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O babado é certo com Kenichi Mikawa

November 26, 2020 by Jorge Wakabara in música, TV

Não tive uma infância muito ligada à colônia japonesa (aliás, na verdade ela era quase completamente desligada não fosse o meu melhor amigo na época, que também era descendente). Mas sei que toda criança nipônica tinha essa lembrança de assistir ao Kôhaku Uta Gassen, o tradicional festival de música de fim de ano da NHK sobre o qual já comentei aqui. Se era uma criança viada, ela inevitavelmente ficaria esperando ansiosa pela participação de Kenichi Mikawa, que esteve em nada menos que 26 edições.

Mikawa no Kôhaku de 2007

Mikawa no Kôhaku de 2007

Em 1969, Mikawa apareceu pela segunda vez no Kôhaku para cantar Onna to Bara e leva nas mãos uma flor. Isso pra gente que está acostumado com Roberto Carlos distribuindo flores é completamente normal, mas no Japão daquela época foi um escândalo: para muita gente, deixou claro a feminilidade do artista. Para dar uma dimensão maior: o Kôhaku é coisa tão séria até hoje que o povo vai como se fosse ao Oscar, sabe, black tie na estica. Só que o smoking que Mikawa vestia começou a se transformar: incluía um bordado, um brilho, um paetê, um detalhe dourado… Olha o vídeo abaixo, de apresentações entre 1968 e 1975:

Em 1991, a história já era bem outra. Quando foi apresentar seu novo hit Sasozira no On'na no Kôhaku, Mikawa estava num look branco (cor do time dos homens no festival) com um detalhe vermelho bem aparente (cor do time das mulheres). Marcou o começo de uma montação fabulosa que proporcionaria momentos sem par na TV japonesa. Falando em Robertão: era como ver um show de drag (porque, baby, this is drag) no meio do especial de fim de ano do Roberto Carlos, sabe?

Em 1992, o babado continua com Hi no Tori, a música nova, e Mikawa com uma espécie de touca de cristais, um look todo brilhante puxado para o rosa e um boá de penas. Tá, meu bem?

Em 1993, é a vez de um contraponto aparecer. Era Sachiko Kobayashi, uma cantora que também é dada a um close certo, que chegou nesse look absurdo com direito a reveal digno de RuPaul's Drag Race. A partir desse momento, Mikawa e Kobayashi competiriam pela posição de look mais absurdo-enlouquecedor.

Mikawa também participou do Kôhaku de 1993, surgindo do chão para cantar Utakata no Yume. Também fez um reveal (o quimono dourado deu lugar a um conjunto com brilho e roxo), mas perto do look da Kobayashi daquele ano… Parece até discreta! kkkkkkk

A coisa foi ficando cada vez mais próxima do Carnaval do Rio: muito luxo. Em 1994, Mikawa mostra Odamari. Tem reveal de novo (que se transformou em uma marca das apresentações) e corpo de baile bem pintoso maravilhoso.

1995 é o ano de uma das minhas apresentações preferidas de Mikawa. O look do começo, com uma silhueta princesa, pra mim é o ponto principal: é personificação de mulher de fato, é camp… É drag. O reveal é sensacional (amo os ombrões quadrados brancos) e eu fico desmaiado com o look das bailarinas-coristas <3
A música, para quem ainda está se importando, é Shiawase ni Naritai.

Em 1996, Mikawa vem com uns chifres, um look meio de vilã de tokusatsu. Não tem reveal, mas tem surpresa: uma cauda dupla que se revela do meio para o fim, enorme, com figuras geométricas brilhantes.

Com Bojô em 1997, Mikawa começa a incluir efeitos especiais (no duro). Não vou contar muito para não estragar:

1998: surgir das chamas? OK. A música é Wakare no Tabiji e o look tem uma inspiração católica que não faria feio naquele baile do Met todo trabalhado no catolicismo, lembra? kkkkkkkk Bom, da Capela Sistina à maxiborboleta… Dê play para entender:

Em Eien ni Bara no Toki o, de 1999, Mikawa fez a egípcia. Tem esfinge, Cleópatra, faraó sem camisa, além de uma hélice muito doida que o corta no meio… Toda uma narrativa surreal! kkkkkk

2000: Mikawa retoma essa temática de “eles querem me destruir” com ainda maior efeito. Em Tokyo Hotel ela começa com uma roupa, tem uma troca rápida, colocam-na num vaso grande (acho que nesse momento não é ela porque não daria tempo da troca de look e a câmera está longe, mas posso estar errado), esmagam o vaso (!!!) e, não mais que de repente, ela ressurge montada num dragão voador. Juro que essa descrição é exata:

2001, ano de Koion'na e de… um pégaso.

2002 com Yuzawa no On'na: Mikawa vem até discretinha, só com fumaça, sem corpo de baile, num quimono quase simples para os padrões dela, e depois, claro, tem a troca babadeira. Nesse vídeo dá para ver bem a competição entre ela e Kobayashi, que aparece em seguida – e sinceramente a segunda leva a melhor, nos seus efeitos especiais rainha do gelo Frozen fechativa.

Mikawa deve ter sentido a competição: em 2003, ela volta meio Frozen com vestido que acende (!!!) e o seu hit Sasorizan On'na.

Não sei se as participações de Mikawa no Kôhaku foram rareando pois não achei mais nada. Essa volta ao maior hit foi uma despedida? O nível, de qualquer forma, era cada vez mais inalcançável, mesmo. Olha a Kobayashi em 2005, que coisa doida:

Em 2007, Mikawa volta ao Kôhaku com um remix dance da mesma Sasorizan On'na. Agora com drag music? Formô: cadê o bate-cabelo? O reveal é bem importante e por isso vou ser obrigado a dar um spoiler: é um look inteiro vermelho. Cor do time das mulheres no Kôhaku.

Bom, a figura de Mikawa acabou ficando superandrógina, um coisa meio Walter Mercado. Quem quiser pode assistir a esse show dela, que comemora 45 anos de carreira (de 2010, portanto):

Mikawa é tudo e continua na ativa. A grande Hibari Misora, uma das maiores cantoras que o Japão já teve, a adorava. Ah: e a rivalidade com Kobayashi era só brincadeira: Mikawa e ela eram amicíssimas. Tinha até boato que elas tinham casado. Er… Alguém avisa?

Aliás, usei o pronome feminino ao me referir a Mikawa mas na verdade não tenho certeza sobre como ela gosta de ser tratada. Enfim, espero que ninguém fique magoado, me avisem se eu tiver errado e eu corrijo, OK?

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November 26, 2020 /Jorge Wakabara
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música, TV
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A roqueira do Brasil... Bianca!

November 21, 2020 by Jorge Wakabara in música

Todo mundo sabe: mulher pioneira do rock brasileiro é Rita Lee. OK, teve a Jovem Guarda antes, com Wanderléa e outras. OK, foi Nora Ney a primeira brasileira a gravar um rock (era um cover de Rock Around the Clock em 1955). Mas é Rita quem leva a faixa de “a roqueira do Brasil".

Só que em 1979, quando a própria Rita ia deixando seu som cada vez mais pop com aquele disco que tem Mania de Você, Doce Vampiro e Chega Mais, aparecia uma menina mineira de 15 anos, Cleide Domingues Franco, empunhando uma guitarra. O rock rejuvenesceu. E ela já assumia um nome artístico sem sobrenome, coisa pra poucos. Era a Bianca.

Quem descobriu Bianca foi Cléo Galante, que por sua vez já tinha discos lançados nos anos 1970 e tinha uma carreira até então bem calcada em samba rock.

A lenda é que Cléo viu Bianca se apresentando como crooner de uma banda ainda na cidade natal dela, Ituiutaba, e a levou para São Paulo para apresentá-la para sua gravadora, a RGE. Dizem que o nome, invenção do produtor Reinaldo Barriga, era uma referência à Bianca Jagger, mulher do vocalista dos Rolling Stones.
Os Tempos Mudaram é composição de Cléo. O lado B do primeiro compacto, Vou pra Casa Rever Meus Pais, é uma versão para o português de A Little More Love do repertório de Olivia Newton-John – assinada também por Cléo.

As duas músicas são ÓTIMAS e o segundo compacto saiu em 1980.

É interessante que os temas das letras dessa primeira parte da carreira de Bianca sempre são ligados ao sentimento adolescente de inadequação, problemas de relacionamento e angústia. Tudo moldado para o público-alvo, sem disfarçar! A cantora fala bastante dos pais – em Sou Livre (Agora Chega), ela diz que o pai é muito ocupado, a mãe sempre observa o lado dele e ninguém vê que ela cresceu; em Vou pra Casa Rever os Meus Pais, eles estão no título, logo de cara. E em Minha Maneira (Não Suporto Mais), Bianca entoa no refrão: “Assim não dá pra ser / Eu quero namorar sem ter que aceitar e nem obedecer”, e diz que o cara é tão possessivo e mandão que está parecendo mais… o pai dela.

(Aliás, Minha Maneira é uma versão de She's in Love With You, o rockão de Suzi Quatro, uma melodia deliciosamente abbaística que também cai bem em Bianca)

Ainda em 1980, o primeiro álbum chega com a supercozinha de Os Carbonos e produção artística de Hélio Costa Manso. Minha Amiga, uma das músicas de trabalho, chega no programa Geração 80 da Globo.

Minha Amiga é uma versão da original de Jennifer Warnes I Know a Heartache When I See One.

O disco em si é recheado de surpresas:

A segunda faixa, por exemplo, Comentário a Respeito de John, é de Belchior com José Luis Penna! E começa com citação a Happiness is a Warm Gun! A música foi gravada primeiro por Belchior um pouco antes, em 1979. Bianca já havia citado, em entrevista, a admiração por Elis Regina (que gravou Como Nossos Pais de Belchior em interpretação antológica e, por que não dizer, roqueira em 1976). Pelo disco inteiro, dá para notar uns toques de Como Nossos Pais espalhados – deve ter sido algo muito marcante para Bianca, ou um modelo muito desejado pelo pessoal da gravadora. Ou os dois!
Igual a Vocês é versão de Going My Way do Tax Loss, e é a única do álbum que conta com letra da própria Bianca. Mais versão? Lembrando os Rapazes de Liverpool é I Only Want to Be With You – primeiro de Dusty Springfield em 1963 (!!!) e depois na versão que provavelmente inspirou a inclusão para o disco de Bianca, a de Bay City Rollers em 1976. Só que quem inspira a letra obviamente são os Beatles. Sintomático: tem John Lennon na letra de Belchior, tem Beatles em uma música que originalmente é dos anos 1960… Bianca tinha traços de futuro, mas era muito apegada ao passado.

Porém… mas porém…

E Oh Susie? Sim: new wave em pleno 1980, em um disco brasileiríssimo. É versão em português da música de mesmo nome do Secret Service! Tá passada? Eu tô! A versão ficou bem pop, na verdade, meio disco music. Mas pop do bom.
Mais surpreendente ainda: um blues do Gilliard. Isso mesmo que você leu. É Gilliard quem assina Tempos Difíceis com Washington.

Bom, sobra espaço até para mais disco music (Não Tenha Medo, de Cléo Galante). Esse rock era uma frente ampla, para usar uma expressão em voga atualmente…

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E depois? Pois é, o depois.

O compacto de Faz de Conta saiu em 1982.

Também da safra de Cléo, meio hedonista demais, menos angustiada (e nesse sentido menos roqueira). Agora, imagina essa musiquinha dizendo "Vamos viver em festa / faz de conta que o mundo está lindo” concorrendo no rádio com Evandro Mesquita dizendo “aí você finalmente encontra o broto”, mandando descer dois, descer mais chopes, e comentando que realmente queria que ela estivesse nua? A Blitz e o BRock chegaram para atropelar Bianca. Ela ficou datada demais, e não havia versão de Loredana Bertè que a salvasse:

Eu particularmente AMO Non Sono Una Signora, composição de Ivano Fossati, e gosto da versão de Bianca, que saiu em compacto em 1983, mas enquanto Bertè se derrama inteira na música, Bianca dá uma mergulhadinha com pouca dimensão. Compara aí:

Quando Bianca foi tentar uma volta de verdade, anos depois, revelou-se a verdade: ela deixou de ser roqueira. Era só chuva de verão. O disco A Volta, de 1993, é inteiro sertanejo, daquele tipo mais pop que tinha invadido o Brasil de Fernando Collor. Não deu certo, não repetiu as vendas de antes.

E aí? O que rolou com a Bianca?
Bom, prepare-se para entrar num terreno mais arenoso.

Quando uma artista assim, que fez tanto sucesso, simplesmente evapora, começam a surgir boatos. E eles costumeiramente são bem criativos. Os mais maldosos eram de que ela tinha morrido de overdose ou suicídio. Mas parece que não: dizem que ela virou vocalista de banda de forró (o Destak do Forró da cidade cearense de Piquet Carneiro).

Ela seria essa de roxo no vídeo, agora loira.
Tem quem acredite, tem quem não acredite.
O esquisito: até hoje ninguém teve a manha de ir até lá e entrevistá-la? Ou achá-la pela internet, que seja?

Então, até segunda ordem… Bianca segue sumida.

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November 21, 2020 /Jorge Wakabara
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música
A formação clássica do Kid Abelha: Leoni, Bruno Fortunato, Paula Toller e George Israel

A formação clássica do Kid Abelha: Leoni, Bruno Fortunato, Paula Toller e George Israel

O incidente no Estádio de Remo da Lagoa

November 20, 2020 by Jorge Wakabara in música, política

No começo do BRock, quando as bandas começavam a despontar, algo aconteceu envolvendo dois destaques desse novo cenário de futuras celebridades. Era a Paula Toller, vocalista do Kid Abelha, e Herbert Vianna, uma das pontas do trio Paralamas do Sucesso. Paula ainda namorava e morava com Leoni, companheiro de banda, quando rolou um clima com Herbert e um beijo.

Paula e Leoni no palco

Paula e Leoni no palco

Acabou que Leoni saiu de casa e Herbert e Paula começaram a namorar, em meados de 1984. Acabaram morando juntos, mas o paralama diz que ela era muito competitiva e a banda dele, que na época era menor que o Kid (!!!), começou a crescer. E aí chegamos em 23 de fevereiro de 1986, o dia do Cidade Live Concert, um show organizado pela Rádio Cidade que rolou no Estádio de Remo da Lagoa, no Rio.

O clima da gravação do segundo álbum do Kid Abelha, o Educação Sentimental, lançado em maio de 1985, já tinha sido meio esquisito. Nessa época, Leoni já namorava com ninguém menos que Fabiana Kherlakian, ela mesma, a filha do fundador da Zoomp. Diz Herbert, segundo publicado no livro Os Paralamas do Sucesso: Vamo Batê Lata do Jamari França, que Fabiana instigava Leoni a ter mais atitude na dinâmica da banda, a impor uma necessidade de cantar mais (ou seja, dividir os microfones com Paula).

Todas as músicas do Kid lançadas até aquele momento eram co-autoria de Leoni com mais alguém, sendo que Ele Quer me Conquistar (1984), Os Outros e Educação Sentimental em si (ambas de 1985) são só dele. No segundo álbum, Leoni assume o vocal principal em Conspiração Internacional e Educação Sentimental – ambas boas, e pelo que entendo não muito bem trabalhadas nas rádios. Existe um compacto promocional de Educação Sentimental, mas será que ele foi realmente promovido?

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Voltando ao show: Léo Jaime foi um dos artistas que se apresentaram. Ele chamou Paula e George Israel, outro integrante do Kid, para cantar Fórmula do Amor, e não chamou nem citou Leoni como um dos co-autores da música. Fez-se a confusão. Para Leoni aquilo foi a gota d'água: ele e Paula (que tomou o partido de Léo) começaram a discutir, ela gritou, ele a segurou, ela disse “me larga, me larga”, e quando ele largou… O pandeiro que estava na mão da Paula foi direto na cabeça dele. Herbert e Fabiana estavam presentes e, na briga, do lado dos então respectivos pares, claro.

Recentemente rolou uma live com Aquiles Priester e Gilson Naspolini mais os ex-bateristas do Kid Abelha Kadu Menezes, Cláudio Infante e Adal Fonseca (a banda terminou em 2016). Menezes contou que chegou no local da confusão minutos depois dessa pandeirada. Diz que Paula e Fabiana estavam berrando.

Ah, e uma curiosidade: Seu Espião e Por Que Não Eu?, dois dos maiores sucessos do primeiro disco de 1984 do Kid, são de autoria de Leoni, Paula e Herbert! Que trio…

Segundo Herbert, Paula e ele passaram a noite pós-show em claro, com todo mundo (menos Leoni e Fabiana, óbvio) reunido no apartamento que eles dividiam. A pauta: o Kid Abelha continuaria sem o seu principal compositor? Sim, porque Leoni decidiu sair!
(No dia seguinte, dizem que tinha foto de Leoni no Segundo Caderno com esparadrapo na cabeça. Não achei – se alguém achar me manda?)

Paula, George e Bruno Fortunato acabaram decidindo seguir em frente e soltaram um álbum ao vivo gravado em setembro de 1986 em São Paulo, ainda recheado de canções de co-autoria de Leoni (a única que não tem o dedo dele é Nada Por Mim, de Herbert e Paula, lançada antes por Marina Lima). Em 1987 viria o disco Tomate, com hits como Amanhã é 23 e No Meio da Rua (ambas de Paula e George).

E o relacionamento de Herbert e Paula? A sequência da história é complexa. Ele fala em traição, sem citar nomes. Ela, em entrevista para a revista Trip em 2009, diz: “A gente ficou dois anos no máximo, e o ano da separação, que é um outro ano de vai e volta, sabe? Bem complicado...”. A verdade é que em 1987 ela casou com o cineasta Lui Faria – e segue com ele até hoje.

Herbert ficou arrasado na época. Teoricamente, alguns clássicos do Paralamas saíram desse coração quebrado. A gente imagina, por exemplo, que Uns Dias e Quase Um Segundo são para Paula Toller.

“Eu nem te falei
Que eu te procurei
Pra me confessar
Eu chorava de amor
E não porque sofria
Mas você chegou já era dia
E não estava sozinha
Eu tive fora uns dias
Eu te odiei uns dias
Eu quis te matar”
— Trecho da letra de Uns Dias, de Herbert Vianna

Hum, bem… contundente, né? Risos.
Em 1989, Herbert conheceria a mulher que ele considera o amor da sua vida até hoje: a inglesa Lucy. Mas isso é outra história.

Mas e o Leoni, hein?

A história de mais um hit maker

Eu sei, sou muito safado. Te prendi pela fofoca e de repente você está lendo a história de mais um hit maker brasileiro que na minha opinião ainda merece reconhecimento. Seu nome? Carlos Leoni!

Após sair da banda definitivamente naquela noite, Leoni partiu para outra. Mais especificamente para outra banda, onde de fato seria o líder. Era o Heróis da Resistência. O nome saiu de uma música que ele fez para Ney Matogrosso, e a primeira formação incluía Lulu Martin, Alfredo Dias Gomes (isso mesmo, o filho de Dias Gomes e Janete Clair, autores de novela highness!) e Jorge Shy. Em 1987, saía o primeiro álbum deles. Todas as músicas são do Leoni ou de co-autoria dele, incluindo o primeiro super hit, que ele divide com… Fabiana Kherlakian. Sim! Fabiana é co-autora de Só Pro Meu Prazer!!! Quando o disco foi lançado, eles já tinham se separado.

Outro sucesso do Heróis foi Doublê de Corpo. A parceria com o tecladista Martin também é do primeiro álbum e foi parar na trilha da novela O Outro. (Só pro Meu Prazer também era de novela – saiu na trilha de Hipertensão!)

Acho importante deixar claro aqui que, pra além de músico cantando e tocando em carreira solo ou em bandas, Leoni é compositor e sempre foi. Especializado em pop. Muita música boa, de ontem e hoje.
Para encurtar, vou deixar só uma listinha básica aqui.

. Cenas Obscenas (Yann Laouenan, Alec Haiat, Léo Jaime e Leoni), lançada pelo Metrô em 1985
. Exagerado (Cazuza, Ezequiel Neves e Leoni), lançada por Cazuza em 1985
. Diário de Mentiras (Leoni), lançado por Emilinha em 1986
. Dívidas de Amor (Leoni e Ney Matogrosso), lançada por Ney Matogrosso em 1986
. Pra Dizer Adeus (Wander Taffo, Ivan Busic, Andria Busic e Leoni), lançada por Wander Taffo em 1989
. SLA Radical Dance Disco Club (Leoni e Fernanda Abreu), lançada por Fernanda Abreu em 1990
. Clareiras (Leoni), lançada pelo 14 Bis em 1992
. Tudo Bem Com Você (Pepeu Gomes, Vinícius Cantuária e Leoni), lançada por Pepeu Gomes em 1993
. Diferenças (Leoni), lançada por Simony em 1995
. Glamour (Leoni e Luciana Fregolente), lançada por Thalma de Freitas em 1996
. Menos Carnaval (Leoni e Luciano Maurício), lançada pelas Sublimes em 1997 (e tem uma regravação mara da Belô Velloso de 2007)
. Melhor pra Mim (Leoni), lançada por Verônica Sabino em 1999
. Temporada das Flores (Leoni), lançada por Milena Monteiro em 2002 (e depois regravada em versão ao vivo por Daniela Mercury em 2003)
. Sempre por Querer (Alvin L, Leoni e Luciana Fregolente), lançada por LS Jack em 2004
. Três Dias de Ventania (Paulo Malaguti Pauleira e Leoni), lançada por Arranco de Varsóvia em 2005 (é um SAMBA! E é bem simpático!)
. Canção pra Quando Você Voltar (Leoni e Herbert Vianna), lançada por Leoni (com feat de Herbert) em 2005
. Fora de Lugar (Leoni e Herbert Vianna), lançada pelos Paralamas do Sucesso em 2005
. Soneto do Teu Corpo (Leoni e Moska), lançada por Mart'nália em 2006
. Intimidade Entre Estranhos (Roberto Frejat e Leoni), lançada por Frejat em 2008
. Melhor e Diferente (Thedy Corrêa e Leoni), lançada pelo Nenhum de Nós em 2011
. Sem Flores (Daniel Lopes e Leoni), lançada por Daniel Lopes em 2013
. Quem nos Dera (Leoni e Zélia Duncan), lançada pela Roberta Campos em 2018

O Heróis lançou mais dois álbuns e acabou em 1992. Leoni assumiu a carreira solo e em 1993 lançou um álbum que continha a More than Words nacional, a canção que disputa lugar entre as da Legião Urbana nas rodinhas de violão. O clássico que dá sequência a uma das mais clássicas canções do Kid Abelha, Garotos, lançada em 1985. É Garotos II - O Outro Lado:

Respect!

E da treta, o que restou? Bom, Leoni chegou a dividir apartamento com Léo Jaime depois disso tudo. Eles voltaram a compor juntos. Herbert, como vimos, cantou com Leoni – a música Canção pra Quando Você Voltar começou a ser feita por Leoni quando Herbert entrou em coma, pós-acidente no qual Lucy morreu.

Fabiana Kherlakian, por sua vez, foi pra outra turma. Depois de Leoni, com quem ainda fez mais algumas músicas do Heróis (Sujeito Oculto e Narciso, do segundo álbum deles Religio), ela teve um relacionamento com ninguém menos que Supla. E sim, compôs músicas com ele também! Entre as parcerias, está Sai pra Lá Vudu, com Andria e Ivan Busic, Eduardo Aradanuy e o próprio Supla.

Só pra te dar uma noção de tempo: Uma Escola Atrapalhada, o filme com Supla e Angélica, saiu em 1990. O disco com Sai pra Lá Vudu é de 1991.
Vou confessar um negócio pra vocês… Eu gosto desse disco do Supla. Gosto bastante.

(Fabiana sairia no noticiário com uma nova treta já no novo milênio, em 2006. Era o fim do seu casamento com o ator Marcos Pasquim, com quem tem uma filha, Allicia. Ele a traiu publicamente beijando uma figurante na festa de encerramento da novela Bang Bang.)

Bom, tudo vai bem entre todos depois do incidente no Estádio de Remo da Lagoa, ao que tudo indica, né?

Eba! Amigos forever!

Eba! Amigos forever!

Mas ATENÇÃO. Não tão rápido, meu bem.
Faltou alguém aí, você sabe.
Sim, ela. A mulher da pandeirola.
E a Paula Toller?

O que a gente sabe: em 2018, Paula processou o PT e Leoni pelo uso indevido de uma versão da música Pintura Íntima, que é de autoria dela e Leoni, nas eleições. O partido e o músico perderam e tiveram que pagar indenização. E chumbo trocado pode não doer, mas pesa no bolso – Leoni também entrou na justiça em 2020 para impedir Paula de usar o título Como Eu Quero, outra música dos dois, para batizar sua turnê.

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Paula, que conseguiu ser a mulher de maior destaque do BRock, front woman de uma banda longeva, foi ironicamente uma heroína da resistência. Mas nos anos 2000, ela vem sendo apontada como bolsonarista e de direita. Esse processo contra o PT só ajudou a alimentar tudo isso. Em entrevistas, ela diz que essa moda de cancelamento no seu caso é antiga, de antes de redes sociais – a imprensa sempre fez bullying com a sua pessoa.
Também aparecem cada vez mais comentários sobre o Kid Abelha ter acabado em 2016 porque queriam transformar Paula em diva solo – um roteiro velho e bem manjado. Só que acho importante ver os dois lados: será que o Kid Abelha não durou tempo demais? Será que não é natural que ela e os empresários realmente desejem uma carreira solo?
Longe de mim querer defender bolsonarista, mas sinto certo tom misógino nessa história. Ao mesmo tempo, fico achando que onde há fumaça (e como há fumaça, né?), há fogo.
Prefiro então me abster, sem tomar partido nessa treta toda. Meu time aqui é do pop bom, e isso essa longa trama tem de sobra.

Paula e Herbert quando ainda eram um casal e ela ainda era morena

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November 20, 2020 /Jorge Wakabara
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música, política
(Eu acho que é isso): Lolita Renaux, Alice Pink Pank, Julio Barroso, May East e Luiza Maria, as absurdettes originais com “o” cara no meio

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Quem são essas tais absurdettes?

November 13, 2020 by Jorge Wakabara in música, livro, TV

Essa história tem várias versões. As que sei vieram de:
. O livro Essa Tal de Gang 90 & Absurdettes, de Jorn Konijn
. O livro Dias de Luta: O rock e o Brasil dos anos 80, de Ricardo Alexandre
. O documentário Julio Barroso: Marginal Conservador que passou no canal BIS
. Vídeos do canal de YouTube Vitrola Verde de Cesar Gavin
. O livro 50 Anos a Mil, autobiografia do Lobão
. O livro BRock: o rock brasileiro dos anos 80, de Arthur Dapieve (esse eu considerei bem naquelas, uma vez que ele comete pelo menos duas gafes: coloca Taciana Barros e Alice Pink Pank na mesma formação, coisa que nunca aconteceu; e identifica Taciana como Alice na legenda de uma foto da Gang 90)

A Gang 90 apareceu um pouco antes da Blitz, foi lançada em disco um pouco depois, mas não conseguiu virar a potência que a Blitz virou porque tinha na sua essência uma natureza caótica, personificada por Júlio Barroso. As pessoas dizem que o Júlio possuía esse tipo de loucura que só os geniais têm. Acontece que as absurdettes (figuras-chave nesse grupo maleável no qual mudavam-se os músicos e mantinha-se, naquelas, uma comissão de frente com Júlio e elas) também eram caóticas, loucas e geniais.
Como Júlio se inspirou, entre outras referências, em Kid Creole and the Coconuts pra criar a sua própria banda, ele queria um nome que tivesse esse &. E gostava das Coconuts em si: curtia mulheres bonitas e achava que elas davam uma energia ainda mais anárquica no palco.

Assim como Kid Creole & the Coconuts, a Gang 90 tinha essa coisa artsy, bagunçada, um coletivo no qual qualquer um podia chegar… Uma gangue. Uma gangue onde cabiam 90 integrantes, ou mais. Uma gangue que olhava pro futuro, pra década seguinte, os anos 1990. E finalmente uma gangue que adorava a figura do velho guerreiro, o Chacrinha, e as suas chacretes. Absurdo?
Absurdettes, portanto.

Recorte da revista Manchete de 1983

Recorte da revista Manchete de 1983

Então vamos começar pela que ficou menos tempo na banda… Luiza Maria.

Luiza Maria, a que não mudou de nome

Diz a lenda, ou melhor, o livro de Jorn Konijin, que Júlio Barreto conheceu Luiza Maria como secretária de Nelson Motta. Luiza era a namorada de Guilherme Arantes (já separado da primeira mulher, Márcia) e eles tiveram um filho mais ou menos nessa época, o Gabriel. Depois eles ainda teriam mais dois, Pedro e Tiago.

Guilherme é o parceiro de Barroso na composição Perdidos na Selva, a primeira original a ser gravada pela Gang 90.
Sabendo dessa informação, a gente ouve Perdidos na Selva e fica chocado em perceber como a música é a cara do pop de Arantes, principalmente no refrão, né? Ou será que foi o pop de Arantes que virou isso a partir de Perdidos na Selva?

Nesse vídeo dá pra ver Luiza Maria no canto esquerdo, a quarta absurdette.
Na gravação de Perdidos, a Gang 90 ainda estava tão, er, perdida no quesito musicalidade que Arantes deu uma enorme mão pra deixar tudo minimalmente gravável. Inclusive ele canta junto com Barroso no refrão.
E por que o artista não foi creditado oficialmente como um dos compositores? Porque a música ia concorrer no Festival MPB Shell de 1981. E Planeta Água, de Arantes, também! O regulamento do festival só permitia a inscrição de uma música por compositor, então Arantes abriu mão de assinar Perdidos na Selva. Resultado: Planeta Água em segundo lugar (a ganhadora foi Purpurina com Lucinha Lins, vaiadíssima, um horror). Perdidos ficou pelo caminho, não chegou entre as primeiras posições.

E Luiza no grupo? É o famoso “tava ali dando sopa". Como Barreto amava arrebatar todo mundo para o palco para fazer aquela zona, deve ter sido levada pelo turbilhão. Mas também foi uma das primeiras a sair: antes mesmo da gravação do primeiro álbum, ela já estava fora (de acordo com o livro de Konijn).

Com a morte trágica e misteriosa de Júlio em 1984 (ele caiu ou se matou?) e o consequente baixo astral que eles acabaram conectando com São Paulo, Arantes e Luiza mudaram para o Rio. O casal se separou na primeira metade dos anos 1990.

Por onde anda Luiza Maria? Alguém sabe? Ela fez alguma coisa depois da Gang tipo canto ou composição? Pelo que entendi, nem chegou a ser entrevistada para o livro do Konijn.

Existe uma homônima, maravilhosa, a Luiza Maria que gravou Eu Queria ser um Anjo em 1975 e Tarântula em 1993. A voz certamente não corresponde à ex de Arantes, as histórias também não. Se for a mesma pessoa, por favor me avisem pra eu ficar chocadíssimo.

Lonita (ou Lolita) Renaux, a irmã

Ela era a irmã de Barroso, muito próxima dele. A mais fiel escudeira. Denise Barroso estava lá desde sempre.

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O primeiro compacto da Gang 90, o com Perdidos na Selva, tinha outra música do lado B. Lilik Lamê, a versão de Christine do Siouxsie and the Banshees por Júlio, Antonio Carlos Miguel e Katy, é cantada por Lonita Renaux. A música acabou não entrando no primeiro álbum.

Depois do irmão morrer, em 1984, Denise chegou a compor música. Ela é co-autora de duas faixas do álbum Declare Guerra do Barão Vermelho lançado em 1986, o primeiro sem o Cazuza na formação da banda. As músicas são Não Quero Seu Perdão com co-autoria de Júlio e Roberto Frejat e Maioridade com Frejat, Cazuza e Guto Goffi.

Imagino que ela tenha continuado fazendo parte dessa turma Baixo Gávea mesmo depois da partida de Júlio. Trabalhava para o onipresente Nelson Motta no Noites Cariocas, o projeto que rolava no Morro da Urca.

Em 1991, ainda como grande bastiã da memória do irmão, Denise organizou o livro A Vida Sexual do Selvagem, com textos, manuscritos, fotos e desenhos dele mais depoimentos de amigos. Está obviamente esgotado e os que você encontra por aí de segunda mão custam aquela nota.

Se você encontrar um por um preço OK, compre: é praticamente um investimento!

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Denise também já morreu em 1993, oficialmente de insuficiência renal. Em 2019, a irmã caçula deles, Andrea Barroso, falou abertamente ao jornal O Globo que Denise foi vítima da Aids. Quem soube, depois dela fazer exame, foi ela e o outro irmão, David, que é infectologista. Mas na época preferiram não divulgar essa causa mortis.

Denise tinha um marido, o jornalista Okky de Souza. Okky trabalhou nas revistas nacionais Pop e SomTrês. Segue como fonte de matérias sobre Júlio e a Gang 90, já que acompanhou tudo muito de perto. Não entendi se Okky foi com Denise para o Rio depois que Júlio morreu, porque ele sempre foi muito ligado à cidade (inclusive é coautor do livro São Paulo 450 Anos Luz: A Redescoberta de uma Cidade com Gilberto Dimenstein). Mas que eu saiba eles não se separaram, então não sei.

Menina morango, banana split lady, menina sorvete <3 Viva Denise!

May East, a loira

Maria Elisa Caparelli Neto era a videoartista do coletivo TVDO que namorava Nelson Motta e acabou entrando na Gang 90. A origem desse seu codinome May East tem versões: no livro de Konijn, fala-se da referência mais óbvia, May West, a atriz de Hollywood que era bem modernex nos anos 1930. Mas a própria May puxa para o fato de que ela ficava no East Side em NY aqui nesse vídeo do Vitrola Verde. Júlio ficava no West Side e achava muito cool ela morar no East Side, e a chamava de May East Side no começo, segundo ela mesma. Com o tempo, abreviou-se: apenas May East.

A ideia de cantar Lili Marleen no começo dos shows da Gang era na verdade de May, apesar das pessoas ligarem isso à Alice – as duas dividiam o número.

A versão aqui, com Marlene Dietrich, é em inglês – mas May diz que elas cantavam em alemão.

May decidiu sair da banda depois de uma viagem antológica que eles fizeram pelo nordeste do Brasil com shows, mais especificamente em Alagoas. Essa viagem ficou antológica porque, entre outras coisas, eles entalaram a kombi que levava banda e equipamentos no mar. Há controvérsias do que aconteceu a partir daí: May lembra deles fugirem porque a empresa de aluguel de veículos queria a kombi (ou o dinheiro). Outros dizem que conseguiram tirar a kombi de lá e devolvê-la. De qualquer forma, May saiu da Gang nessa bateria de shows pós-primeiro álbum, ainda antes da morte de Júlio.

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Uma curiosidade: May mudou o nome oficialmente para May East na sua identidade! Doido, né?

E em 1985 ela lançou seu primeiro disco solo, Remota Batucada.

Ela, que adorava esse lado antropofágico pós-tropicalista da Gang 90 (dá para perceber nas entrevistas), mergulhou ainda mais nesse Brasil profundo, buscando uma new wave ainda mais nativa. A música de trabalho do Remota Batucada chama-se Índio e foi composta por ela com Fernando Deluqui. No lançamento do álbum, acredito que ele e o tecladista Luis Schiavon, que também participou da gravação, já estavam bem envolvidos com o RPM.
(A última música do disco, Fire in the Jungle, também é parceria de May com Deluqui; fez parte da trilha do filme Areias Escaldantes de 1985, considerado o registro cinematográfico da cena BRock da época)
Aliás, Remota Batucada é praticamente um quem é quem de parte da new wave brasileira: tem Kodiak Bachine, da maravilhosa Agentss, na faixa Ideias de Brincar (composição dele); participação de Ted Gaz e Kid Vinil, da Magazine, na faixa Normal (composição de May); participação da Alice Pink Pank (a gente já fala disso nesse mesmo post, mais para frente). A divertidinha Night Club em Beirute é composição de Léo Jaime e Tavinho Paes (um dos poetas-letristas que circulavam nessa turma, Tavinho fez um monte de hit tipo Rádio Blá com Lobão e Arnaldo Brandão, Gata Todo Dia com o mesmo Léo e Marina Lima, e Sândalo de Dândi com Alec Haiat e Yann Laouenan, ambos do Metrô). Caim e Abel tem entre seus compositores Guilherme Isnard, do Zero (desconfio que a voz masculina na música também é dele) mais Alberto Birger, Nelson Coelho, Fabio Golfetti e Cláudio Souza (todos também do Zero e os dois últimos depois fizeram parte do Violetas de Outono).

E ainda tem Bumba Meu Boy, uma co-autoria de May com Nico Rezende – nada menos que o cara que fez Perigo, o megahit da Zizi Possi (entre várias outras canções). Bumba Meu Boy é uma tentativa de choro eletrônico, não curto muito não…

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May seguiu gravando mais álbuns. Mas o próximo, Tabapora, de 1987 (ou 1988? Varia de acordo com a fonte), já começa a namorar um som mais new age, mais world music. O de 1990, Charites, tem os dois pés nessa onda. Hoje May é diretora executiva da Gaia Education, uma ONG voltada para educação com foco em design ecossustentável.

Alice Pink Pank, a holandesa

Mito vivo do BRock. Reza a lenda que recentemente Alice Vermeulen estava muito tranquila na Holanda, de vez em quando recebendo ligações do Lobão e um dinheirinho de royalties. Aí o Konijn a localizou e assim conseguiu fazer o livro sobre a Gang. É uma das histórias mais doidas do rock nacional, mas ela nem tinha muita noção do legado que havia deixado aqui. E mesmo na época, a família dela e o pessoal da sua cidade, Tilburgo, não conseguiam entender que ela fazia parte de uma banda que dava shows gigantes, depois fez parte de outra banda que também era grande, participou de programas de auditório e até posou para a Playboy!

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Alice já tinha gravado com o U2 antes de chegar ao Brasil. Pois é, bizarro, e ela fala sobre o assunto como quem vai para a padaria. Mas enfim: o U2 ainda não era uma das maiores bandas do mundo. Na verdade, não era nada: a participação foi no primeiro álbum deles, lançado em 1980, o Boy, na última faixa, Shadows and Tall Trees. Ela faz o backing vocal, dá até para ouvir a voz de Alice bem claramente em algumas partes.

Como essa loucura aconteceu? Bom, ela estava viajando pela Europa, foi parar em Dublin e fez amizade com o U2. O empresário, Tim, e ela acabaram tendo um teretetê que não deu em nada. Gravou e pronto.

Depois, Alice encontrou a brasileira Rosana Pires Azanha, que também fazia uma viagem pela Europa na época. Ficaram amicíssimas. Rosana disse que a nova amiga devia visitá-la no Brasil. E Alice fez que fez que… foi.

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Já disseram por aí que o encontro de Alice com Júlio foi em NY ou no exterior, mas segundo a própria foi em São Paulo mesmo, no Paulicéia Desvairada, o clube noturno que tinha essa pegada new wave e contava com Júlio Barroso nas picapes. Ele, recém-chegado de NY, trazia discos de bandas novas, modernas. Rosana, descolada, levou a amiga turista para dançar lá. Da parte dele, ao que tudo indica, foi amor à primeira vista. Ela pediu pra ele tocar Psycho Killer do Talking Heads, ele a chamou para subir na cabine de DJ. Daí para levá-la para cama e chamá-la para uma banda que ainda nem existia (não necessariamente nessa ordem) foi um pulo.

May, Lonita, Alice (com a luva) e Júlio: a comissão de frente mais clássica da Gang 90

May, Lonita, Alice (com a luva) e Júlio: a comissão de frente mais clássica da Gang 90

May fala sempre que, das quatro absurdettes do começo, Alice era quem cantava melhor porque tinha um background (a participação no disco do U2). Acho que era mais talento nato, mesmo porque a experiência anterior dela foi muito pequena (a última faixa do disco de estreia do U2, que podia ter dado em nada).

Alice namorou Júlio por um tempo considerável. A origem do seu nome artístico é Liesel Pink-Pank.

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Liesel Pink-Pank

era uma bailarina alemã dos anos 1930. A própria Alice gostava do nome, gostava de dançar e escolheu a alcunha

Alice chegou a compor duas músicas do primeiro álbum da Gang 90 – na verdade foi a única absurdette a fazê-lo nessa estreia. Eram as menos conhecidas e nem por isso menos incríveis Românticos a Gô-gô e Jack Kerouac, ambas parcerias com Júlio.

Românticos a Gô-gô é tão neotropicalista que nem sei. A letra é um name dropping de nomes incríveis: de Cartola a Jimi Hendrix, de Brigitte Bardot a Pagu, de Yoko Ono a Marcel Duchamp, de Arto Lindsay a Vaslav Nijinsky. Uma delícia.

Já Jack Kerouac é bem spoken word.

Mas essas, na minha modesta opinião, nem são as melhores contribuições de Alice para a nossa música.

Nesse meio tempo, Júlio começou a beber mais e ficar violento com ela, como é narrado no livro de Konijn. E Alice, num show na Urca, conheceu um baterista que Júlio chamou na amizade para substituir Gigante Brazil, que não conseguiu chegar a tempo.
Era o Lobão, na época tocando na banda da Marina Lima e ex-Blitz (lembra que eu disse que a Blitz lançou disco antes da Gang?).
Ambos se apaixonaram. Ficaram.
De uma conversa entre Júlio e Lobão, na qual descobriram que ambos estavam apaixonados pelas mesmas mulheres (Alice e Marina), saiu a composição Noite e Dia.

Lobão também gravou. E Marina também, antes dele, no mesmo ano de 1982! Imagino que, se existe essa divisão na música, Alice seria a musa dos primeiros versos e Marina (por causa dos olhos negros) seria a musa da segunda parte.

Em 1983, saía Será Que o King Kong é Macaca?, composição de Toinho com Tavinho Paes, para o especial infantil de TV Plunct Plact Zum! E dá para ver Alice ali, entre as absurdettes. Não sei quando foi gravado, mas me parece que essa deve ter sido uma das últimas coisas que Alice fez com a banda.

Acabou que Alice saiu da Gang e da casa de Júlio – foi morar com o Lobão e acabou entrando para a banda que ele tinha na época e que atendia por Lobão e os Ronaldos. Júlio, enquanto isso, achou outra absurdette para manter o número de três mulheres no palco (calma que eu já conto essa parte!).
Nesse meio tempo, a holandesa fez uma participação num disco muito especial: a estreia de Léo Jaime.

Phodas "C” saiu em 1983 e Alice é a backing vocal que canta junto com ele em Ora Bolas!, a voz feminina mais destacada. Em teoria, May East também participou desse disco em outra música – no encarte, está creditada para Eu Vou. Mas o detalhe: não existe música chamada Eu Vou nesse álbum. Entendeu? Nem eu.
(May namorou Jaime nessa época)

Bom, então vamos para Ronaldo Foi pra Guerra, o disco do Lobão e os Ronaldos que não só traz Alice nos vocais e teclados mas também como compositora.

Um clássico do BRock direto de 1984, Ronaldo Foi pra Guerra é bem perfeitinho. Quem só conhece os maiores hits devia dar uma revisitada nele, vale a pena. As músicas das quais Alice participou da composição são as ótimas Tô à Toa Tokio (com Lobão), Abalado (idem), a minha preferida Bambina (com Lobão, o baterista dos Ronaldos Baster Barros e o poeta-letrista Bernardo Vilhena) e Inteligenzia (com Vilhena).

Pelo que entendi, a versão de Alice para a saída dela dos Ronaldos é que Lobão arrumou outra mulher (Daniele Daumerie, prima dele que posou nua na capa do primeiro disco solo do Lobão, O Rock Errou, de 1986). A versão dele é que ela entrou numas de se lançar em carreira solo. Enfim!

E lembra que em 1985 a May East lançou seu primeiro disco solo? Falei que tinha participação especial de Alice nele, né? Era na faixa Maraka.

Maraka é meio protoaxé, fala de Oxum numa pegada de toque das religiões de matriz afro. Eu adoro! O mais esquisito: só May aparece no clipe. Cadê Alice? Só a voz…

Bom, talvez Alice estivesse ocupada tentando armar a própria carreira solo.

Amo essa música. DE VERDADE.
E olha a surpresa: os compositores, além da própria Alice, eram Leoni e Liminha.

O compacto contou com Baby Love de lado A e 24 Frames Per Second do lado B. 24 Frames é de Alice com Guto Barros (dos Ronaldos) e… Isabella. Não sei quem é Isabella!

O compacto contou com Baby Love de lado A e 24 Frames Per Second do lado B. 24 Frames é de Alice com Guto Barros (dos Ronaldos) e… Isabella. Não sei quem é Isabella!

Foi Liminha quem produziu o compacto de Alice. Mas quando eu digo que é uma surpresa ver Leoni entre os compositores, é porque o compacto saiu pela mesma gravadora da banda de Leoni na época, Kid Abelha e os Abóboras Selvagens. O Kid lançou, em 1985, o disco repleto de hits Educação Sentimental. E diz a história extraoficial que a gravadora preferiu focar no Kid, que tinha Paula Toller à frente, do que em Alice Pink Pank. Morria aí a carreira solo dela.
(E aí rolaria aquela história bizarra do Leoni brigando com o Léo Jaime no palco e a ex-namorada, Paula, e o Herbert Vianna, então atual namorado dela, se metendo no meio, e aí a filha do fundador da Zoomp… Vish, isso é assunto para outro post, né?)

Alice acabou cansando de esperar que alguém lhe desse mais alguma chance e voltou para a Europa. Mas antes… Sim, ela deixou mais uma música para o pop nacional.

É muito doido quando as histórias se cruzam. Lembra que eu falei da Emilinha aqui? Lembra que ela fez parte do Afrodite se Quiser? Pois é.

Talk Tales, do primeiro álbum delas, é de Alice com uma pá de gente: Paulo Sauer, Luis Casé, Sérgio Santos, Pedro Brandão, Isabela Lago, Flávia C e Claudia Niemeyer (que já foi da Blitz e da Gang 90). Soa como algo da Blitz, aliás.

Alice ainda tentou seguir carreira artística na Holanda mas essa história não rendeu. Virou um capítulo dos mais interessantes da história do BRock, apesar de desconhecida na sua terra natal (e hoje, no Brasil, também quase esquecida).

Taciana Barros, a resistência

Parte da formação da Gang 90 pós-lançamento do primeiro álbum: Júlio Barroso, May East, Taciana Barros, Lonita Renaux e Herman Torres

Parte da formação da Gang 90 pós-lançamento do primeiro álbum: Júlio Barroso, May East, Taciana Barros, Lonita Renaux e Herman Torres

Taciana tocava numa banda de garotas em Santos, litoral de SP, quando Júlio a viu. Não fica claro nas histórias orais que a gente ouve se nessa época Alice já tinha saído ou estava para sair da Gang 90, mas o convite rolou ali no meio de um show, com Taciana no palco e Júlio na plateia, gritando "passa seu telefone".
A gente não sabe se ele ligou 3 horas da manhã com um papo poesia, mas logo Taciana era uma das absurdettes no lugar de Alice. De cabelo curto (como Alice) e roupas moderninhas (idem), ela é tratada como “a substituta" até hoje, por mais que já tenha provado pelo resto da carreira que é muito mais que isso.
Mas algo que pode ter colaborado para essa visão do povo é o fato dela ter participado do clipe de Telefone dublando, mesmo não tendo gravado a música.

(E repare que estranho: Lonita não aparece aqui)

Quando Júlio morreu, em 1984, ele e Taciana estavam num estágio de composição avançado do segundo álbum da Gang. May já tinha saído, Herman Torres pelo que entendi também, Lonita não sei. Taciana decidiu levar a coisa para frente. A Gang 90 continuaria sem o seu nome principal, Júlio Barroso, e cortava o “absurdettes". Agora era uma absurdette que virava líder e o disco Rosas & Tigres saiu em 1985. Entre as composições, tem um monte de música com co-autoria de Júlio (9 das 11). E também um monte da Taciana (8 das 11).

Rosas e Tigres, a primeira faixa, é a música que o povo fala que Júlio estava empolgado a respeito, antes chamada Kamikaze Coração. A voz principal virou da Taciana. De Júlio, Taciana e Roberto Firmino (que fazia parte dessa nova formação), é ótima. Entrou para a trilha sonora da Armação Ilimitada. Mas não "aconteceu" nas paradas, assim como o resto do álbum.

Sexismo? Não sei, porque Paula Toller era a voz do Kid Abelha e tudo bem ela fazer sucesso, né? Será que duas já eram demais?

Curiosidade: em 2015, o disco de Filipe Catto Tomada trouxe uma gravação de Do Fundo do Coração, música de Taciana e Júlio, a última desse álbum Rosas & Tigres. Adoro demais a original, e esse remake é legal também.

Pedra 90, que saiu em 1987, é o terceiro e derradeiro disco da Gang, ainda com Taciana à frente. Dessa vez, só uma música contava com Júlio Barroso na autoria (Junk Favela). E, no lugar de Roberto Firmino, quem assume a composição de várias músicas aqui é Gilvan Gomes (5 das 8).

A curiosidade é que tem dois ícones do BRock escondidos aqui entre os compositores, ambos em parcerias com Taciana. Arnaldo Antunes, na época parte dos Titãs, é co-autor em Vida Dura. E Edgard Scandurra, do Ira!, é co-autor de Coração de Alguém.
Edgard foi casado com Taciana e lá pelo fim dos anos 1980 tiveram um filho, Daniel. No verso do álbum Amigos Invisíveis, o primeiro trabalho solo do Scandurra (saiu em 1989), tem uma foto do Daniel.

amigos-invisiveis-verso-edgard-scandurra.png

A música Bem Vindo Daniel é em homenagem ao bebê. Taciana é co-autora de Abraços e Brigas, Culto de Amor e Vou me Entregar Como Nunca.

Em 1989 apareceu a banda Solano Star – o nome é uma homenagem ao navio Solana Star, que estava traficando latas de maconha em direção de Miami em 1987. Ao descobrirem que o barco estava sendo procurado, a tripulação jogou as latas no mar… e eles estavam perto do litoral do Rio. Resultado: surgia o que ficou conhecido como verão da lata, de 1987-88, com o povo achando latas na praia e arrasando, se é que me entendes.
Faziam parte da Solano Star: Taciana nos vocais e Scandurra na guitarra, mais um povo. Gosto BASTANTE de Uma Vez Mais:

Não sei quando a Solano Star terminou, só tenho essa referência de data desse clipe: 1990.
No repertório da banda também tem Isadora, uma música feita por Taciana baseada em longas conversas entre ela e Andréa de Maio, personagem clássico da noite paulistana. Isadora é sobre travestis.

Também não sei exatamente quando começou o relacionamento de Taciana com Mitar Subotic, o Suba.

Suba, iugoslavo, veio para o Brasil na época do Collor com uma bolsa para estudar bossa nova. Acabou virando um dos responsáveis por divulgar o casamento entre a música brasileira e a eletrônica, trabalhando com gente como Marina Lima e Bebel Gilberto.
Suba e Taciana casaram, e dessa união saíram coisas maravilhosas. Em 1995, foi lançado o Janela dos Sonhos, primeiro e por enquanto único disco solo de Taciana.

Uma coisa interessante é que continuou (e continua) tudo em família: Scandurra participou desse álbum, por exemplo. E a primeira música, Qualquer Gesto, é uma nova versão para Qualquer Gesto do disco Rosas & Tigres, o segundo da Gang 90, composição de Taciana com Júlio Barroso e Roberto Firmino. E é muito boa!!!

O álbum solo do próprio Suba, São Paulo Confessions, saiu em 1999 e trazia a participação de algumas vocalistas – entre elas, Taciana em Você Gosta, composição dele, dela e de Marcelo Rubens Paiva.

É interessante porque essa neo bossa, ou seja, mistura da eletrônica com bossa nova, samba jazz e congêneres, estava pelo mundo (vide meu post sobre Shibuya-kei) nos anos 1990. Com Suba no Brasil, ela chegou no seu ponto mais burilado, mais refinado. O auge.

Suba morreu num incêndio no mesmo ano de lançamento desse disco, 1999. Seguia casado com Taciana mas eles já estavam morando separados.

Imagina que loucura para ela? Júlio, depois Suba.

Em 2008, surgia o projeto que provavelmente foi o mais bem sucedido comercialmente de Taciana. Era o Pequeno Cidadão, de música infantil, ao lado dos comparsas Arnaldo Antunes, Antonio Pinto e mais uma vez Scandurra.
Pequeno Cidadão é MUITO LEGAL. E não precisa ser criança para gostar! Eu juro!

E assim termina – por enquanto – a história das absurdettes.
Todas maravilhosas.
Obrigado para elas. <3

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November 13, 2020 /Jorge Wakabara
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Pra você é Dr. Dalto

November 07, 2020 by Jorge Wakabara in música

Minha cara, pra que tantos planos?
Dalto, pra quem não sabe, é médico anestesista mas deixou de praticar a profissão quando resolver seguir a carreira de cantor e músico. Ele é filho de compositor – seu pai, o poeta Dalton Medeiros, fez Canção do Nosso Amor com Silveira, que foi gravada por bastante gente.

Mas Dalto foi por outro lugar. Nos primórdios, ele fazia parte da banda Os Lobos. Por si só, já acho a banda em si muito legal. Fanny, uma das primeiras músicas lançadas por eles (do primeiro compacto, de 1968), já é de Dalto e Cláudio Rabello, a dupla que seguiria trabalhando junta, um clássico apagado da história do pop brasileiro.

Mas o que quero mesmo é saber do lado hit maker de Dalto (quase sempre com Rabello). Então vou mostrar aqui algumas músicas que ele fez: uma na inconfundível versão dele e outras com outros intérpretes. Vem!

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Flash-back, de 1971, com Cláudio Rabello e Ralph Guedes

A primeira versão saiu num compacto simples com o próprio, a primeira investida numa carreira solo de Dalto. Até vendeu bem, 50 mil cópias, mas ele não quis largar a faculdade de medicina que ainda cursava. Essa versão do Neguinho da Beija-Flor é irresistível, um pop quase pagode de 1995. Mas também tem a do Ira! do disco de covers da banda de 1999, Isso É Amor.

Morena, de 1973, com Cláudio Rabello

A primeira música desse disco de estreia da Simone, veja só, era de Dalto com Rabello! Mas ainda acho que ela tem um resquício muito forte de bossa nova e MPB, longíssimo do pop deles que consagraria hits. Sei que Carmen Costa regravou em 1980 mas não consegui achar a regravação pra linkar aqui. Nesse mesmo disco da Simone ainda tem Charada, uma das raras músicas de composição solo de Dalto, e Caminho do Sol, de Dalto e Mário Jorge.

Correção: Essas músicas não são do Dalto e sim de Daltony Nóbrega. Ele assinava, na época, domo Daltom ou Daltô. Por erro de digitação, saiu Dalto.
De qualquer forma, Simone já gravou Dalto: Muito Estranho nos anos 2000 e Leão Ferido em 1995.

Bem-Te-Vi, de 1981, com Cláudio Rabello

Quem lançou primeiro foi Renato Terra, no segundo álbum dele, o homônimo Renato Terra. Terra também é compositor e Bem-Te-Vi era a única do disco que não tinha dedo dele. Virou um sucesso: Chitãozinho & Xororó regravaram em 2014 em versão banquinho e violão numa dessas coletâneas; Leandro & Leonardo regravaram antes, em 1987; e também teve a versão de Yahoo em 1996. Acho um clima tão… Beto Guedes. Não?

Leão Ferido, de 1981, com Biafra

Queria que a Bethânia tivesse regravado, mas ainda não rolou – alô, Bethânia, grave essa música!
Foi lançada no terceiro álbum do Biafra, Despertar, de 1981. Essa música é TUDO, tanto que já foi regravada por Simone em 1995, versão chiquezona do álbum Simone Bittencourt de Oliveira – tá vendo, Bethânia, tô falando que é pra gravar, cara!
Biafra já tinha colocado a voz dele numa música de Dalto: Cigana, composição com Mentor, e Coração Vadio, parceria com o próprio Biafra. Ambas foram lançadas em 1980 no álbum homônimo Biafra. “Ciganaaa, me enganaaa"!

Vinho Antigo, de 1981, com Biafra

Outra da parceria entre Dalto e Biafra que saiu no disco Despertar de 1981, depois foi regravada por Célia nesse álbum de 2010 dela, O Lado Oculto das Canções. Já falei da Célia aqui no blog, eu adoro.
E sabe quem também já gravou, em 1982? Altemar Dutra, no disco Estranho Amor. <3
É bem abolerada, bem seresta de puteiro, ou seja: MARAVILHOSA.

Relax, de 1982, com Cláudio Rabello

É uma graça, e que eu saiba ninguém regravou, só existe a versão original de Dalto lançada no disco de 1982, Muito Estranho. Tem um coro bem popzinho, bem a cara do Dalto. Deixa a canção nascer bem antes do sol!

Muito Estranho (Cuida Bem de Mim), de 1982, com Cláudio Rabello

São tantas as versões que fiquei muito na dúvida sobre qual incluir aqui. Lançado originalmente em 1982 por Dalto, o superhit talvez seja a sua música mais famosa. Essa gravação da Martinha saiu em 1986. Também teve KLB em 2000; Roberta Miranda em 1994; Ângela Maria em 2011; Fábio Jr também em 2011; Simone em 2001; Nando Reis no disco Bailão do Ruivão (Ao Vivo) de 2001. Eita! Puro creme pop. Zuza Homem de Mello já disse que ela foi a música brasileira que passou mais tempo nas paradas. Não duvido – óbvio, não duvidaria do Zuza, né?! Um dos maiores jornalistas de música que o nosso país já teve, tá doido?
A minha versão preferida é a do próprio Dalto, com a da Simone logo depois e a do Fábio Jr (pois é!) em terceiro!

Brilho Novo, de 1982, com Cláudio Rabello, Robson Jorge, Lincoln Olivetti e Ronaldo

Escondida num álbum do grande Dudu França e com uma cara de Alpha FM maravilhosa (o arranjo é de um dos compositores, o mestre Lincoln Olivetti), essa música tem um refrão chicletão. É engraçado que nem Dalto regravou, só existe essa versão do França em registro fonográfico. Esse disco tem outras músicas de Dalto e Rabello, como Pernas pro Ar. Infelizmente não encontrei link pra mostrar!

Pessoa, de 1983, com Cláudio Rabello

Talvez seja a segunda música mais conhecida do Dalto hoje, justamente por causa dessa regravação de Marina Lima para o disco O Chamado de 1993. Marina encarnou a intérprete, pegou a canção e a fez eternamente sua – tanto que muita gente acha que é composição dela, mesmo! Dalto a lançou no seu segundo álbum, Pessoa, de 1983. E depois de Marina, nunca ninguém ousou regravar!

Espelhos d’Água, de 1983, com Cláudio Rabello

Essa versão da Patrícia Marx de 1994, do álbum Ficar Com Você, é POP NA VEIA, MERMÃO. Não tem como. É perfeita. Lançada primeiro pelo Dalto no disco Pessoa de 1983, é hit irresistível de karaokê e… de outros cantores, como Preta Gil em 2003, Beto Guedes em 1998 e… Frank Aguiar em 2007. Por que não, né?
Marx gravaria outra de Dalto em 1996, no álbum Quero Mais. É a música que dá título ao disco, composição dele com Nelson Motta.

Anjo, de 1983, com Cláudio Rabello e Renato Correa

Chega perto e diz…
Eu sei, se você tem uns 45 anos pra mais, você completou a frase automaticamente com ANJOOOO.
Sucesso da trilha sonora da novela Guerra dos Sexos na interpretação do Roupa Nova, teve versão da Deborah Blando no remake de Guerra dos Sexos de 2012 e também… a de Robinson Monteiro, que tinha o apelido de Anjo no programa Raul Gil. Sim, te lembrei disso. A dele é de 2001. De nada!

Veneno, de 1983, com Cláudio Rabello… versão em espanhol & inglês de Gretchen!

Sim. Tá passada?
Eu tô!
E o pior: agora que você sabe que é do Dalto e do Rabello, você vai ouvir e vai pensar… Não é que é, mesmo?

Onde é que a Gente Vai?, de 1984, com Cláudio Rabello

Música de novela e gravada apenas por Dalto no disco homônimo Dalto, de 1984 – fica a dica pros intérpretes kkkkk É meio safadinha, bonitinha, juro que acho que tem potencial de regravação.

Calor Humano, de 1986, com Ronaldo Bastos e Beto Guedes

Participação especial de Dalto no disco de Beto Guedes de 1986, Alma de Borracha, a música foi composta por Guedes, Dalto e Ronaldo Bastos. Dalto, que é de Niterói mas que eu sempre achei muito mineiro em sua musicalidade, faz aqui a ponte concreta pra Minas. Podia ter mais!

Maçãs de Vitrine, de 1986, com Cláudio Rabello

Você quer versatilidade? Toma. Cida Moreira cantando essa composição de Dalto e Cláudio Rabello com uma interpretação toda própria, tanto que nem parece algo da dupla! Pop oitentista, but make it cabaré bretchiano.

Extravios, de 1989, com Antonio Cícero

Sim, existe essa coisa chiquíssima: uma parceria de Dalto com o poeta Antonio Cícero, interpretada pela irmã de Cícero, Marina Lima.
Coro, sax e tudo. Saiu no Próxima Parada de 1989 e depois ainda teve versão de Léo Jaime no disco bem legal dele de 1995, Todo Amor. A versão do Léo Jaime é com violãozinho, ainda mais bonita que a da Marina, menos oitentista.
Marina ainda viraria parceira de Dalto e Rabello com Notícias, lançada por ela em 2001.

Não me Deixe Mal, de 1989, com Cláudio Rabello

É bem linda essa música, não sei porque não é mais conhecida. E eu amo o título desse álbum da Zizi Possi: Estrebucha Baby! É o título da primeira faixa do lado A, dos irmãos Garfunkel. Tudo, tipo prima da Não Vale a Pena gravada por Maria Rita.

De Volta pro Interior, de 2000, com Cláudio Rabello

Sim, José Augusto.
Sim, a música dá nome para o álbum que ele lançou em 2000, com músicas sertanejas tipo Beijinho Doce e No Rancho Fundo.
Sim, é a única gravação dessa música. E juro que acho boa!

Fecha a Porta, 2001, com Cláudio Rabello

Adoro – do mesmo disco que tem Mais Um Na Multidão, o hit de Erasmo Carlos com Marisa Monte. Essa do Erasmo é a primeira versão da música, romântica como quase tudo de Dalto. Depois teve uma versão da Gil Melândia (lembra??) de 2005, boa também, uma levada… samba-canção-reggae? No mesmo disco de 2005, Gil também gravaria Notícias, aquela que a gente já comentou, de Dalto, Rabello e Marina! Bem linda.

Um Tempo de Paixão, de 2001, com Cláudio Rabello

A musicalidade, a letra: tudo que marca a dupla Dalto e Rabello taí. Por que não fez sucesso? Não faço a menor ideia. Em 2001 isso já estava meio datado? Sei que é bom demais, ainda mais cantada por Daniela Mercury. Tudo!

Lição de Amor, de 2016, com Fernando Brant

Essa é toda especial: é a última composição com letra de Fernando Brant antes dele morrer, em 2015, segundo o próprio Dalto. E ganhou registro lindo na voz de Evinha, que digo e repito: é uma das maiores vozes vivas da nossa música. Melhor: só com o piano do marido dela, Gérard Gambus. Ficou ainda mais delicada sem os eventuais sintetizadores e saxofones que estamos acostumados a ouvir nas composições de Dalto. Linda, linda.

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November 07, 2020 /Jorge Wakabara
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