grande maioria deles a resposta que precisava ser dada era pra pergunta… "Qual é a música?”, claro. Ou, na língua do Seu Silvio, “qual é a musicammmmm?". Num desses quadros, pra pergunta ser respondida, a música de fato tocava. E quem aparecia?
Ele. Pablo.
Não o Pabllo Vittar, que nem era nascido. Esse Pablo:

Pablo, cujo nome verdadeiro é Augusto José Rodriguez Carrascal, dublava as músicas na resposta. Antes, ele tinha uma parceira, Virgínia, que pintava a cara igual – ele dublava as vozes masculinas e ela as femininas.

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Depois, quando Virgínia saiu e Pablo ficou, a androginia das apresentações dele ficaram ainda mais aceleradas: Pablo dublava e gesticulava as vozes de ambos os sexos e chacoalhava seus cabelos. Tinha quem achasse que era peruca, mas ele jura que sempre foi cabelo dele.

Pablo é da Espanha. Ele já contou em entrevista que, no começo da carreira, trabalhava num banco de dia e fazia shows de dublagem e dança à noite em boates da Boca do Lixo paulistana. Ou seja… Ele era drag queen? Ou o que se chamava na época de transformista? Não sei, mas acho que não. Acho que fazia esses shows sem se vestir de mulher, até onde entendi.

Pablo também diz que a inspiração das pinturas de rosto vieram do Kiss. Não entendo, já que Secos & Molhados por aqui foi um supersucesso – tem essa briga pra saber de quem foi a ideia da pintura do rosto primeiro, né? Enfim.
Mas no lugar do preto e branco, que acharam pesado demais, queriam algo mais festivo. Pablo tacou glitter e disse que Silvio Santos adorou – aliás, comentou que o patrão adora tudo que brilha. Uma lantejoula, uma purpurina… SBT AESTHETICS, eu diria!

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Esse Pablo ia longe demais na época? Para os héteros de masculinidade frágil, me parece que sim: Pablo virou apelido pejorativo para gay. Uma bobagem.

Mas o que pouca gente sabe – o motivo para eu querer fazer esse post, inclusive – é que Pablo… cantava. Ele não dublava, apenas.

Primeiro choque: cadê o rosto pintado na capa do compacto de 1979?!
Segundo choque: as músicas (ambas!) são puro Sidney Magal. Regrava, Magaaaal!

Ufa, nessa versão de capa tem pintura facial

Ufa, nessa versão de capa tem pintura facial

Esse Pablo canta bem? Não. É bem qualquer coisa. O sotaque dá um charminho, mas o timbre é meio fuén. Tanto que é o coro que segura os refrões. Mas as músicas são boas, vai. Dança comigo! Disco music em português IS MY LIFE.
Em ambas as canções desse disquinho, Eu te Amo e Onde Vai, a gente vê Valentino Guzzo entre os compositores. O intérprete da Vovó Mafalda foi quem descobriu Pablo e o levou pro SBT.

Tem mais? Tem mais.

Instrumental bem Gretchen, delícia. Nessa ele até arrisca falar umas frases em espanhol. Acho que a ideia era ficar meio sexy. Hum… OK.
Sinceramente prefiro o primeiro compacto.
De qualquer forma não achei Alegria na Milonga, o lado A do segundo compacto! Alguém tem? Me passa? Fiquei curiosíssimo!

Pra terminar: em 2019 Pablo estava morando em Londres.
Não acho a Europa tão longe. ;)

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November 02, 2020 /Jorge Wakabara
Qual é a Música, Silvio Santos, anos 1980, pop, SBT, Pablo, androginia, Espanha, Boca do Lixo, Kiss, Secos & Molhados, glitter, homofobia, homossexualidade, Sidney Magal, disco music, Valentino Guzzo, Vovó Mafalda
TV, música

Uma dupla maravilhosa: Luiz Melodia e Zezé Motta

October 28, 2020 by Jorge Wakabara in cinema, música

Esse vídeo aí de cima está no documentário Todas as Melodias de Marco Abujamra, que está em cartaz na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo online – é só chegar nesse link, pagar R$ 6 e assistir (até 5/11 ou quando 2.000 pessoas tiverem a mesma ideia que você, porque depois de 2.000 pagantes eles “fecham” o filme).

O doc é bem bonito – conta, de maneira não-linear, a história de Luiz Melodia. Mas mais do que isso, ele também mostra a poesia de Melodia com muita sensibilidade e belas imagens.

Da Mostra, por enquanto, também vi o Coronation de Ai Weiwei (doc sobre Wuhan em plena pandemia, belo só que muito sofrido e amargo, difícil) e Verlust do Esmir Filho (ficção com Andrea Beltrão e Marina Lima que sinceramente achei que não deu certo, tinha potencial mas ficou pretensioso demais em alguns momentos, bobo demais em outros).
Ou seja, por enquanto Todas as Melodias, que liga Melodia à brasilidade e àquela velha pergunta “O que é ser brasileiro?", é o meu preferido dos que vi. Ainda pretendo ver outros, vamos aguardar kkkkkk

Mas esse post é sobre uma coisa que só fui me tocar ao assistir ao doc. A ligação artística intensa e rica entre Melodia e Zezé Motta.

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Pra começo de conversa, lá vamos nós: Zezé, patrimônio vivo da cultura brasileira, não recebe a atenção que merece, em especial nas suas obras como cantora. Ouçam Zezé, assistam Zezé.

Zezé Motta e Luiz Melodia formaram uma dupla no Projeto Pixinguinha, que começou em 1977, foi interrompido em 1997 por falta de verba e retomado em 2004 via Lei Rouanet e Petrobrás. O Projeto Pixinguinha levava shows de música brasileira a preços populares Brasil adentro. Não sei se esse vídeo do começo do post é de um show do projeto – parece. Segundo Melodia em entrevista pra revista Manchete em 1995, depois desses shows que atestaram a química musical deles, quiseram fazer um disco da dupla, mas queriam um disco recheado de hits potenciais. Ou seja, pediram pro Melodia, já com fama de maldito, fazer concessões artísticas pró-vendas. Risos. Claro que ele não quis.

E lá vamos nós, pro que esse casamento artístico rendeu mesmo sem disco-dueto…

O maravilhoso álbum de 1978 da Zezé Motta tem Magrelinha e Dores de Amores do Melodia e O Morro Não Engana, composição dele com Ricardo Augusto. São três das melhores interpretações de músicas da obra de Melodia, sem brincadeira. Dores de Amores, aliás, é um dueto com o próprio Melodia – resquício da vontade dos grandões de gravadora de um disco dos dois? Talvez. A verdade é que, com três das 11 músicas do repertório do álbum, esse é quase o disco que queriam que eles lançassem, né?

Melodia já tinha sido "lançado” no começo daquela década na voz de Gal Costa e o mítico show Fa-Tal: Gal a Todo Vapor – era o hit Pérola Negra, que Waly Salomão, o diretor, quis que Gal incluísse… e ela amou.

Antes desse disco solo de 1978, Zezé já tinha lançado um outro que citei aqui antes: uma parceria entre ela e Gerson Conrad, ele recém-saído do Secos & Molhados. Gosto bastante do resultado, mas era pra ele refletir uma parceria que, me parece, não deu tanta liga. Então, acho que podemos considerar esse homônimo de 1978 como a verdadeira estreia fonográfica da artista.

O reencontro de Zezé e Melodia só se daria em 1985, na faixa que dá nome ao álbum Frágil Força dela. É uma música meio jazzy, bem do jeito que a gente gostava que Melodia criasse, parceria com Ricardo Augusto.

Zezé demorou uma década pra lançar um disco novo. Chave dos Segredos, de 1995, traz uma coisa meio rumba na primeira faixa: Paixão é de, adivinha, Luiz Melodia!

Aí Zezé faz uma maravilha: Negra Melodia, de 2011, é formado só por músicas de Melodia e Jards Macalé. Maravilhoso. Ou seja: O Sangue Não Nega (com Ricardo Augusto), Começar pelo Recomeço (com Torquato Neto), Decisão (com Sergio Mello), Onde o Sol Bate e se Firma (sozinho), Vale Quanto Pesa (sozinho) e Divina Criatura (com Papa Kid) – tudo de Melodia!

Muita gente diz que Zezé Motta é a maior e melhor intérprete de Luiz Melodia, porque ela “entende a poesia dele" (ao que ela sempre responde: “às vezes eu não entendo, mas adoro assim mesmo” Rsrsrsrs!). E sendo que Gal já gravou Pérola Negra e Juventude Transviada.

E é verdade, mesmo: ela é a maior e melhor intérprete.
Melodia morreu em agosto de 2017. Em novembro, aconteceu isso aqui:

<3

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October 28, 2020 /Jorge Wakabara
documentário, Marco Abujamra, Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, Luiz Melodia, Brasil, Zezé Motta, Projeto Pixinguinha, Ricardo Augusto, dueto, Gal Costa, Waly Salomão, Secos & Molhados, Gerson Conrad, MPB, jazz, Jards Macalé, Torquato Neto, Sergio Mello, Papa Kid
cinema, música
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O russo amarelo que virou popstar: Viktor Tsoi

October 15, 2020 by Jorge Wakabara in música, cinema, política, arte

Desde que vi uma imagem de Viktor Tsoi pela primeira vez, pensei: ele é russo mas é amarelo. Ao mesmo tempo não tinha certeza, porque tem algo nele que estranhamente me lembra o meu amigo Ricardo Domeneck. ??? Então também achava que era algo que eu tinha inventado na minha imaginação fértil.

Mas surpresa, não era: Viktor Tsoi tinha ascendência coreana sim! E ele foi um dos responsáveis pela “trilha sonora da perestroika”. Como se não bastasse, teve um fim trágico, o que o transformou num daqueles ícones que morrem jovens (escapou da sina dos 27 anos: morreu com 28). É estranho que a gente saiba tão pouco dele, mas ao mesmo tempo… O que a gente sabe de cultura pop russa, né?

Pra escrever esse post, decidi assistir ao filme Verão (em russo, Leto), lançado em 2018. Ele não traz exatamente a história inteira de Tsoi mas sim um recorte específico, baseado nas memórias de Natalya Naumenko.

Esses são Mike e Natalya Naumenko

Esses são Mike e Natalya Naumenko

Natalya, que era casada com Mike Naumenko, da banda russa Zoopark, e tinha um filho dele, observou a aproximação de Tsoi, ainda músico iniciante, na turma do rock de Leningrado (na época, São Peterburgo era Leningrado). Viktor e Mike, que era considerado um veterano, com mais experiência e conhecimento sobre o rock, se aproximaram. E Natalya, cujo apelido era Natasha, se apaixonou por Viktor. Acabou falando dessa paixonite pra Mike e chegou a beijar Viktor, mas tudo não passou de uma tensão sexual mal-resolvida, no fim das contas.

No filme, Mike (Roman Bilyk) e Viktor (Teo Yoo)

No filme, Mike (Roman Bilyk) e Viktor (Teo Yoo)

Ou seja, o recorte do filme está bem no começo da carreira de Viktor Tsoi. Eles retratam como era a cena rock da União Soviética na época – eu sei porque já vi em documentários. Tinha todo um esquemão controlado pelo governo de shows nos quais o povo tinha que ficar sentado paradinho assistindo, aplaudindo só no final das músicas (no longa, as apresentações acontecem no Leningrad Rock Club que abriu em 1981). As letras passavam por censuras prévias. Ao mesmo tempo que os roqueiros eram vistos com maus olhos (afinal, estavam se rendendo à música corrupta do inimigo capitalista), essas manifestações eram quase uma válvula de escape permitida pelas instâncias superiores – meio que um mal necessário, que acabaria existindo mesmo que fosse proibido. E de fato também existia de maneira ilegal, em festas particulares. Aos roqueiros não era permitido ganhar dinheiro com shows, então eles ganhavam em apresentações ilegais e alguns tinham empregos fixos – caso de Mike. Viviam bem pobres no geral e por isso eram quase que forçosamente punks.

Um clique de Viktor fazendo um clique

Um clique de Viktor fazendo um clique

Bom, chegou a hora da surpresa: como eu estava dizendo, meu intuito ao assistir ao filme era saber mais da história de Viktor Tsoi. Simples assim, sem grandes expectativas.
Caros leitores… Que filme.
Verão chegou a entrar em circuito nacional, distribuído pela Imovision, e está disponível pra aluguel via Google Play. O diretor Kirill Serebrinnikov foi condenado à prisão domiciliar em agosto de 2017, no meio da produção. Dizem que a motivação dessa prisão foi política. Ele não estava presente nas últimas filmagens e coordenou a edição do longa da sua casa.
Verão tem vários trechos musicais. E é musical mesmo, não estou falando só de ator interpretando músico cantando uma canção. Estou falando de pedestre e usuário de transporte público cantando. Estou falando de uma quase coreografia (quase porque na verdade é mais posicionamento e partitura de gestos do que danças). Quem me conhece sabe que não gosto de musicais, mas a partir de agora, quando me questionarem, vou dizer que não gosto de quase todos. Mas Verão, por exemplo, é exceção.
Fica fácil quando as músicas que pintam, fora as de Tsoi e Naumenko, são Psycho Killer (do Talking Heads), The Passenger (do Iggy Pop), Perfect Day (do Lou Reed) e citações declamadas de Call Me (do Blondie). E na verdade perdi tudo mesmo nesse trecho maravilhoso:

(Sim, isso é um trecho do filme)

Uma direção delicada e cheia de energia, umas horas Jules et Jim, outras clipe Bang da Anitta, consegue trazer essa energia da época, essa vontade de pop (e de americanização, vamos falar claro, né) que existia nos últimos anos de poder soviético. Irina Starshenbaum no papel de Natalya está um desbunde, Anna Karina atualizada (ou meio não-atualizada, já que o filme se passa nos anos 1980).

O longa também mostra o encontro de Tsoi com a sua primeira mulher, Marianna Tsoi. Na história do filme, Natalya, cujo apelido era Natasha, dá um empurrãozinho na relação.

Uma coisa que acho muito legal de Verão, uma vez que ele é baseado nas memórias de uma participante dos acontecimentos, é que eles propositalmente misturam realidade e fantasia. Um dos personagens, o Cético (Aleksandr Kuznetsov), faz questão de falar com todas as letras em diversos momentos: “Mas isso não aconteceu". Como nunca fica claro o que realmente rolou, é como se você estivesse acompanhando uma história oral, na qual foi acrescentada uma pimentinha aqui e ali… Do jeito que sempre acontece quando falamos de lendas musicais e turmas de amigos, né?

Cena de Verão: Irina musa no papel de Natalya

Cena de Verão: Irina musa no papel de Natalya

Mas OK, voltando ao Tsoi: o filme termina no que parece ser a primeira apresentação oficial da banda que ficou mais conhecida de Tsoi, a Kino (em português, cinema).

A música Когда-то ты был битником ou Uma vez você foi um beatnik, que está no filme, faz parte do primeiro álbum do Kino, de 1982.

Uma espécie de new wave ainda sem elementos eletrônicos, ela é tosca, meio lou-reediana. Pós-punk raiz.

Tsoi não apenas compunha como chegou a participar de filmes. Em um deles, Assa, de 1987, que virou cult por trazer o rock russo que já pulsava no underground para o mainstream (ou seja, pra telona), Tsoi faz uma versão dele mesmo. Na cena abaixo, ele tenta um emprego como cantor num restaurante. Ao ouvir a lista de exigências da empregadora, ele se enche e literalmente sai andando até encontrar com a sua banda, Kino, e cantar Хочу перемен!
O significado do título da música? “Quero mudanças!” – ela virou uma espécie de hino jovem em meio da perestroika e glasnost.

Foi nas filmagens de Assa que Tsoi conheceu a assistente de direção Natalia Razlogova e se apaixonou. Ele acabou se separando de Marianna, mas eles não chegaram a se divorciar.

Outro filme, dessa vez com Tsoi interpretando o personagem principal, é Igla (1988), considerado o primeiro representante da new wave cazaque (ou seja, do Cazaquistão). Curioso? Segue no link. De nada!

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Em 1990, na Letônia, Tsoi morreu num acidente de carro. A investigação chegou à conclusão de que Tsoi dormiu no volante enquanto dirigia numa velocidade de 130 km/h. Não foram encontrados álcool ou drogas no organismo dele. Dizem que teve fã que chegou a se suicidar.
Tsoi já era cultuado – após a morte virou uma lenda. É relembrado nos países ex-soviéticos até hoje.

Encontrei pouca coisa a respeito da identificação de Tsoi enquanto amarelo. Sei que ele gostava de artes marciais e que se espelhava em Bruce Lee – devia ser uma identificação que passava pelo biótipo, claro. Tsoi chegava a ficar imitando movimentos do ator nos filmes pirateados. Em Verão, o personagem faz isso em uma cena.

Mas ele não é a cara do Ricardo Domeneck? #passado!

Mas ele não é a cara do Ricardo Domeneck? #passado!

Tsoi também se arriscava nas artes plásticas. Gosto bastante das coisas que já vi.

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Essa moça que está aparecendo nessa penúltima obra é a Joanna Stingray, que foi mulher de Yuri Kasparyan, colega de Tsoi no Kino na guitarra. Stingray é californiana e foi uma das responsáveis pela divulgação do rock soviético fora da URSS na época.

É isso. Ouça Kino.

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October 15, 2020 /Jorge Wakabara
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A primeira versão de Lady Marmalade (e as outras)

October 12, 2020 by Jorge Wakabara in música

Primeiro de tudo, vou precisar perguntar: por onde anda a Mya, hein?
Pois eu te respondo: ela lançou single em 2020 e tudo! Vixe!

Mas vamos voltar. É provável que você saiba que a versão de Lil’ Kim, Pink, Mya e Christina Aguilera (e Missy Elliot fazendo o rapzinho, né) para o hit Lady Marmalade, que entrou na trilha sonora de Moulin Rouge (2001), é uma versão.
E é provável que você ache que a primeira versão é a do grupo Labelle.

Mas… não. Não é!!!

Lady Marmalade é uma composição dos estadunidenses Bob Crewe e Kenny Nolan. Nolan tinha um grupo de disco music, The Eleventh Hour, que era produzido por Crewe. Nolan era o vocalista e o resto eram músicos de estúdio.

Com a febre disco que assolou os EUA e o mundo, era comum que os grupos lançassem muitos singles, na ânsia de obter um superhit nas pistas ou nas rádios (mas, principalmente, nos dois) e conseguir ficar rico graças a essa onda. É por isso que o primeiro álbum do The Eleventh Hour, de 1974, é um… Greatest Hits. Ele junta alguns singles lançados anteriormente e inclui algumas inéditas – entre elas, Lady Marmalade.

E não me entenda mal, a versão original do Eleventh Hour é boa. Acontece simplesmente que ela não fez sucesso, e a do Labelle é melhor.

Diz a lenda que Crewe mostrou a música pra Allen Toussaint em Nova Orleans. E aí entra em cena THE ONE AND ONLY Patti LaBelle e seu grupo.

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Até então, as Bluebells ou Bluebelles tentavam a fama ao redor de tantos outros girls groups e não tinham conseguido se diferenciar, apesar da potente voz da vocalista principal. O tempo passava e Patti via que a coisa precisava mudar.

O quarteto virou um trio (uma delas, Cindy Birdsong, saiu pra se juntar às rivais Supremes, BABADO), elas estavam bem desesperançosas e parece que surgiu uma luz. “Ah, é pra mudar? Então vamos mudar.” Patti, Nona Hendryx e Sarah Dash se reinventaram, numa das reviravoltas mais deliciosamente doidas do pop, e se transformaram no Labelle, um trio que usava roupas futuristas no palco dignas de Lady Gaga e que cantava não só sobre namorinho de portão mas sobre preconceito, revolução e… sexo.

Os looks do Labelle são maravilhosos e absurdos até hoje

Os looks do Labelle são maravilhosos e absurdos até hoje

Falar sobre sexo nas rádios e nas pistas era um escândalo. A escandalosa I Feel Love de Donna Summer, com gemidos e sussurros, só sairia em 1977. Estamos falando de 1974, mesmo ano de lançamento do Lady Marmalade do Eleventh Hour. A canção que falava do ponto de vista de uma prostituta de Nova Orleans era puro escândalo, e Toussaint, o produtor de Nova Orleans que assumiu a gravação do novo álbum do Labelle chamado Nightbirds pela Epic Records, sabia que a pegada rock soul dançante com o tema tabu era explosiva. Em agosto daquele mesmo ano, a toque de caixa, surgia o primeiro megahit do Labelle em single, topo da parada de R&B e da parada principal.

Isso engatilhou o sucesso do Labelle e da própria Patti LaBelle, que seguiria pra ser uma das maiores divas dos EUA com seus cabelos absurdos e performances energéticas da carreira solo.

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Querida…

Eu disse QUERIDAAA… OLHA ESSE PICUMÃ, CARAIO!

O tempo passou… E quem resgatou a música mais de uma década depois, fora alguns covers insípidos, foi Sabrina, uma cantora italiana que tinha um inegável sex appeal, em 1987.

A música estava no álbum de estreia de Sabrina e fez sucesso localizado no continente europeu. Depois, em 1991, foi a vez da protegida do Prince: Sheila E.

A versão dela é bacana mas curiosamente é menos sensual.
Aí, em 1998, surgia a versão de um outro girl group, dessa vez britânico. Estou falando do All Saints! A Lady Marmalade delas já tinha rap e tudo, viu?

Uma versão remixada dessa do All Saints (por Timbaland!) fez parte da trilha sonora de Dr Doolittle (1998).

E sim: aí, em 2001, que Missy Elliot juntou aquele grupo de cantoras poderosas pra trilha de Moulin Rouge. A letra da música foi adaptada, de Nova Orleans pro Moulin Rouge em si, mantendo o toque francês do "Voulez-vous coucher avec moi?” – a origem dessa pegada bilíngue é que o quarteirão da prostituição de Nova Orleans nos anos 1970 era o French Quartier. E a curiosidade: a Patti LaBelle diz que só descobriu o significado da frase ("você quer ir pra cama comigo?”) depois de gravar! Risos!

O clipe de Pink, Aguilera, Mya e Lil’ Kim é um clássico, né? Acho que foi mais influente em matéria de figurino que o filme em si, pelo menos entre as jovenzinhas. Uma coisa lingerie & bordel com maquiagem carregada e cartola que conseguiu traduzir um pouco das roupas das lolitas japonesas mas deixou tudo mais, digamos… malandrinho.

Existe a história clássica que a própria Pink conta que Aguilera queria roubar todas as melhores partes da música (leia-se, as que demonstravam extensão vocal) e Pink não abriu mão da sua, o que teria gerado uma treta entre as duas. Outros detalhes jogam mais pimenta nesse caldeirão: Pink diz que elas foram pra uma boate e que Aguilera tentou bater nela; Aguilera diz que na verdade elas estavam brincando de "gire a garrafa" – aquela brincadeira adolescente feita em roda na qual quem cai nas duas pontas da garrafa tem que se beijar. Xtina conta que… queria beijar a Pink. Oi??? Outro capítulo dessa rinha de cantoras traz Aguilera chamando Linda Perry, parceira de Pink em composições, pra colaborar com ela – Pink levou pro pessoal e não economizou comentários em entrevistas posteriores…

Em teoria, elas fizeram as pazes em algum momento.

Mais especificamente nesse momento: no programa The Voice em 2017, quando se reencontraram, Aguilera como uma das juradas e Pink como treinadora convidada

Mais especificamente nesse momento: no programa The Voice em 2017, quando se reencontraram, Aguilera como uma das juradas e Pink como treinadora convidada

Minha versão de Lady Marmalade preferida? Aqui, a mais gritada de todas:

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October 12, 2020 /Jorge Wakabara
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O incrível Pater Sato (e o também incrível Syd Brak)

September 26, 2020 by Jorge Wakabara in arte, música, moda

Lembrava vagamente de ter dois quadros com imagens muito parecidas com essa no quarto das minhas irmãs quando eu era pequeno. Confirmei com a minha irmã e sim, dessa vez minha memória não falhou.

Essa imagem de cima é criação de Pater Sato, um artista japonês que na verdade se chamava Yoshinori Sato e mudou de nome depois de fazer o papel de Peter Van Pels numa peça baseada no Diário de Anne Frank. Peter, para quem não se lembra ou nunca leu o livro, era o filho da outra família judia que viveu no anexo secreto junto com os Frank e, com a convivência no esconderijo, Peter acabou virando interesse amoroso de Anne.

Sato era um dos artistas dos anos 1980 que criava imagens de mulheres combinando-as com técnicas de airbrush. Tem essa coisa de quase sempre ter um fundo branco, muita mulher de perfil, maquiagens fortes com direito à boca bem marcada e um ar sci-fi. Eu a-do-ro.

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Sato morreu em 1994, bem novo (com 49 anos), mas sua loja-museu em Tóquio, no bairro de Harajuku, segue aberta. Essa técnica de aerógrafo com imagens muito características é apenas uma fração do seu trabalho, mas é a que ficou mais conhecida mesmo. Me lembra isso aqui, ó:

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Essas fotos incríveis são de Klaus Mitteldorf e a modelo é ninguém menos que Ana Paula Arósio.

Aí você me diz: que legal! Então os quadros do quarto das suas irmãs eram do Pater Sato?
Não. Eram do Syd Brak.

Brak é um artista sul-africano. Assim como Sato, ou talvez até mais, ele criou imagens icônicas de mulheres oitentistas, também com muito airbrush, também com muita maquiagem, muito perfil, muito fundo branco. Olha aí:

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Parecidíssimo, né? Jurava que era Sato na parede das minhas irmãs, era Brak. Os dois quadros que povoaram minha infância eram esses aqui:

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Icônicos. Completamente icônicos. Depois me pergunto como cresci gay e fã de Jem e as Hologramas?

Talvez você ache todas essas imagens muito familiares. Um dos motivos é porque elas são, mesmo. Brak, por exemplo, fez esses trabalhos para a Athena, que é uma empresa que basicamente faz pôsteres e tem um time de artistas e fotógrafos para criarem imagens para esses pôsteres. Ela já lançou várias imagens icônicas fora as de Brak – tem, por exemplo, o L’Enfant, com um cara musculozão olhando pra um bebê nos seus braços. Essa aqui:

Eu não lembro, mas dizem que era sucesso

Eu não lembro, mas dizem que era sucesso

O Sato que eu saiba era um, er, artista indie? Ele comercializava os próprios pôsteres e cartões.

Mas talvez existam outros motivos pelos quais você está familiarizado com essas imagens. Esses daqui:

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Stella McCartney spring 2018

Ela estampou peças com essa imagem de Pater Sato

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Imagem da turnê da Katy Perry da era Witness

Era da turnê, né? Eu acho que sim. O importante é ver que é claramente inspirada nessas imagens oitentistas

Ah, e também tem o Patrick Nagel, né? Não o inclui como um terceiro exemplo porque, apesar da gente identificar bastante semelhança na temática, Nagel não usava airbrush e suas mulheres eram menos realistas, mais desenhadas.

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(A primeira imagem é a que aparece no álbum Rio, de 1982, do Duran Duran)`

Falando em capa de disco, uma coisa que eu adoro é isso aqui:

Aesthetic of the day: 1970s city pop album covers illustrated by Kenkichi (Pater) Sato
-- Tatsuro Yamashita: Spacy (1977)
-- Yumi Arai: Cobalt Hour (1975)
-- Minako Yoshida: Minako (1975)
-- Tatsuro Yamashita: Go Ahead! (1978)

#佐藤憲吉 #山下達郎 #吉田美奈子 #荒井由実 #citypop pic.twitter.com/UEzZKmsIqx

— This Boy Right Here! #BlackLivesMatter (@mitchell_n_hang) March 17, 2020

Essas quatro capas foram ilustradas por Pater Sato antes dele cair nos anos 1980 de vez. São quatro discos superimportantes da música pop japonesa – isso que eu chamo de pé quente. A capa de Spacy é simplesmente ótima, moderna até hoje. A de Cobalt Hour é clássica, com o apelido da Yumi Arai já aparecendo num detalhe (Yumin, ou Yuming). O de Minako Yoshida prenunciava essa estética oitentista. Tudo maravilhoso.

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September 26, 2020 /Jorge Wakabara
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