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A voz delas – na música: Veneno, Close, Rogéria, Valéria

January 17, 2021 by Jorge Wakabara in TV, música, cinema

Você já viu a série que todo mundo comenta mas que a HBO está bobeando em não trazer logo para o Brasil? Estou falando de Veneno, que conta a história real de Cristina Ortiz Rodríguez, mulher trans que virou uma celebridade pop na Espanha ao ganhar destaque na TV no programa Esta Noche Cruzamos el Mississipi.

Não é à toa que quem viu não para de falar dela. Mesmo quem não conhecia La Veneno fica vidrado – meu caso. A série acerta ao misturar a linha do tempo entre infância, adolescência e os picos da carreira dela com os anos 2000 e seu encontro com Valeria Vegas, uma jovem jornalista que começa a transicionar depois de conhecê-la ao vivo e que acabou escrevendo a biografia dela, ¡Digo! Ni puta ni santa. Las memorias de La Veneno, o livro que se transformou na série.

Outro acerto: todas as personagens trans são interpretadas por mulheres trans. Inclusive Cristina em si, que fora sua fase criança e adolescente, é encarnada por Jedet, Daniela Santiago e Isabel Torres. E uma curiosidade: a grande amiga de Veneno, Paca La Piraña, é interpretada pela própria!

Cristina infelizmente morreu em 2016, pouco tempo depois do livro de Valeria ser lançado.

Valeria Vegas e Cristina Ortiz Rodríguez no lançamento do livro

Valeria Vegas e Cristina Ortiz Rodríguez no lançamento do livro

Para quem gostou da série, a boa notícia que li por aí é que vai existir uma segunda temporada da série – isso se o meu espanhol funcionou e leu direito… Risos. E para quem gosta de música: assim como muitas pessoas que ficavam famosas na época, La Veneno acabou se aventurando como cantora. Gravou umas coisinhas.

Veneno pa tu Piel é o grande hit – um poperô malandro. Eu gosto. Também tem El Rap de la Veneno, com uma base bem chupada de Robin S., no Spotify:

É um pouco inevitável para o brasileiro fazer um paralelo entre Veneno e Roberta Close, apesar das mil diferenças: um pouco de época, muito de país e de discurso. Close era maliciosa mas não tão desbocada, que eu me lembre nunca falou de prostituição como a espanhola. Em torno de Roberta, a curiosidade girava no fato dela ser uma mulher belíssima – a fetichizaram, tornaram-na exótica. Saiu em fotos eróticas, virou mito sexual.

E virou música.

Aiai. Por onde começo?

Bom, era 1984. Foi boa a intenção, Erasmo Carlos, mas a música insiste em afirmar que tem algo “errado” com Roberta, que “não fosse o gogó e os pés, a minha lente tava na dela". Apesar de exaltar a beleza, bem… tudo errado.
Uns anos mais tarde, na mesma década, a própria Roberta Close gravou uma música de A. Lemos, Gabriel O’Meara (que já tinha feito coisas gravadas pelo próprio Erasmo e por Sandra de Sá, na época só Sandra Sá) e o Sergio Motta (que, apesar de estar nos créditos, imagino que só tenha produzido, pois era mais especialista nisso). Sou Assim é bem menos cancelável que a homenagem de Erasmo, além de ser charmosa, didática e muito pop:

roberta-close.jpg

Adoro esse monólogo no meio de Sou Assim: “É isso aí, esse é o meu recado. Eu sou assim, é, gatinho, vamos nessa, tá? Vem, vem chorar na rampa [raba? ramba? sei lá], eu e você! E eu amei, é, eu sou a gatinha, eu sou a gata, miau, miau, tá? Miau pra todos! Kisses, kisses, bye bye!"

Perfeita. Miau pra todos!

Mas que tal voltar ainda mais pra trás? Ou, se preferirem, vamos pra frente, para 2016, quando foi lançado o Divinas Divas.

Esse documentário dirigido pela Leandra Leal é estonteante e necessário. Ao contrário de outras diretoras que se inserem no contexto do seu doc de uma maneira um tantinho forçada (ops, falei), Leandra herdou o Teatro Rival e parte desse fio de narrativa. O Rival foi palco de teatro de revista com as artistas trans daquela época, em que ninguém chamava de trans e todo mundo chamava de travesti ou transformista. Esse local de alguma maneira se atreveu a ser um oásis de liberdade mesmo durante a ditadura militar. O filme então une esse grupo formado por essas artistas que fizeram parte daquele momento: Rogéria, Divina Valéria, Jane di Castro, Eloína dos Leopardos, Fujika de Halliday, Brigitte de Búzios, Marquesa e Kamille K.

Rogéria, a gente sabe, tem esse disco aqui:

Mas é tipo podcast kkkk Uma peça gravada. Não era música. Saiu em 1980.

De qualquer forma, Rogéria foi a mais pop de todas. Participou de novela da Globo, de filmes, se apresentou no Rival. Ela mesma dizia que era a travesti da família brasileira.

Mas hoje eu queria terminar falando de Divina Valéria.

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Divina Valéria segue firme e forte, amém, e sempre gostou de cantar, não tinha isso de dublar. Ela começou sua carreira em 1964 em boates do Rio. Em 1966 (ou 1964? ou talvez 1967? as datas variam), seria criado o espetáculo Les Girls, dirigido por Mário Meira Guimarães e com músicas e letras de João Roberto Kelly. Encenado na boate Sótão na Galeria Alaska (a Galeria do Amor da música do Agnaldo Timóteo, e sim, significa…), Les Girls trazia não só Divina Valéria como Rogéria, Marquesa… Foi um estouro. Todo mundo queria ver as travestis do espetáculo.
O que pouca gente sabe é que Les Girls também rendeu um compacto para Divina Valéria com as músicas que ela cantava no show. Já encontrei o compacto inteiro no YouTube mas ele sumiu – sobrou essa faixa com um medley de sambas, e só por ela, meu bem… Você vai entender porque eu quis falar disso:

Bom, pula o fato do artigo estar errado no título – é sempre A travesti, tá, amizades?
Mas veja bem. A sequência é de:
Ataulfo Alves com Paulo Gesta, Zé Keti, Newton Chaves, Vinícius de Moraes com Tom Jobim, Zé Keti de novo, Cartola, Monsueto, Luiz Reis com Heraldo Barbosa.
Chora no bom gosto, chora no talento.

Falando nele: Newton Chaves morreu de covid-19 faz algumas semanas. Uma tristeza.

Queria tanto esse disco.
Viva a Divina Valéria!

divina-valeria.jpg

E claro, viva Veneno, Roberta, Rogéria!

Bônus: Amanda Lepore também tem toda uma discografia, viu?

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January 17, 2021 /Jorge Wakabara
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TV, música, cinema
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Plastic Love: a música japonesa que o algoritmo do YouTube fez virar a tradução de pop perfection no mundo

December 07, 2020 by Jorge Wakabara in música

Descobri um pecado meu. Com todo esse tempo do blog, eu nunca falei sobre uma das minhas músicas preferidas da VIDA por aqui. Nem sobre sua autora e cantora, Mariya Tekeuchi. Nem sobre o marido dela, o também cantor Tatsuro Yamashita, que produziu a faixa. Nem sobre City Pop em si!
Na verdade, eu falei sobre Plastic Love lá no segundo episódio da primeira temporada do Quatrilho, programa do meu podcast!

Quem já ouviu já sabe de quase tudo que eu vou falar aqui. Quem não ouviu tem as duas opções: ouvir ou ler esse post! Vamos?

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Uma breve introdução: o que é City Pop?

Acho que eu também nunca expliquei essa evolução da música pop japonesa até chegar ao j-pop por aqui.

Teve uma hora, tipo anos 1970, que o pop com cara de folk apareceu no país. Mas ele ainda era meio de protesto. E também tinha a turma do rock adolescente, muito na onda do mítico show dos Beatles no Budokan em 30/06/1966. Muita banda surgiu dessa apresentação – um movimento que também pintou em vários lugares do ocidente como no próprio Brasil, com a Jovem Guarda.

Só que existia o mito que a língua japonesa não podia ser a do rock: era impossível de combinar. Rock tinha que ser em inglês. E também tinha a turma que olhava o rock como música alienada: bom mesmo era o folk mais cabeçudo. Ou o enka, estilo japonês de música que emula melodias tradicionais e temas nostálgicos com orquestração ocidentalizada.

E aí surgiu o Happy End, sobre o qual já falei aqui, que fazia uma espécie de folk rock – ou seja, era rock – em japonês. O Happy End não foi sucesso de vendas (ele só virou um hit depois, numa pegada cult). A banda faz parte da gênese do que se convencionou chamar por lá de new music: uma espécie de soft rock nipônico. Com o fim do Happy End (sem trocadilhos! kkkk), dois integrantes, Shigeru Suzuki e Haruomi Hosono, foram para a Tin Pan Alley com Masataka Matsutoya e Tatsuo Hayashi. Chegaram a gravar discos sob esse título. Olha:

Mas antes de ser o Tin Pan Alley, esse mesmo grupo assinava como Caramel Mama. E fizeram a cozinha de nada menos que o disco de estreia de Yumi Arai.

Yuming (o apelido de Yumi Arai) é uma das peças-chave para entender a new music pois é um dos seus principais nomes. Depois de alguns álbuns, Yuming passou a assinar como Yumi Matsutoya porque casou com o Masataka, integrante da Tin Pan Alley. Ele produziu os álbuns dela e, assim, os dois formaram um dos pilares desse novo estilo que conquistava as paradas.

Da new music, apareceu outra coisa: o City Pop.
Em contraponto do enka e da tradição em geral mas também se afastando do folk e do rock, o City Pop era assumidamente comercial, amava sintetizadores e naipe de metais, e gostava muito de falar sobre elementos da vida urbana moderna: compras, carro, telefone, barzinho, boate…
Lembra algo? Algo que rolou no Brasil, mais especificamente?
Sim, estou falando dele mesmo e vou usá-lo para exemplificar.

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O inglês Ritchie fez no Brasil, guardadas as diferenças culturais, a mesma coisa que Anri, Taeko Ohnuki, Junko Ohashi, Eiichi Ohtaki, Tatsuro Yamashita e, claro, Mariya Takeuchi, entre tantos outros, fizeram no Japão.
O primeiro disco solo de Ritchie, Vôo de Coração, saiu em 1983 e era City Pop para japonês nenhum botar defeito. A segunda faixa, A Vida Tem Dessas Coisas, é sobre um ex-casal que fica preso no elevador. Apartamento, interfone, relacionamentos fugazes – tá tudo ali.

Vôo de Coração foi o disco que mais vendeu no seu ano de lançamento. Ultrapassou as vendas até de Roberto Carlos. Seu sucesso foi também sua sina: acabou considerado popular demais. De moderno, passou a ser encarado como brega. Ritchie, a figura mais bem sucedida do BRock, caiu em desuso em seguida.

E se a gente analisar agora, com distância, Ritchie realmente foi o precursor do som que caracterizou o neo-sertanejo do fim dos anos 1980 e começo dos anos 1990 – não só por ter sua Menina Veneno regravada por Zezé di Camargo & Luciano, mas porque o neo-sertanejo também tem um pouco de City Pop (POLÊMICAAAA!). O estilo deixa os temas rurais e parte para o romantismo cheio de sintetizadores: afoga as lágrimas num copo de cerveja, veste um paletó (com um fio de cabelo), usa o telefone (ligando para mim, não, não liga para ele – ou no toque do seu telefone… Você vai ver!)… O êxodo rural e a urbanização do Brasil ganhavam uma trilha sonora um tanto tardia, mas avassaladora em termos de vendas.

Digressão feita… Vamos para ela?

I know it's Plastic Love

Mariya Takeuchi na gravação do seu álbum Miss M, lançado em 1980

Mariya Takeuchi na gravação do seu álbum Miss M, lançado em 1980

Essa é uma história sobre o mistério que ronda o algoritmo.

Em 2017, alguém fez um upload da música Plastic Love, originalmente lançada em 1984, no YouTube. O usuário PlasticLover, que não existe mais, usou um remix mais longo da canção com uma imagem que na verdade não correspondia a ela: realmente era uma foto de Mariya Takeuchi, a cantora, mas a foto saiu na capa do single de outra música, Sweetest Music.

Era essa foto aqui que aparecia no vídeo de Plastic Love do YouTube

Era essa foto aqui que aparecia no vídeo de Plastic Love do YouTube

E aí, alguma coisa aconteceu com o algoritmo. Será que todo mundo que via esse meio sorriso, esse movimento jogando o cabelão e o nome do vídeo, Plastic Love, ficava tentado a clicar? E o YouTube foi entendendo que aquele vídeo era irresistível? Não sabemos o motivo real, mas essa publicação passou a aparecer entre os recomendados da coluna da direita (para quem usa desk) ou embaixo do vídeo (para mobile) para um monte de gente, do nada. Gente que nem ouvia música japonesa, que não tinha demonstrado o menor interesse pela cultura do Japão. E aí essa música ganhou mais de 22 milhões de views!!!

Plastic Love na verdade faz parte do álbum Variety, que Takeuchi lançou depois de uma pausa de 3 anos na carreira dela. Ele é o primeiro que traz apenas composições dela, e vendeu mais que os seus anteriores – ou seja, era um degrau rumo ao sucesso. Mas, na época, era só um degrau mesmo: a consagração de vender mais de um milhão de cópias viria apenas no disco seguinte, Request, de 1987.

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Tatsuro Yamashita, o produtor de Plastic Love que aparece creditado na capa do single, também era (e é) marido de Takeuchi. Eles se casaram em 1982, ou seja, no intervalo de 3 anos da carreira dela. Yamashita é considerado um dos principais nomes do City Pop: é o "rei" deles. Não só produz mas também tem um trabalho próprio.
Um dos seus principais álbuns é Spacy, de 1977, considerado precursor do City Pop que explodiu nos anos 1980.

E Plastic Love em si? Acho que o mistério em torno dela colaborou ainda mais para o sucesso tardio. Veio casada com o vaporwave, virou sua trilha sonora mais querida e despertou memes, fan art, vídeos ilustrados com cenas retrô de animes. E a Vice chegou a chamar a canção de melhor música pop do mundo.

Clique aqui para ler o artigo completo

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O mais instigante é que a música fala sobre a artificialidade das relações amorosas. A letra é em japonês, mas quando quem não entende japonês traduz (via Google Translator ou sei lá), fica ainda mais fissurado: o significado da mensagem ressoa nas relações de hoje. Pouco, ou nada, mudou.

“A letra conta a história de uma mulher que perdeu o homem que ela amava de verdade e, não importa quantos outros caras a procurem, ela não poderia afastar o sentimento de solidão que essa perda criou.”
— Mariya Takeuchi para o Japan Times

E por que o tal vídeo com tantas visualizações não está mais no ar? Você pode achar que foi a gravadora japonesa que derrubou, mas está errado. A resposta está em Alan Levenson… o fotógrafo da foto que virou um clássico tardio.

Contracapa do disco Miss M, de Mariya Takeuchi, lançado em 1980 – essa foto é de Alan Levenson, do mesmo ensaio de onde veio o clique do single Sweetest Music

Contracapa do disco Miss M, de Mariya Takeuchi, lançado em 1980 – essa foto é de Alan Levenson, do mesmo ensaio de onde veio o clique do single Sweetest Music

Levenson era assistente de um outro fotógrafo, que era o profissional que a gravadora queria que fizesse os cliques de Mariya em Hollywood para o Miss M de 1980. O valor que a gravadora ia pagar era muito baixo, o fotógrafo não quis e Levenson se ofereceu. Levou Mariya para um estúdio e pronto: estava feito o ensaio.

Ele não foi creditado no upload do vídeo do PlasticLover e ficou bolado. Pediu para o YouTube derrubar por uso indevido de imagem. Mas aí o estrago já estava feito: Plastic Love já era um sucesso tardio e a foto também.
Hoje existem vários uploads da mesma Plastic Love espalhados pela rede (inclusive usando a mesma foto!). A versão original ainda não subiu no Spotify até hoje – o que você encontra por lá são versões de outros artistas. Vou deixar aqui uma das minhas preferidas: a da Chai.

Como eu já disse, Mariya viraria uma superartista, vendendo pencas, em 1987. Plastic Love é meio desconhecida pela maior parte dos japoneses.
E isso é apenas uma parte infinitamente pequena do City Pop, um estilo de música japonês que virou cult… entre não-japoneses! Kkkkkkkkkkkkkkkk!

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December 07, 2020 /Jorge Wakabara
Mariya Takeuchi, City Pop, Tatsuro Yamashita, folk, pop, anos 1970, anos 1980, enka, memória afetiva, Happy End, new music, soft rock, Shigeru Suzuki, Haruomi Hosono, Tin Pan Alley, Masataka Matsutoya, Tatsuo Hayashi, Caramel Mama, Yumi Arai, Yuming, sintetizador, Ritchie, Japão, BRock, neo-sertanejo, sertanejo, Zezé di Camargo & Luciano, romantismo, êxodo rural, algoritmo, YouTube, vaporwave, meme, fan art, retrô, Alan Levenson, Chai
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A roqueira do Brasil... Bianca!

November 21, 2020 by Jorge Wakabara in música

Todo mundo sabe: mulher pioneira do rock brasileiro é Rita Lee. OK, teve a Jovem Guarda antes, com Wanderléa e outras. OK, foi Nora Ney a primeira brasileira a gravar um rock (era um cover de Rock Around the Clock em 1955). Mas é Rita quem leva a faixa de “a roqueira do Brasil".

Só que em 1979, quando a própria Rita ia deixando seu som cada vez mais pop com aquele disco que tem Mania de Você, Doce Vampiro e Chega Mais, aparecia uma menina mineira de 15 anos, Cleide Domingues Franco, empunhando uma guitarra. O rock rejuvenesceu. E ela já assumia um nome artístico sem sobrenome, coisa pra poucos. Era a Bianca.

Quem descobriu Bianca foi Cléo Galante, que por sua vez já tinha discos lançados nos anos 1970 e tinha uma carreira até então bem calcada em samba rock.

A lenda é que Cléo viu Bianca se apresentando como crooner de uma banda ainda na cidade natal dela, Ituiutaba, e a levou para São Paulo para apresentá-la para sua gravadora, a RGE. Dizem que o nome, invenção do produtor Reinaldo Barriga, era uma referência à Bianca Jagger, mulher do vocalista dos Rolling Stones.
Os Tempos Mudaram é composição de Cléo. O lado B do primeiro compacto, Vou pra Casa Rever Meus Pais, é uma versão para o português de A Little More Love do repertório de Olivia Newton-John – assinada também por Cléo.

As duas músicas são ÓTIMAS e o segundo compacto saiu em 1980.

É interessante que os temas das letras dessa primeira parte da carreira de Bianca sempre são ligados ao sentimento adolescente de inadequação, problemas de relacionamento e angústia. Tudo moldado para o público-alvo, sem disfarçar! A cantora fala bastante dos pais – em Sou Livre (Agora Chega), ela diz que o pai é muito ocupado, a mãe sempre observa o lado dele e ninguém vê que ela cresceu; em Vou pra Casa Rever os Meus Pais, eles estão no título, logo de cara. E em Minha Maneira (Não Suporto Mais), Bianca entoa no refrão: “Assim não dá pra ser / Eu quero namorar sem ter que aceitar e nem obedecer”, e diz que o cara é tão possessivo e mandão que está parecendo mais… o pai dela.

(Aliás, Minha Maneira é uma versão de She's in Love With You, o rockão de Suzi Quatro, uma melodia deliciosamente abbaística que também cai bem em Bianca)

Ainda em 1980, o primeiro álbum chega com a supercozinha de Os Carbonos e produção artística de Hélio Costa Manso. Minha Amiga, uma das músicas de trabalho, chega no programa Geração 80 da Globo.

Minha Amiga é uma versão da original de Jennifer Warnes I Know a Heartache When I See One.

O disco em si é recheado de surpresas:

A segunda faixa, por exemplo, Comentário a Respeito de John, é de Belchior com José Luis Penna! E começa com citação a Happiness is a Warm Gun! A música foi gravada primeiro por Belchior um pouco antes, em 1979. Bianca já havia citado, em entrevista, a admiração por Elis Regina (que gravou Como Nossos Pais de Belchior em interpretação antológica e, por que não dizer, roqueira em 1976). Pelo disco inteiro, dá para notar uns toques de Como Nossos Pais espalhados – deve ter sido algo muito marcante para Bianca, ou um modelo muito desejado pelo pessoal da gravadora. Ou os dois!
Igual a Vocês é versão de Going My Way do Tax Loss, e é a única do álbum que conta com letra da própria Bianca. Mais versão? Lembrando os Rapazes de Liverpool é I Only Want to Be With You – primeiro de Dusty Springfield em 1963 (!!!) e depois na versão que provavelmente inspirou a inclusão para o disco de Bianca, a de Bay City Rollers em 1976. Só que quem inspira a letra obviamente são os Beatles. Sintomático: tem John Lennon na letra de Belchior, tem Beatles em uma música que originalmente é dos anos 1960… Bianca tinha traços de futuro, mas era muito apegada ao passado.

Porém… mas porém…

E Oh Susie? Sim: new wave em pleno 1980, em um disco brasileiríssimo. É versão em português da música de mesmo nome do Secret Service! Tá passada? Eu tô! A versão ficou bem pop, na verdade, meio disco music. Mas pop do bom.
Mais surpreendente ainda: um blues do Gilliard. Isso mesmo que você leu. É Gilliard quem assina Tempos Difíceis com Washington.

Bom, sobra espaço até para mais disco music (Não Tenha Medo, de Cléo Galante). Esse rock era uma frente ampla, para usar uma expressão em voga atualmente…

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E depois? Pois é, o depois.

O compacto de Faz de Conta saiu em 1982.

Também da safra de Cléo, meio hedonista demais, menos angustiada (e nesse sentido menos roqueira). Agora, imagina essa musiquinha dizendo "Vamos viver em festa / faz de conta que o mundo está lindo” concorrendo no rádio com Evandro Mesquita dizendo “aí você finalmente encontra o broto”, mandando descer dois, descer mais chopes, e comentando que realmente queria que ela estivesse nua? A Blitz e o BRock chegaram para atropelar Bianca. Ela ficou datada demais, e não havia versão de Loredana Bertè que a salvasse:

Eu particularmente AMO Non Sono Una Signora, composição de Ivano Fossati, e gosto da versão de Bianca, que saiu em compacto em 1983, mas enquanto Bertè se derrama inteira na música, Bianca dá uma mergulhadinha com pouca dimensão. Compara aí:

Quando Bianca foi tentar uma volta de verdade, anos depois, revelou-se a verdade: ela deixou de ser roqueira. Era só chuva de verão. O disco A Volta, de 1993, é inteiro sertanejo, daquele tipo mais pop que tinha invadido o Brasil de Fernando Collor. Não deu certo, não repetiu as vendas de antes.

E aí? O que rolou com a Bianca?
Bom, prepare-se para entrar num terreno mais arenoso.

Quando uma artista assim, que fez tanto sucesso, simplesmente evapora, começam a surgir boatos. E eles costumeiramente são bem criativos. Os mais maldosos eram de que ela tinha morrido de overdose ou suicídio. Mas parece que não: dizem que ela virou vocalista de banda de forró (o Destak do Forró da cidade cearense de Piquet Carneiro).

Ela seria essa de roxo no vídeo, agora loira.
Tem quem acredite, tem quem não acredite.
O esquisito: até hoje ninguém teve a manha de ir até lá e entrevistá-la? Ou achá-la pela internet, que seja?

Então, até segunda ordem… Bianca segue sumida.

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. A ópera-forró Trilogia da Rapariga
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November 21, 2020 /Jorge Wakabara
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A formação clássica do Kid Abelha: Leoni, Bruno Fortunato, Paula Toller e George Israel

A formação clássica do Kid Abelha: Leoni, Bruno Fortunato, Paula Toller e George Israel

O incidente no Estádio de Remo da Lagoa

November 20, 2020 by Jorge Wakabara in música, política

No começo do BRock, quando as bandas começavam a despontar, algo aconteceu envolvendo dois destaques desse novo cenário de futuras celebridades. Era a Paula Toller, vocalista do Kid Abelha, e Herbert Vianna, uma das pontas do trio Paralamas do Sucesso. Paula ainda namorava e morava com Leoni, companheiro de banda, quando rolou um clima com Herbert e um beijo.

Paula e Leoni no palco

Paula e Leoni no palco

Acabou que Leoni saiu de casa e Herbert e Paula começaram a namorar, em meados de 1984. Acabaram morando juntos, mas o paralama diz que ela era muito competitiva e a banda dele, que na época era menor que o Kid (!!!), começou a crescer. E aí chegamos em 23 de fevereiro de 1986, o dia do Cidade Live Concert, um show organizado pela Rádio Cidade que rolou no Estádio de Remo da Lagoa, no Rio.

O clima da gravação do segundo álbum do Kid Abelha, o Educação Sentimental, lançado em maio de 1985, já tinha sido meio esquisito. Nessa época, Leoni já namorava com ninguém menos que Fabiana Kherlakian, ela mesma, a filha do fundador da Zoomp. Diz Herbert, segundo publicado no livro Os Paralamas do Sucesso: Vamo Batê Lata do Jamari França, que Fabiana instigava Leoni a ter mais atitude na dinâmica da banda, a impor uma necessidade de cantar mais (ou seja, dividir os microfones com Paula).

Todas as músicas do Kid lançadas até aquele momento eram co-autoria de Leoni com mais alguém, sendo que Ele Quer me Conquistar (1984), Os Outros e Educação Sentimental em si (ambas de 1985) são só dele. No segundo álbum, Leoni assume o vocal principal em Conspiração Internacional e Educação Sentimental – ambas boas, e pelo que entendo não muito bem trabalhadas nas rádios. Existe um compacto promocional de Educação Sentimental, mas será que ele foi realmente promovido?

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Voltando ao show: Léo Jaime foi um dos artistas que se apresentaram. Ele chamou Paula e George Israel, outro integrante do Kid, para cantar Fórmula do Amor, e não chamou nem citou Leoni como um dos co-autores da música. Fez-se a confusão. Para Leoni aquilo foi a gota d'água: ele e Paula (que tomou o partido de Léo) começaram a discutir, ela gritou, ele a segurou, ela disse “me larga, me larga”, e quando ele largou… O pandeiro que estava na mão da Paula foi direto na cabeça dele. Herbert e Fabiana estavam presentes e, na briga, do lado dos então respectivos pares, claro.

Recentemente rolou uma live com Aquiles Priester e Gilson Naspolini mais os ex-bateristas do Kid Abelha Kadu Menezes, Cláudio Infante e Adal Fonseca (a banda terminou em 2016). Menezes contou que chegou no local da confusão minutos depois dessa pandeirada. Diz que Paula e Fabiana estavam berrando.

Ah, e uma curiosidade: Seu Espião e Por Que Não Eu?, dois dos maiores sucessos do primeiro disco de 1984 do Kid, são de autoria de Leoni, Paula e Herbert! Que trio…

Segundo Herbert, Paula e ele passaram a noite pós-show em claro, com todo mundo (menos Leoni e Fabiana, óbvio) reunido no apartamento que eles dividiam. A pauta: o Kid Abelha continuaria sem o seu principal compositor? Sim, porque Leoni decidiu sair!
(No dia seguinte, dizem que tinha foto de Leoni no Segundo Caderno com esparadrapo na cabeça. Não achei – se alguém achar me manda?)

Paula, George e Bruno Fortunato acabaram decidindo seguir em frente e soltaram um álbum ao vivo gravado em setembro de 1986 em São Paulo, ainda recheado de canções de co-autoria de Leoni (a única que não tem o dedo dele é Nada Por Mim, de Herbert e Paula, lançada antes por Marina Lima). Em 1987 viria o disco Tomate, com hits como Amanhã é 23 e No Meio da Rua (ambas de Paula e George).

E o relacionamento de Herbert e Paula? A sequência da história é complexa. Ele fala em traição, sem citar nomes. Ela, em entrevista para a revista Trip em 2009, diz: “A gente ficou dois anos no máximo, e o ano da separação, que é um outro ano de vai e volta, sabe? Bem complicado...”. A verdade é que em 1987 ela casou com o cineasta Lui Faria – e segue com ele até hoje.

Herbert ficou arrasado na época. Teoricamente, alguns clássicos do Paralamas saíram desse coração quebrado. A gente imagina, por exemplo, que Uns Dias e Quase Um Segundo são para Paula Toller.

“Eu nem te falei
Que eu te procurei
Pra me confessar
Eu chorava de amor
E não porque sofria
Mas você chegou já era dia
E não estava sozinha
Eu tive fora uns dias
Eu te odiei uns dias
Eu quis te matar”
— Trecho da letra de Uns Dias, de Herbert Vianna

Hum, bem… contundente, né? Risos.
Em 1989, Herbert conheceria a mulher que ele considera o amor da sua vida até hoje: a inglesa Lucy. Mas isso é outra história.

Mas e o Leoni, hein?

A história de mais um hit maker

Eu sei, sou muito safado. Te prendi pela fofoca e de repente você está lendo a história de mais um hit maker brasileiro que na minha opinião ainda merece reconhecimento. Seu nome? Carlos Leoni!

Após sair da banda definitivamente naquela noite, Leoni partiu para outra. Mais especificamente para outra banda, onde de fato seria o líder. Era o Heróis da Resistência. O nome saiu de uma música que ele fez para Ney Matogrosso, e a primeira formação incluía Lulu Martin, Alfredo Dias Gomes (isso mesmo, o filho de Dias Gomes e Janete Clair, autores de novela highness!) e Jorge Shy. Em 1987, saía o primeiro álbum deles. Todas as músicas são do Leoni ou de co-autoria dele, incluindo o primeiro super hit, que ele divide com… Fabiana Kherlakian. Sim! Fabiana é co-autora de Só Pro Meu Prazer!!! Quando o disco foi lançado, eles já tinham se separado.

Outro sucesso do Heróis foi Doublê de Corpo. A parceria com o tecladista Martin também é do primeiro álbum e foi parar na trilha da novela O Outro. (Só pro Meu Prazer também era de novela – saiu na trilha de Hipertensão!)

Acho importante deixar claro aqui que, pra além de músico cantando e tocando em carreira solo ou em bandas, Leoni é compositor e sempre foi. Especializado em pop. Muita música boa, de ontem e hoje.
Para encurtar, vou deixar só uma listinha básica aqui.

. Cenas Obscenas (Yann Laouenan, Alec Haiat, Léo Jaime e Leoni), lançada pelo Metrô em 1985
. Exagerado (Cazuza, Ezequiel Neves e Leoni), lançada por Cazuza em 1985
. Diário de Mentiras (Leoni), lançado por Emilinha em 1986
. Dívidas de Amor (Leoni e Ney Matogrosso), lançada por Ney Matogrosso em 1986
. Pra Dizer Adeus (Wander Taffo, Ivan Busic, Andria Busic e Leoni), lançada por Wander Taffo em 1989
. SLA Radical Dance Disco Club (Leoni e Fernanda Abreu), lançada por Fernanda Abreu em 1990
. Clareiras (Leoni), lançada pelo 14 Bis em 1992
. Tudo Bem Com Você (Pepeu Gomes, Vinícius Cantuária e Leoni), lançada por Pepeu Gomes em 1993
. Diferenças (Leoni), lançada por Simony em 1995
. Glamour (Leoni e Luciana Fregolente), lançada por Thalma de Freitas em 1996
. Menos Carnaval (Leoni e Luciano Maurício), lançada pelas Sublimes em 1997 (e tem uma regravação mara da Belô Velloso de 2007)
. Melhor pra Mim (Leoni), lançada por Verônica Sabino em 1999
. Temporada das Flores (Leoni), lançada por Milena Monteiro em 2002 (e depois regravada em versão ao vivo por Daniela Mercury em 2003)
. Sempre por Querer (Alvin L, Leoni e Luciana Fregolente), lançada por LS Jack em 2004
. Três Dias de Ventania (Paulo Malaguti Pauleira e Leoni), lançada por Arranco de Varsóvia em 2005 (é um SAMBA! E é bem simpático!)
. Canção pra Quando Você Voltar (Leoni e Herbert Vianna), lançada por Leoni (com feat de Herbert) em 2005
. Fora de Lugar (Leoni e Herbert Vianna), lançada pelos Paralamas do Sucesso em 2005
. Soneto do Teu Corpo (Leoni e Moska), lançada por Mart'nália em 2006
. Intimidade Entre Estranhos (Roberto Frejat e Leoni), lançada por Frejat em 2008
. Melhor e Diferente (Thedy Corrêa e Leoni), lançada pelo Nenhum de Nós em 2011
. Sem Flores (Daniel Lopes e Leoni), lançada por Daniel Lopes em 2013
. Quem nos Dera (Leoni e Zélia Duncan), lançada pela Roberta Campos em 2018

O Heróis lançou mais dois álbuns e acabou em 1992. Leoni assumiu a carreira solo e em 1993 lançou um álbum que continha a More than Words nacional, a canção que disputa lugar entre as da Legião Urbana nas rodinhas de violão. O clássico que dá sequência a uma das mais clássicas canções do Kid Abelha, Garotos, lançada em 1985. É Garotos II - O Outro Lado:

Respect!

E da treta, o que restou? Bom, Leoni chegou a dividir apartamento com Léo Jaime depois disso tudo. Eles voltaram a compor juntos. Herbert, como vimos, cantou com Leoni – a música Canção pra Quando Você Voltar começou a ser feita por Leoni quando Herbert entrou em coma, pós-acidente no qual Lucy morreu.

Fabiana Kherlakian, por sua vez, foi pra outra turma. Depois de Leoni, com quem ainda fez mais algumas músicas do Heróis (Sujeito Oculto e Narciso, do segundo álbum deles Religio), ela teve um relacionamento com ninguém menos que Supla. E sim, compôs músicas com ele também! Entre as parcerias, está Sai pra Lá Vudu, com Andria e Ivan Busic, Eduardo Aradanuy e o próprio Supla.

Só pra te dar uma noção de tempo: Uma Escola Atrapalhada, o filme com Supla e Angélica, saiu em 1990. O disco com Sai pra Lá Vudu é de 1991.
Vou confessar um negócio pra vocês… Eu gosto desse disco do Supla. Gosto bastante.

(Fabiana sairia no noticiário com uma nova treta já no novo milênio, em 2006. Era o fim do seu casamento com o ator Marcos Pasquim, com quem tem uma filha, Allicia. Ele a traiu publicamente beijando uma figurante na festa de encerramento da novela Bang Bang.)

Bom, tudo vai bem entre todos depois do incidente no Estádio de Remo da Lagoa, ao que tudo indica, né?

Eba! Amigos forever!

Eba! Amigos forever!

Mas ATENÇÃO. Não tão rápido, meu bem.
Faltou alguém aí, você sabe.
Sim, ela. A mulher da pandeirola.
E a Paula Toller?

O que a gente sabe: em 2018, Paula processou o PT e Leoni pelo uso indevido de uma versão da música Pintura Íntima, que é de autoria dela e Leoni, nas eleições. O partido e o músico perderam e tiveram que pagar indenização. E chumbo trocado pode não doer, mas pesa no bolso – Leoni também entrou na justiça em 2020 para impedir Paula de usar o título Como Eu Quero, outra música dos dois, para batizar sua turnê.

paula-toller.jpg

Paula, que conseguiu ser a mulher de maior destaque do BRock, front woman de uma banda longeva, foi ironicamente uma heroína da resistência. Mas nos anos 2000, ela vem sendo apontada como bolsonarista e de direita. Esse processo contra o PT só ajudou a alimentar tudo isso. Em entrevistas, ela diz que essa moda de cancelamento no seu caso é antiga, de antes de redes sociais – a imprensa sempre fez bullying com a sua pessoa.
Também aparecem cada vez mais comentários sobre o Kid Abelha ter acabado em 2016 porque queriam transformar Paula em diva solo – um roteiro velho e bem manjado. Só que acho importante ver os dois lados: será que o Kid Abelha não durou tempo demais? Será que não é natural que ela e os empresários realmente desejem uma carreira solo?
Longe de mim querer defender bolsonarista, mas sinto certo tom misógino nessa história. Ao mesmo tempo, fico achando que onde há fumaça (e como há fumaça, né?), há fogo.
Prefiro então me abster, sem tomar partido nessa treta toda. Meu time aqui é do pop bom, e isso essa longa trama tem de sobra.

Paula e Herbert quando ainda eram um casal e ela ainda era morena

Paula e Herbert quando ainda eram um casal e ela ainda era morena

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November 20, 2020 /Jorge Wakabara
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Pra você é Dr. Dalto

November 07, 2020 by Jorge Wakabara in música

Minha cara, pra que tantos planos?
Dalto, pra quem não sabe, é médico anestesista mas deixou de praticar a profissão quando resolver seguir a carreira de cantor e músico. Ele é filho de compositor – seu pai, o poeta Dalton Medeiros, fez Canção do Nosso Amor com Silveira, que foi gravada por bastante gente.

Mas Dalto foi por outro lugar. Nos primórdios, ele fazia parte da banda Os Lobos. Por si só, já acho a banda em si muito legal. Fanny, uma das primeiras músicas lançadas por eles (do primeiro compacto, de 1968), já é de Dalto e Cláudio Rabello, a dupla que seguiria trabalhando junta, um clássico apagado da história do pop brasileiro.

Mas o que quero mesmo é saber do lado hit maker de Dalto (quase sempre com Rabello). Então vou mostrar aqui algumas músicas que ele fez: uma na inconfundível versão dele e outras com outros intérpretes. Vem!

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Flash-back, de 1971, com Cláudio Rabello e Ralph Guedes

A primeira versão saiu num compacto simples com o próprio, a primeira investida numa carreira solo de Dalto. Até vendeu bem, 50 mil cópias, mas ele não quis largar a faculdade de medicina que ainda cursava. Essa versão do Neguinho da Beija-Flor é irresistível, um pop quase pagode de 1995. Mas também tem a do Ira! do disco de covers da banda de 1999, Isso É Amor.

Morena, de 1973, com Cláudio Rabello

A primeira música desse disco de estreia da Simone, veja só, era de Dalto com Rabello! Mas ainda acho que ela tem um resquício muito forte de bossa nova e MPB, longíssimo do pop deles que consagraria hits. Sei que Carmen Costa regravou em 1980 mas não consegui achar a regravação pra linkar aqui. Nesse mesmo disco da Simone ainda tem Charada, uma das raras músicas de composição solo de Dalto, e Caminho do Sol, de Dalto e Mário Jorge.

Correção: Essas músicas não são do Dalto e sim de Daltony Nóbrega. Ele assinava, na época, domo Daltom ou Daltô. Por erro de digitação, saiu Dalto.
De qualquer forma, Simone já gravou Dalto: Muito Estranho nos anos 2000 e Leão Ferido em 1995.

Bem-Te-Vi, de 1981, com Cláudio Rabello

Quem lançou primeiro foi Renato Terra, no segundo álbum dele, o homônimo Renato Terra. Terra também é compositor e Bem-Te-Vi era a única do disco que não tinha dedo dele. Virou um sucesso: Chitãozinho & Xororó regravaram em 2014 em versão banquinho e violão numa dessas coletâneas; Leandro & Leonardo regravaram antes, em 1987; e também teve a versão de Yahoo em 1996. Acho um clima tão… Beto Guedes. Não?

Leão Ferido, de 1981, com Biafra

Queria que a Bethânia tivesse regravado, mas ainda não rolou – alô, Bethânia, grave essa música!
Foi lançada no terceiro álbum do Biafra, Despertar, de 1981. Essa música é TUDO, tanto que já foi regravada por Simone em 1995, versão chiquezona do álbum Simone Bittencourt de Oliveira – tá vendo, Bethânia, tô falando que é pra gravar, cara!
Biafra já tinha colocado a voz dele numa música de Dalto: Cigana, composição com Mentor, e Coração Vadio, parceria com o próprio Biafra. Ambas foram lançadas em 1980 no álbum homônimo Biafra. “Ciganaaa, me enganaaa"!

Vinho Antigo, de 1981, com Biafra

Outra da parceria entre Dalto e Biafra que saiu no disco Despertar de 1981, depois foi regravada por Célia nesse álbum de 2010 dela, O Lado Oculto das Canções. Já falei da Célia aqui no blog, eu adoro.
E sabe quem também já gravou, em 1982? Altemar Dutra, no disco Estranho Amor. <3
É bem abolerada, bem seresta de puteiro, ou seja: MARAVILHOSA.

Relax, de 1982, com Cláudio Rabello

É uma graça, e que eu saiba ninguém regravou, só existe a versão original de Dalto lançada no disco de 1982, Muito Estranho. Tem um coro bem popzinho, bem a cara do Dalto. Deixa a canção nascer bem antes do sol!

Muito Estranho (Cuida Bem de Mim), de 1982, com Cláudio Rabello

São tantas as versões que fiquei muito na dúvida sobre qual incluir aqui. Lançado originalmente em 1982 por Dalto, o superhit talvez seja a sua música mais famosa. Essa gravação da Martinha saiu em 1986. Também teve KLB em 2000; Roberta Miranda em 1994; Ângela Maria em 2011; Fábio Jr também em 2011; Simone em 2001; Nando Reis no disco Bailão do Ruivão (Ao Vivo) de 2001. Eita! Puro creme pop. Zuza Homem de Mello já disse que ela foi a música brasileira que passou mais tempo nas paradas. Não duvido – óbvio, não duvidaria do Zuza, né?! Um dos maiores jornalistas de música que o nosso país já teve, tá doido?
A minha versão preferida é a do próprio Dalto, com a da Simone logo depois e a do Fábio Jr (pois é!) em terceiro!

Brilho Novo, de 1982, com Cláudio Rabello, Robson Jorge, Lincoln Olivetti e Ronaldo

Escondida num álbum do grande Dudu França e com uma cara de Alpha FM maravilhosa (o arranjo é de um dos compositores, o mestre Lincoln Olivetti), essa música tem um refrão chicletão. É engraçado que nem Dalto regravou, só existe essa versão do França em registro fonográfico. Esse disco tem outras músicas de Dalto e Rabello, como Pernas pro Ar. Infelizmente não encontrei link pra mostrar!

Pessoa, de 1983, com Cláudio Rabello

Talvez seja a segunda música mais conhecida do Dalto hoje, justamente por causa dessa regravação de Marina Lima para o disco O Chamado de 1993. Marina encarnou a intérprete, pegou a canção e a fez eternamente sua – tanto que muita gente acha que é composição dela, mesmo! Dalto a lançou no seu segundo álbum, Pessoa, de 1983. E depois de Marina, nunca ninguém ousou regravar!

Espelhos d’Água, de 1983, com Cláudio Rabello

Essa versão da Patrícia Marx de 1994, do álbum Ficar Com Você, é POP NA VEIA, MERMÃO. Não tem como. É perfeita. Lançada primeiro pelo Dalto no disco Pessoa de 1983, é hit irresistível de karaokê e… de outros cantores, como Preta Gil em 2003, Beto Guedes em 1998 e… Frank Aguiar em 2007. Por que não, né?
Marx gravaria outra de Dalto em 1996, no álbum Quero Mais. É a música que dá título ao disco, composição dele com Nelson Motta.

Anjo, de 1983, com Cláudio Rabello e Renato Correa

Chega perto e diz…
Eu sei, se você tem uns 45 anos pra mais, você completou a frase automaticamente com ANJOOOO.
Sucesso da trilha sonora da novela Guerra dos Sexos na interpretação do Roupa Nova, teve versão da Deborah Blando no remake de Guerra dos Sexos de 2012 e também… a de Robinson Monteiro, que tinha o apelido de Anjo no programa Raul Gil. Sim, te lembrei disso. A dele é de 2001. De nada!

Veneno, de 1983, com Cláudio Rabello… versão em espanhol & inglês de Gretchen!

Sim. Tá passada?
Eu tô!
E o pior: agora que você sabe que é do Dalto e do Rabello, você vai ouvir e vai pensar… Não é que é, mesmo?

Onde é que a Gente Vai?, de 1984, com Cláudio Rabello

Música de novela e gravada apenas por Dalto no disco homônimo Dalto, de 1984 – fica a dica pros intérpretes kkkkk É meio safadinha, bonitinha, juro que acho que tem potencial de regravação.

Calor Humano, de 1986, com Ronaldo Bastos e Beto Guedes

Participação especial de Dalto no disco de Beto Guedes de 1986, Alma de Borracha, a música foi composta por Guedes, Dalto e Ronaldo Bastos. Dalto, que é de Niterói mas que eu sempre achei muito mineiro em sua musicalidade, faz aqui a ponte concreta pra Minas. Podia ter mais!

Maçãs de Vitrine, de 1986, com Cláudio Rabello

Você quer versatilidade? Toma. Cida Moreira cantando essa composição de Dalto e Cláudio Rabello com uma interpretação toda própria, tanto que nem parece algo da dupla! Pop oitentista, but make it cabaré bretchiano.

Extravios, de 1989, com Antonio Cícero

Sim, existe essa coisa chiquíssima: uma parceria de Dalto com o poeta Antonio Cícero, interpretada pela irmã de Cícero, Marina Lima.
Coro, sax e tudo. Saiu no Próxima Parada de 1989 e depois ainda teve versão de Léo Jaime no disco bem legal dele de 1995, Todo Amor. A versão do Léo Jaime é com violãozinho, ainda mais bonita que a da Marina, menos oitentista.
Marina ainda viraria parceira de Dalto e Rabello com Notícias, lançada por ela em 2001.

Não me Deixe Mal, de 1989, com Cláudio Rabello

É bem linda essa música, não sei porque não é mais conhecida. E eu amo o título desse álbum da Zizi Possi: Estrebucha Baby! É o título da primeira faixa do lado A, dos irmãos Garfunkel. Tudo, tipo prima da Não Vale a Pena gravada por Maria Rita.

De Volta pro Interior, de 2000, com Cláudio Rabello

Sim, José Augusto.
Sim, a música dá nome para o álbum que ele lançou em 2000, com músicas sertanejas tipo Beijinho Doce e No Rancho Fundo.
Sim, é a única gravação dessa música. E juro que acho boa!

Fecha a Porta, 2001, com Cláudio Rabello

Adoro – do mesmo disco que tem Mais Um Na Multidão, o hit de Erasmo Carlos com Marisa Monte. Essa do Erasmo é a primeira versão da música, romântica como quase tudo de Dalto. Depois teve uma versão da Gil Melândia (lembra??) de 2005, boa também, uma levada… samba-canção-reggae? No mesmo disco de 2005, Gil também gravaria Notícias, aquela que a gente já comentou, de Dalto, Rabello e Marina! Bem linda.

Um Tempo de Paixão, de 2001, com Cláudio Rabello

A musicalidade, a letra: tudo que marca a dupla Dalto e Rabello taí. Por que não fez sucesso? Não faço a menor ideia. Em 2001 isso já estava meio datado? Sei que é bom demais, ainda mais cantada por Daniela Mercury. Tudo!

Lição de Amor, de 2016, com Fernando Brant

Essa é toda especial: é a última composição com letra de Fernando Brant antes dele morrer, em 2015, segundo o próprio Dalto. E ganhou registro lindo na voz de Evinha, que digo e repito: é uma das maiores vozes vivas da nossa música. Melhor: só com o piano do marido dela, Gérard Gambus. Ficou ainda mais delicada sem os eventuais sintetizadores e saxofones que estamos acostumados a ouvir nas composições de Dalto. Linda, linda.

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November 07, 2020 /Jorge Wakabara
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