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Para entrar em Pânico

October 17, 2020 by Jorge Wakabara in cinema

Já estávamos quase na metade dos anos 1990 e parecia que os filmes slasher adolescentes era a coisa mais anos 1980 que existia. O Pesadelo Final (1991) com Freddy Krueger era uma piada (assisti no cinema, que eu me lembre, e na época achei legal principalmente por causa dos minutos em 3D no fim do filme – mas na verdade eu era uma criança kkkkkk). Halloween 5: A Vingança de Michael Myers (1989) também é considerado o mais fraco da franquia pela maioria dos fãs. Jason Vai Pro Inferno – A Última Sexta-Feira (1993) só não foi pior nas bilheterias que o seu antecessor Sexta-Feira 13 – Parte VIII: Jason Ataca em Nova York (1989); amo esse de 1989 justamente por ele ser ruim demais kkkkkk

Aí o Wes Craven, que é o nome por trás do A Hora do Pesadelo original, teve uma ideia. Calma: ainda não era essa que você está pensando. Estou me referindo ao O Novo Pesadelo (1994).

De repente Freddie estava de volta pelas mãos (e rosto, e corpo, e tudo e tal) do inesquecível Robert Englund – que, diga-se de passagem, o Ryan Murphy está bobeando de não trazer pra turma dele

De repente Freddie estava de volta pelas mãos (e rosto, e corpo, e tudo e tal) do inesquecível Robert Englund – que, diga-se de passagem, o Ryan Murphy está bobeando de não trazer pra turma dele

Com O Novo Pesadelo, Craven deu uma credibilidade renovada pros slasher que todo mundo achava que eram coisa do passado e que nunca mais seriam lucrativos.

O filme é uma salada metalinguística que surpreendentemente dá certo e eu vou tentar resumir pra quem não viu: a história é do próprio Wes Craven no papel dele mesmo, fazendo um novo filme de Krueger no aniversário de 10 anos do primeiro. Heather Langenkamp, que está no Monte Olimpo das melhores final girls que já existiram por seu papel como Nancy, a protagonista do A Hora do Pesadelo original, também interpreta ela mesma. Heather está recebendo ligações telefônicas (PRESTENÇÃOOO) na vida real com uma voz assustadoramente parecida com a do personagem Freddie Krueger. O marido dela morre num acidente de carro muito parecido com uma morte de A Hora do Pesadelo, e o corpo é encontrado com rasgos.
Resumindo: uma força demoníaca usa da imagem de Krueger pra se manifestar de verdade, nada de filminho. Então a trama acompanha uma produção de um novo filme da franquia, mas onde coisas assustadoras estão acontecendo com a equipe na "vida real".
Entendeu? É complexo mesmo.

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A franquia já estava pra lá de Bagdá, então a bilheteria seguiu ruim pra essa nova tentativa, mas o pessoal viu que o filme em si era interessante. Dava um respiro. E principalmente não era tão besta quanto as sequências anteriores. Então Craven ganhou um tíquete de ouro… pra fazer Pânico.

Chegamos no que interessa: o ano de 1996

Sidney (Neve Campbell) e Tatum (Rose McGowan) em Pânico (1996)

Sidney (Neve Campbell) e Tatum (Rose McGowan) em Pânico (1996)

Craven não só foi o responsável por uma das maiores franquias do cinema como conseguiu fazer mais uma e, de quebra, ressuscitar o gênero slasher. Pânico juntava a ideia do telefone que foi explorada em O Novo Pesadelo e brincava com a metalinguística mas de forma diferente. É que estes adolescentes dos anos 1990 conheciam os filmes dos anos 1980, e o assassino em série, que na verdade é do convívio deles e não tinha nenhum superpoder místico, gostava de brincar com a ideia de seguir as regras de um filme slasher comum. Isso quer dizer matar quem vai sozinho pra algum lugar, matar quem transa, fazer charadas assustadoras antes de matar, matar todo mundo ao redor de uma final girl antes de chegar na final girl em si. E eventualmente… se revelar e ser morto pela final girl.

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Drew Barrymore em Pânico: tem algo mais anos 1990 que isso?

A clássica primeira cena do filme traz a personagem Casey sendo assassinada – e depois, todas as sequências brincaram com esse começo

O primeiro Pânico foi um marco. Trouxe uma segunda onda de slashers – não tão forte quanto a oitentista mas impactante no imaginário pop. Ghostface, o disfarce do assassino, virou um personagem recorrente no Halloween e em paródias. A frase “Hello, Sidney” ao telefone com voz distorcida pegou. Courteney Cox, que já era a Monica de Friends, conseguiu um segundo personagem famoso pra se livrar do estigma da série-hit logo de cara. E também conheceu o futuro marido, David Arquette, no elenco (que depois virou ex-marido e a vida seguiu).

David, aliás, é o irmão mais novo de Patricia Arquette, cujo primeiro papel na carreira foi de scream queen: era A Hora do Pesadelo 3 – Os Guerreiros dos Sonhos (1987). A personagem de Patricia, Kristen, sobrevivia na história, mas Patricia passou a chance de revivê-la e outra atriz assumiu na sequência A Hora do Pesadelo 4 – O Mestre dos Sonhos (1988). A substituta foi Tuesday Knight (e é difícil pensar em algum nome tão maravilhoso quanto Tuesday Knight!).

A repórter Gale Weathers (Courteney Cox), o geek Randy Meeks (Jamie Kennedy) e a final girl Sidney Prescott (Neve Campbell)

A repórter Gale Weathers (Courteney Cox), o geek Randy Meeks (Jamie Kennedy) e a final girl Sidney Prescott (Neve Campbell)

Dizem que muitas estrelas recusaram o papel de Sidney, incluindo a própria Drew Barrymore, que escolheu Casey porque achou que ia ser chocante uma estrela morrer nos primeiros minutos do filme – achou certo, era chocante mesmo. Além dela, Reese Whiterspoon, Claire Danes, Brittany Murphy e Chloe Sevigny também foram cogitadas. Campbell, que já havia virado uma estrela de TV em O Quinteto, foi a escolhida – e antes deu uma passadinha em Jovens Bruxas, no mesmo ano, pra realmente solidificar seu status de nova it girl herdeira de Molly Ringwald e Winona Ryder que, estranhamente, não adquiriu o status cult das outras duas.
(Ah, e queriam que a própria Ringwald fizesse a Sidney. Ela já tinha 26 anos e achou que não tinha nada a ver. Mas imagina???)

Na minha humilde opinião, Campbell nunca mais conseguiu sair da pele de Sidney Prescott, é quase uma maldição pra ela.

Sidney e Dewey (David Arquette)

Sidney e Dewey (David Arquette)

Tudo isso está fresco na minha cabeça porque: 1. recentemente reassisti a todos os Pânicos; 2. falei a respeito no podcast da Bia Bonduki, Eu Tive Um Sonho, sobre A Hora do Pesadelo! Ouça abaixo!

Uma coisa que as pessoas esquecem sobre Pânico é que ele não é filho de um pai só. Craven dirigiu os quatro longas, mas o roteiro é de Kevin Williamson. O primeiro roteiro filmado de Kevin é Pânico. E depois disso ele surfou na onda: Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado (1997), baseado em livro de Lois Duncan, é o segundo roteiro filmado dele. Prova Final (1998), que não é exatamente um slasher mas não deixa de ser um terror adolescente, é o quarto (Pânico 2 veio antes).

E o que eu acho mais legal de Pânico é que ele é um dos últimos suspiros dos early millennials antes de tudo ser tomado pela internet. Nós somos a última geração que interagiu na adolescência ainda sem a onipresença da rede. Pânico não seria possível nesses moldes em 2020 porque ninguém mais tem telefone fixo. E os adolescentes simplesmente perderam a intimidade com o telefone no geral – é sério, acredite, eu já trabalhei com estagiários e sei disso. Eles não sabem atender direito! Acham estranho.
Eu também acharia!

A sequência

Pânico 2, que veio no ano seguinte, 1997, era exatamente o que você poderia esperar de uma sequência de Pânico, e até brincava com isso, ainda no seu exercício de metalinguagem. As sequências dos filmes slasher têm mais mortes e é mais mirabolante. Alguns personagens que sobreviveram voltam e é até estranho que a maior parte deles não morresse aqui, porque geralmente era isso que acontecia.

Ah, e temos isso também.

Cici (Sarah Michelle Gellar)

Cici (Sarah Michelle Gellar)

Onde está a sobrancelha dela? Não sei. Puro suco dos anos 1990. Depois, Sarah seguiria pro estrelato com Segundas Intenções (1999) e, claro, a série Buffy, A Caça-Vampiros (1997-2003)
Aqui Sidney já está na faculdade e a fantasia de Ghostface virou artigo pop. Existe um filme, Stab, sobre a história de Sidney e baseado em um livro de Gale. Aquela personagem de Drew Barrymore, Casey, é interpretada em Stab pela maravilhosa Heather Graham!

A Casey do filme dentro do filme: Heather Graham

A Casey do filme dentro do filme: Heather Graham

Sem esquecer o mais delicioso fato que a Sidney da ficção é interpretada por Tori Spelling.

Eu amo a tintura “marrom acobreado” HAHAHAHAHAHA

Eu amo a tintura “marrom acobreado” HAHAHAHAHAHA

Pânico 2 não supera o primeiro. O começo é maravilhoso, mas o fim é mais bobo. E tá tudo bem, ele não chega a ser ruim.

Pânico 3: tão metalinguístico que eu nem sei

Depois de Pânico 2 as coisas começaram a ficar mais complicadas no terror. Surgiu um elemento novo: o j-terror (ou j-horror). Ringu, ou Ring – O Chamado, saiu em 1998. A Bruxa de Blair apareceu em 1999. Um terror mais psicológico ficou na moda e o velho slasher parecia ultrapassado mais uma vez.

Mas Pânico preferiu seguir na sua linha metalinguística e ignorou essas novas ondas. Em 2000, aconteceu praticamente a refilmagem de O Novo Pesadelo em versão Pânico. Pânico 3 acontece nas filmagens de Stab 3, da franquia ficcional Stab. Ele se leva muito pouco a sério e talvez por isso consiga se manter divertido, ainda que nada assustador.
Pra variar, uma das coisas legais é descobrir que atores participaram.

Do que eu gosto mais, da minha histriônica preferida Parker Posey no papel de Jennifer Jolie, a atriz que interpreta Gale Weathers em Stab 3, ou ESSA FRANJA ABSURDA DA COURTENEY COX?

Do que eu gosto mais, da minha histriônica preferida Parker Posey no papel de Jennifer Jolie, a atriz que interpreta Gale Weathers em Stab 3, ou ESSA FRANJA ABSURDA DA COURTENEY COX?

Obs.: a minha histriônica preferida no exterior é Parker Posey. A minha histriônica preferida no mundo é Maria Luísa Mendonça, claro.

A Sidney ficcional infelizmente não é mais Spelling e sim Emily Mortimer. Gosto dela mas a atriz está meio mortinha em Pânico 3.
Ah, sim, tem isso também.

Hollywood royalty, baby: Carrie Fisher no papel-chave Bianca Brunette

Hollywood royalty, baby: Carrie Fisher no papel-chave Bianca Brunette

Bianca entrega tudo: tira uma onda quando as personagens fazem menção à sua semelhança com Carrie Fisher e resolve quase toda a trama em uma cena.

E bem, a trama… é meio rocambolesca. Impossível levá-la a sério. Quando chega o fim, ele é tão absurdo e perdido que você precisa mesmo rir. Parece uma novela mexicana.
Toda franquia de terror chega num momento que acaba inventando subtrama demais pra se desenvolver. Pânico 3 só dá pra assistir se for pra encarar como uma comédia.

De volta ao básico em 2011

Parece menos, mas já faz quase uma década que saiu Pânico 4. Como não dava mais pra sair cachorro daquele mato, a história voltou pra trás. Mais especificamente, pra Woodsboro, a cidade fictícia de Pânico. A sinopse: Sidney superou tudo e conseguiu ela mesma escrever um livro sobre sua história. Decide voltar pra cidade natal no meio da turnê de lançamento, e fica hospedada na casa da… tia. Vocês lembravam da tia? Nem eu, mas aí está.
E aí existe uma outra turma de jovens que inclui a prima de Sidney, Jill Roberts (Emma Roberts). E a matança recomeça pra eles…

Kirby (Hayden Panettiere) e Jill (Emma Roberts)

Kirby (Hayden Panettiere) e Jill (Emma Roberts)

Existia o que tirar de um Pânico 4? Não muito. O gênero já estava esgotadérrimo. Mas as sequências de Stab que aparecem são maravilhosas, especialmente pelas participações especiais.

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Lucy Hale, Anna Paquin e Kristen Bell.
Na turminha jovem fora dos filmes, ainda temos Nico Tortorella novinho como o perturbado namoradinho de Jill! Hahahahahahaha!

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Acho Pânico 4 OK, mais realista (na medida do possível) porém menos engraçado que o terceiro. Então sei lá, ambos estão juntos lá no pé da lista em questão de qualidade.

Mas e Pânico 5, hein?

Sim: Pânico 5 foi confirmado. Craven infelizmente morreu em 2015, então Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett, a dupla de diretores que acumula mais letras duplas que todas as outras em seus nomes e que dirigiu Casamento Sangrento (2019), assumem a cadeira. Neve Capbell está confirmada, assim como Courteney Cox e David Arquette.

De lá pra cá existiu Corra! (2017) e Nós (2019). Existiu Hereditário (2018) e Midsommar: O Mal Não Espera A Noite (2019). Muitas águas rolaram no gênero. Pânico já virou uma caricatura de si mesmo.

Espero alguma coisa boa? Não! kkkk
Vou assistir mesmo assim? SIM! KKKKKKKKKKKK

Ai ai, a gente gosta de perder tempo com bobagem, né?
A estreia de Pânico 5 está marcada pra nada menos que 14 de janeiro de 2022, o meu aniversário de 41 anos.
Afffff! kkkk

“Alô, Sidney… Você gosta de sequências de filme de terror? Pelo jeito, sim, né?"

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October 17, 2020 /Jorge Wakabara
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O russo amarelo que virou popstar: Viktor Tsoi

October 15, 2020 by Jorge Wakabara in música, cinema, política, arte

Desde que vi uma imagem de Viktor Tsoi pela primeira vez, pensei: ele é russo mas é amarelo. Ao mesmo tempo não tinha certeza, porque tem algo nele que estranhamente me lembra o meu amigo Ricardo Domeneck. ??? Então também achava que era algo que eu tinha inventado na minha imaginação fértil.

Mas surpresa, não era: Viktor Tsoi tinha ascendência coreana sim! E ele foi um dos responsáveis pela “trilha sonora da perestroika”. Como se não bastasse, teve um fim trágico, o que o transformou num daqueles ícones que morrem jovens (escapou da sina dos 27 anos: morreu com 28). É estranho que a gente saiba tão pouco dele, mas ao mesmo tempo… O que a gente sabe de cultura pop russa, né?

Pra escrever esse post, decidi assistir ao filme Verão (em russo, Leto), lançado em 2018. Ele não traz exatamente a história inteira de Tsoi mas sim um recorte específico, baseado nas memórias de Natalya Naumenko.

Esses são Mike e Natalya Naumenko

Esses são Mike e Natalya Naumenko

Natalya, que era casada com Mike Naumenko, da banda russa Zoopark, e tinha um filho dele, observou a aproximação de Tsoi, ainda músico iniciante, na turma do rock de Leningrado (na época, São Peterburgo era Leningrado). Viktor e Mike, que era considerado um veterano, com mais experiência e conhecimento sobre o rock, se aproximaram. E Natalya, cujo apelido era Natasha, se apaixonou por Viktor. Acabou falando dessa paixonite pra Mike e chegou a beijar Viktor, mas tudo não passou de uma tensão sexual mal-resolvida, no fim das contas.

No filme, Mike (Roman Bilyk) e Viktor (Teo Yoo)

No filme, Mike (Roman Bilyk) e Viktor (Teo Yoo)

Ou seja, o recorte do filme está bem no começo da carreira de Viktor Tsoi. Eles retratam como era a cena rock da União Soviética na época – eu sei porque já vi em documentários. Tinha todo um esquemão controlado pelo governo de shows nos quais o povo tinha que ficar sentado paradinho assistindo, aplaudindo só no final das músicas (no longa, as apresentações acontecem no Leningrad Rock Club que abriu em 1981). As letras passavam por censuras prévias. Ao mesmo tempo que os roqueiros eram vistos com maus olhos (afinal, estavam se rendendo à música corrupta do inimigo capitalista), essas manifestações eram quase uma válvula de escape permitida pelas instâncias superiores – meio que um mal necessário, que acabaria existindo mesmo que fosse proibido. E de fato também existia de maneira ilegal, em festas particulares. Aos roqueiros não era permitido ganhar dinheiro com shows, então eles ganhavam em apresentações ilegais e alguns tinham empregos fixos – caso de Mike. Viviam bem pobres no geral e por isso eram quase que forçosamente punks.

Um clique de Viktor fazendo um clique

Um clique de Viktor fazendo um clique

Bom, chegou a hora da surpresa: como eu estava dizendo, meu intuito ao assistir ao filme era saber mais da história de Viktor Tsoi. Simples assim, sem grandes expectativas.
Caros leitores… Que filme.
Verão chegou a entrar em circuito nacional, distribuído pela Imovision, e está disponível pra aluguel via Google Play. O diretor Kirill Serebrinnikov foi condenado à prisão domiciliar em agosto de 2017, no meio da produção. Dizem que a motivação dessa prisão foi política. Ele não estava presente nas últimas filmagens e coordenou a edição do longa da sua casa.
Verão tem vários trechos musicais. E é musical mesmo, não estou falando só de ator interpretando músico cantando uma canção. Estou falando de pedestre e usuário de transporte público cantando. Estou falando de uma quase coreografia (quase porque na verdade é mais posicionamento e partitura de gestos do que danças). Quem me conhece sabe que não gosto de musicais, mas a partir de agora, quando me questionarem, vou dizer que não gosto de quase todos. Mas Verão, por exemplo, é exceção.
Fica fácil quando as músicas que pintam, fora as de Tsoi e Naumenko, são Psycho Killer (do Talking Heads), The Passenger (do Iggy Pop), Perfect Day (do Lou Reed) e citações declamadas de Call Me (do Blondie). E na verdade perdi tudo mesmo nesse trecho maravilhoso:

(Sim, isso é um trecho do filme)

Uma direção delicada e cheia de energia, umas horas Jules et Jim, outras clipe Bang da Anitta, consegue trazer essa energia da época, essa vontade de pop (e de americanização, vamos falar claro, né) que existia nos últimos anos de poder soviético. Irina Starshenbaum no papel de Natalya está um desbunde, Anna Karina atualizada (ou meio não-atualizada, já que o filme se passa nos anos 1980).

O longa também mostra o encontro de Tsoi com a sua primeira mulher, Marianna Tsoi. Na história do filme, Natalya, cujo apelido era Natasha, dá um empurrãozinho na relação.

Uma coisa que acho muito legal de Verão, uma vez que ele é baseado nas memórias de uma participante dos acontecimentos, é que eles propositalmente misturam realidade e fantasia. Um dos personagens, o Cético (Aleksandr Kuznetsov), faz questão de falar com todas as letras em diversos momentos: “Mas isso não aconteceu". Como nunca fica claro o que realmente rolou, é como se você estivesse acompanhando uma história oral, na qual foi acrescentada uma pimentinha aqui e ali… Do jeito que sempre acontece quando falamos de lendas musicais e turmas de amigos, né?

Cena de Verão: Irina musa no papel de Natalya

Cena de Verão: Irina musa no papel de Natalya

Mas OK, voltando ao Tsoi: o filme termina no que parece ser a primeira apresentação oficial da banda que ficou mais conhecida de Tsoi, a Kino (em português, cinema).

A música Когда-то ты был битником ou Uma vez você foi um beatnik, que está no filme, faz parte do primeiro álbum do Kino, de 1982.

Uma espécie de new wave ainda sem elementos eletrônicos, ela é tosca, meio lou-reediana. Pós-punk raiz.

Tsoi não apenas compunha como chegou a participar de filmes. Em um deles, Assa, de 1987, que virou cult por trazer o rock russo que já pulsava no underground para o mainstream (ou seja, pra telona), Tsoi faz uma versão dele mesmo. Na cena abaixo, ele tenta um emprego como cantor num restaurante. Ao ouvir a lista de exigências da empregadora, ele se enche e literalmente sai andando até encontrar com a sua banda, Kino, e cantar Хочу перемен!
O significado do título da música? “Quero mudanças!” – ela virou uma espécie de hino jovem em meio da perestroika e glasnost.

Foi nas filmagens de Assa que Tsoi conheceu a assistente de direção Natalia Razlogova e se apaixonou. Ele acabou se separando de Marianna, mas eles não chegaram a se divorciar.

Outro filme, dessa vez com Tsoi interpretando o personagem principal, é Igla (1988), considerado o primeiro representante da new wave cazaque (ou seja, do Cazaquistão). Curioso? Segue no link. De nada!

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Em 1990, na Letônia, Tsoi morreu num acidente de carro. A investigação chegou à conclusão de que Tsoi dormiu no volante enquanto dirigia numa velocidade de 130 km/h. Não foram encontrados álcool ou drogas no organismo dele. Dizem que teve fã que chegou a se suicidar.
Tsoi já era cultuado – após a morte virou uma lenda. É relembrado nos países ex-soviéticos até hoje.

Encontrei pouca coisa a respeito da identificação de Tsoi enquanto amarelo. Sei que ele gostava de artes marciais e que se espelhava em Bruce Lee – devia ser uma identificação que passava pelo biótipo, claro. Tsoi chegava a ficar imitando movimentos do ator nos filmes pirateados. Em Verão, o personagem faz isso em uma cena.

Mas ele não é a cara do Ricardo Domeneck? #passado!

Mas ele não é a cara do Ricardo Domeneck? #passado!

Tsoi também se arriscava nas artes plásticas. Gosto bastante das coisas que já vi.

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Essa moça que está aparecendo nessa penúltima obra é a Joanna Stingray, que foi mulher de Yuri Kasparyan, colega de Tsoi no Kino na guitarra. Stingray é californiana e foi uma das responsáveis pela divulgação do rock soviético fora da URSS na época.

É isso. Ouça Kino.

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October 15, 2020 /Jorge Wakabara
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Raised by Wolves é tudo – amém!

October 13, 2020 by Jorge Wakabara in TV

Raised by Wolves não está muito comentada aqui no Brasil principalmente porque não está disponível pros brasileiros – é uma série da HBO Max. Mas sou fã do Ridley Scott e meu marido também, então "corremos atrás” dessa série de ficção científica produzida por ele e com os dois primeiros capítulos dirigidos por ele.

Ao mesmo tempo, é aquela coisa, né: essa história de chegar num novo planeta com perigos, hummm, já vimos Scott fazendo antes. E ele costuma se repetir pra além da conta. Então a gente chegou com um pezinho atrás. Mas existe um segredo em Raised by Wolves: o criador dela não é Scott e sim Aaron Guzikowski.

A Mãe (Amanda Collin), uma androide de aparência andrógina na superfície (me lembra Doris para Maiores!) e suas crianças

A Mãe (Amanda Collin), uma androide de aparência andrógina na superfície (me lembra Doris para Maiores!) e suas crianças

Existem elementos em comum com o trabalho anterior de Scott, claro: andróides, criaturas alienígenas animalescas e violentas, as câmaras de sono, os cenários extraterrestres com uma devastação pós-apocalíptica. Mas tem um elemento principal aí que muda quase tudo e que não esteve presente de forma tão primordial em algo ridley-scottiano antes: a religião organizada e a fé em um mito ancestral.

Fóssil de uma serpente gigante, cena de Raised by Wolves

Fóssil de uma serpente gigante, cena de Raised by Wolves

Na franquia de Alien, uma mitologia mais completa só foi aparecer bem depois, com os mais recentes Prometheus (2012) e Alien: Covenant (2017), que ainda podem (devem?) ser completados com mais um, formando uma trilogia de prólogo. Antes, o alien era uma criatura extraterrestre parasitária e letal e pronto, o inimigo estava ali, o desafio dado era conseguir fugir dessa colônia horrorosa sem que esses bichos conseguissem se espalhar por outros planetas e, principalmente, sem que uma rainha-mãe chegasse na Terra. Outro desafio das tramas eram os militares ou representantes do governo, que viam nos aliens uma oportunidade de uma arma poderosa na guerra e não entendiam que os aliens são incontroláveis. Quem ousava querer um alien pra chamar de seu geralmente acabava tomando do próprio veneno, morto por algum deles.

Achou o neném! Cena de Alien: Covenant (2017)

Achou o neném! Cena de Alien: Covenant (2017)

Já em Raised by Wolves a gente percebe uma clara vontade de criar um universo particular que vai servir para discutir de maneira metafórica as instituições religiosas e o que permeia a fé humana ao mesmo tempo que constrói uma história mítica em si. Tudo começa com dois fatos: uma guerra santa faz uma grande nave, a arca, sair da Terra com colonizadores em direção de um novo mundo, o Kepler-22B. Esses colonizadores são da religião oficial que cultua um deus Sol, os mitraicos (o Mitraísmo curiosamente existiu de verdade na nossa história terrestre, entre os séculos 3 e 4 na Roma antiga). Ao longo da série, também são citados Rômulo e Remo, em referência clara à origem mitológica de Roma com os irmãos fundadores que foram amamentados por uma loba.

Ao mesmo tempo em que essa arca decola, também está saindo uma outra nave, essa com dois andróides, a Mãe e o Pai (Abubakar Salim), e seis embriões humanos. A ideia do homem que coloca esses andróides pra embarcar é que eles colonizem e garantam um futuro pra humanidade sem guerra – esse cara é ateu e programa os andróides para que eles criem essas crianças como ateias, evitando assim conflitos religiosos. O azar: essa nave também está programada para ir pra Kepler-22B.

Outra curiosidade: Kepler-22B também existe na vida real. Ele foi o primeiro descoberto pela Nasa como teoricamente habitável, baseando-se na distância entre ele e a estrela do sistema em que está.

Guerreiros mitraicos na série: Marcus (Travis Fimmel), Sue (Niamh Algar) e Lucius (Matias Varela)

Guerreiros mitraicos na série: Marcus (Travis Fimmel), Sue (Niamh Algar) e Lucius (Matias Varela)

A Mãe vê os mitraicos como inimigos. Um dos grandes plot twists é que ela não é apenas maternal: guarda dentro de si uma outra essência que, aliás, lembra a mulher-robô do clássico Metrópolis. Scott na verdade aponta como referência a estátua que fica no Rockefeller Center de Nova York. E a posição dela, de braços abertos e pernas unidas, obviamente nos lembra da crucificação de Jesus (tem outro momento que ela fica na mesma posição).

Terra prometida, serpentes (aqui elas são gigantes), sacrifícios, fogo como símbolo do divino, milagre, privações e êxodos no deserto, vozes e visões (que podem ser mensagens do divino… ou esquizofrenia?): tudo isso vai pipocando ao longo dessa primeira temporada. Também rola falibilidade de líder religioso, crime em nome do deus deles, intolerância contra qualquer outra crença (ou a falta de crença). Soa bem, hum, contemporâneo. Infelizmente.

Mas um traço que é BEM Ridley Scott na série é o androide e a questão: até que ponto eles não têm sentimentos de empatia e outros traços humanos, como o ciúme, a tristeza perante a rejeição, o instinto materno? Essas características humanas seriam programáveis? E será que não seriam corruptíveis? Não se desenvolveriam e se transformariam em outras coisas, tal qual acontece nos próprios humanos?

Já foi confirmada uma segunda temporada de Raised by Wolves. Mal posso esperar!

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October 13, 2020 /Jorge Wakabara
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TV
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A primeira versão de Lady Marmalade (e as outras)

October 12, 2020 by Jorge Wakabara in música

Primeiro de tudo, vou precisar perguntar: por onde anda a Mya, hein?
Pois eu te respondo: ela lançou single em 2020 e tudo! Vixe!

Mas vamos voltar. É provável que você saiba que a versão de Lil’ Kim, Pink, Mya e Christina Aguilera (e Missy Elliot fazendo o rapzinho, né) para o hit Lady Marmalade, que entrou na trilha sonora de Moulin Rouge (2001), é uma versão.
E é provável que você ache que a primeira versão é a do grupo Labelle.

Mas… não. Não é!!!

Lady Marmalade é uma composição dos estadunidenses Bob Crewe e Kenny Nolan. Nolan tinha um grupo de disco music, The Eleventh Hour, que era produzido por Crewe. Nolan era o vocalista e o resto eram músicos de estúdio.

Com a febre disco que assolou os EUA e o mundo, era comum que os grupos lançassem muitos singles, na ânsia de obter um superhit nas pistas ou nas rádios (mas, principalmente, nos dois) e conseguir ficar rico graças a essa onda. É por isso que o primeiro álbum do The Eleventh Hour, de 1974, é um… Greatest Hits. Ele junta alguns singles lançados anteriormente e inclui algumas inéditas – entre elas, Lady Marmalade.

E não me entenda mal, a versão original do Eleventh Hour é boa. Acontece simplesmente que ela não fez sucesso, e a do Labelle é melhor.

Diz a lenda que Crewe mostrou a música pra Allen Toussaint em Nova Orleans. E aí entra em cena THE ONE AND ONLY Patti LaBelle e seu grupo.

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Até então, as Bluebells ou Bluebelles tentavam a fama ao redor de tantos outros girls groups e não tinham conseguido se diferenciar, apesar da potente voz da vocalista principal. O tempo passava e Patti via que a coisa precisava mudar.

O quarteto virou um trio (uma delas, Cindy Birdsong, saiu pra se juntar às rivais Supremes, BABADO), elas estavam bem desesperançosas e parece que surgiu uma luz. “Ah, é pra mudar? Então vamos mudar.” Patti, Nona Hendryx e Sarah Dash se reinventaram, numa das reviravoltas mais deliciosamente doidas do pop, e se transformaram no Labelle, um trio que usava roupas futuristas no palco dignas de Lady Gaga e que cantava não só sobre namorinho de portão mas sobre preconceito, revolução e… sexo.

Os looks do Labelle são maravilhosos e absurdos até hoje

Os looks do Labelle são maravilhosos e absurdos até hoje

Falar sobre sexo nas rádios e nas pistas era um escândalo. A escandalosa I Feel Love de Donna Summer, com gemidos e sussurros, só sairia em 1977. Estamos falando de 1974, mesmo ano de lançamento do Lady Marmalade do Eleventh Hour. A canção que falava do ponto de vista de uma prostituta de Nova Orleans era puro escândalo, e Toussaint, o produtor de Nova Orleans que assumiu a gravação do novo álbum do Labelle chamado Nightbirds pela Epic Records, sabia que a pegada rock soul dançante com o tema tabu era explosiva. Em agosto daquele mesmo ano, a toque de caixa, surgia o primeiro megahit do Labelle em single, topo da parada de R&B e da parada principal.

Isso engatilhou o sucesso do Labelle e da própria Patti LaBelle, que seguiria pra ser uma das maiores divas dos EUA com seus cabelos absurdos e performances energéticas da carreira solo.

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Querida…

Eu disse QUERIDAAA… OLHA ESSE PICUMÃ, CARAIO!

O tempo passou… E quem resgatou a música mais de uma década depois, fora alguns covers insípidos, foi Sabrina, uma cantora italiana que tinha um inegável sex appeal, em 1987.

A música estava no álbum de estreia de Sabrina e fez sucesso localizado no continente europeu. Depois, em 1991, foi a vez da protegida do Prince: Sheila E.

A versão dela é bacana mas curiosamente é menos sensual.
Aí, em 1998, surgia a versão de um outro girl group, dessa vez britânico. Estou falando do All Saints! A Lady Marmalade delas já tinha rap e tudo, viu?

Uma versão remixada dessa do All Saints (por Timbaland!) fez parte da trilha sonora de Dr Doolittle (1998).

E sim: aí, em 2001, que Missy Elliot juntou aquele grupo de cantoras poderosas pra trilha de Moulin Rouge. A letra da música foi adaptada, de Nova Orleans pro Moulin Rouge em si, mantendo o toque francês do "Voulez-vous coucher avec moi?” – a origem dessa pegada bilíngue é que o quarteirão da prostituição de Nova Orleans nos anos 1970 era o French Quartier. E a curiosidade: a Patti LaBelle diz que só descobriu o significado da frase ("você quer ir pra cama comigo?”) depois de gravar! Risos!

O clipe de Pink, Aguilera, Mya e Lil’ Kim é um clássico, né? Acho que foi mais influente em matéria de figurino que o filme em si, pelo menos entre as jovenzinhas. Uma coisa lingerie & bordel com maquiagem carregada e cartola que conseguiu traduzir um pouco das roupas das lolitas japonesas mas deixou tudo mais, digamos… malandrinho.

Existe a história clássica que a própria Pink conta que Aguilera queria roubar todas as melhores partes da música (leia-se, as que demonstravam extensão vocal) e Pink não abriu mão da sua, o que teria gerado uma treta entre as duas. Outros detalhes jogam mais pimenta nesse caldeirão: Pink diz que elas foram pra uma boate e que Aguilera tentou bater nela; Aguilera diz que na verdade elas estavam brincando de "gire a garrafa" – aquela brincadeira adolescente feita em roda na qual quem cai nas duas pontas da garrafa tem que se beijar. Xtina conta que… queria beijar a Pink. Oi??? Outro capítulo dessa rinha de cantoras traz Aguilera chamando Linda Perry, parceira de Pink em composições, pra colaborar com ela – Pink levou pro pessoal e não economizou comentários em entrevistas posteriores…

Em teoria, elas fizeram as pazes em algum momento.

Mais especificamente nesse momento: no programa The Voice em 2017, quando se reencontraram, Aguilera como uma das juradas e Pink como treinadora convidada

Mais especificamente nesse momento: no programa The Voice em 2017, quando se reencontraram, Aguilera como uma das juradas e Pink como treinadora convidada

Minha versão de Lady Marmalade preferida? Aqui, a mais gritada de todas:

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October 12, 2020 /Jorge Wakabara
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Ratched é boba – então, se você gosta de coisas bobas, OK

September 30, 2020 by Jorge Wakabara in TV, cinema

Ryan Murphy é um criador de séries bem inconstante. Ele pode fazer coisas incríveis, como é o caso, na minha opinião, de Hollywood. Algumas de suas obras conseguem fazer mais que simplesmente contar uma história: elas nos fazem refletir, e quando elas fazem isso é incrível. Também existe outra crítica válida a respeito dele: suas séries costumam perder o ritmo no meio. Ficam fracas, frouxas. Às vezes o fim é bem chinfrim, também.

E Murphy também tem outras fortalezas. O senso estético, por exemplo: suas séries são plasticamente instigantes, envolventes, estimulantes. E tem a representatividade: mulheres trans em Pose, principalmente, mas também gays e mulheres mais velhas – que não costumam ser bem-tratadas pela indústria do entretenimento depois que envelhecem. Muitas já encontraram ótimos espaços com Murphy, de Jessica Lange a Frances Conroy, passando por Kathy Bates, Patti LuPone, Bette Midler.
Na manga, ele tem um trunfo: Sarah Paulson, a sua atriz-fetiche mais longeva, que conseguiu manter esse posto mesmo competindo com Lange por muito tempo.

Ratched, a última série de Murphy para a Netflix, tem tudo isso: mulheres mais velhas (Judy Davis incrível, Sharon Stone suprema, Amanda Plummer deliciosamente excêntrica e até uma ponta da maravilhosa e injustiçada por Harvey Weinstein: Rosanna Arquette). Conta com a atriz-fetiche como protagonista. A estética é inspirada em noir mas com um colorido surpreendente. Mas então qual é o problema?

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Bom, se você gosta de uma novelinha macabra (no sentido pejorativo do diminutivo), tá tudo bem.

A primeira coisa que não saquei foi a inspiração. Se você quer pegar uma personagem clássica do cinema e fazer uma prequel, então, bem, espera-se que você remeta ao filme em si, certo? Ou ao livro, que seja.
Ratched não tem nada de Um Estranho no Ninho (1975), onde Mildred Ratched apareceu pela primeira vez de maneira dramática (o livro é de 1962, e a peça da Broadway que veio antes é de 1963). Estética? Não. Ritmo? Não. Temática? Quase: sim, ela é uma enfermeira. Ela trabalha num hospital psiquiátrico.
Mas se alguém me disser que acha que a personagem Ratched de Louise Fletcher do filme (atuação pela qual ela ganhou um Oscar) e a Ratched de Sarah Paulson na série são a mesma coisa… Ah, me desculpe. No longa, parte da sinistrice dela era o sadismo inexplicável. Ratched era assustadora pelo simples fato de personificar a sede do ser humano pelo pequeno poder, a maldade que existe em todos nós pronta para ser liberada quando nos sentimos superiores em um grupo. A trama da série Ratched a humaniza e portanto a estraga, a justifica. Como se todo sadismo tivesse um trauma por trás. E a responsabilidade nem é de Paulson, que faz bem o que lhe cabe.

E existe o lado do terror visual, que é bem diferente do que a gente vê em Um Estranho no Ninho e por isso mesmo estabelece uma distância ainda maior dele.

Annie Starke em cena como Lily Cartwright, uma mulher lésbica submetida a tratamentos

Annie Starke em cena como Lily Cartwright, uma mulher lésbica submetida a tratamentos

Se a ideia era fazer uma história de terror envolvendo uma personagem traumatizada… Por que raios Ryan Murphy não fez simplesmente mais uma temporada de American Horror Story com essa história e deixou Um Estranho no Ninho em paz?
É uma história americana. É uma história de horror. Não vejo diferença. E acharia a série muito melhor se ela fosse uma AHS. Poderia haver o receio de se repetir em relação à segunda temporada, a Asylum, mas não: é bem diferente! Mesmo!
E é até legalzinha – apesar do final, pra variar, chinfrim.

É isso, pela atenção obrigado.

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September 30, 2020 /Jorge Wakabara
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